Joe Biden desistiu. Se Kamala Harris é a candidata, quem poderá ser "vice"?

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Eleições EUA 2024

22 jul, 2024 - 06:05 • João Pedro Quesado

A vice-presidente dos EUA é a única candidata declarada à nomeação do Partido Democrata para a Casa Branca. O partido ainda tem que definir um processo antes de chegar à convenção de Chicago, mas Harris já tem o apoio até dos hipotéticos rivais – que podem agora ser “companheiros de corrida”.

Três semanas depois, a pressão resultou. Joe Biden escolheu um domingo para anunciar a desistência da candidatura à reeleição para a Casa Branca, e rapidamente apoiou a vice-presidente, Kamala Harris – que começou imediatamente a receber o apoio de muitos Democratas eleitos. A eleição de 2024 para a presidência dos Estados Unidos da América (EUA) mudou, e Donald Trump passou a ser, de longe, o candidato mais velho, com 78 anos.

A transição entre candidaturas foi rápida. Cerca de três horas depois do anúncio, a campanha de Biden já tinha entregado os papéis para passar oficialmente de “Biden for President” a “Harris for President”. Kamala assume assim todos os fundos que a campanha tinha em contas bancárias - mais de 96 milhões de dólares, segundo a “Axios” – e, não menos importante, as estruturas locais de campanha nos vários estados dos EUA.

Biden desiste da candidatura à presidência dos EUA e apoia Kamala Harris

Harris ainda não é a nomeada do Partido Democrata. Apesar de improvável, não é impossível que surja outro candidato, e os líderes do Partido têm que decidir como vai decorrer o processo antes da convenção oficial de nomeação, que tem lugar entre 19 e 22 de agosto, em Chicago. O único rumor de oposição a Kamala Harris é, para já, sobre Joe Manchin, senador independentes que estará a ser motivado para voltar aos Democratas e tornar-se candidato presidencial.

De acordo com a “Axios”, alguns senadores Democratas querem um processo aberto, sem uma entronização prévia de Kamala Harris. E nomes importantes no partido, como Barack Obama, Bernie Sanders, Chuck Schumer, Hakeem Jeffries e Nancy Pelosi (que se acredita ter coordenado a pressão para Biden desistir), não apoiaram imediatamente Kamala Harris, focando a mensagem inicial no apoio à decisão de Joe Biden.

Mas não só a vice-presidente está a recolher apoios junto de vários governadores e líderes democratas, como as delegações estatais do Partido Democrata estão a orientar os delegados conquistados por Joe Biden para apoiar Kamala Harris. E sondagens recentes colocam a atual vice-presidente com vantagem sobre Trump em dois estados, Pensilvânia e Michigan, importantes no caminho de qualquer partido para conquistar a Casa Branca. Isto apesar de um índice de aprovação abaixo de 40%, segundo o site “FiveThirtyEight” - algo que se começa a tornar normal numa realidade política polarizada.

Kamala Harris diz que quer ser candidata e ganhar a Trump

Dois anos depois de surgirem as primeiras dúvidas sobre se Joe Biden devia recandidatar-se à Casa Branca, os Democratas deixam agora de ter dúvidas sobre a saúde do seu candidato. O partido vai agora poder embarcar na tradicional campanha intensa, pautada por vários comícios diários (habitualmente em estados diferentes) e entrevistas na rádio e televisão sempre que possível. Falta definir que nomes vão estar nos cartazes.

Quem pode acompanhar Kamala Harris na campanha democrata pela Casa Branca?

Josh Shapiro, governador da Pensilvânia

Com 51 anos, Josh Shapiro é um governador popular de um estado considerado chave para atingir a maioria no Colégio Eleitoral, e é respeitado no partido por ter vencido as eleições de 2022 com quase 15 pontos de vantagem sobre o candidato republicano.

Além do estado que representa, Shapiro é considerado um moderado, além de ser judeu – ajudando assim a equilibrar o que alguns podem considerar como uma inclinação mais à esquerda de Kamala Harris. E já declarou o apoio à atual vice-presidente.

Outro fator atrativo para os Democratas? Josh Shapiro tem o apoio de 35% dos votantes de Trump na Pensilvânia, de acordo com uma sondagem divulgada em maio. E é, numa sondagem a 15 mil eleitores de sete estados decisivos, é um dos Democratas com uma performance melhor que Biden por uma média de cinco pontos.

Gretchen Whitmer, governadora do Michigan

Com 52 anos, Gretchen Whitmer já indicou que não se candidataria a Presidente mesmo que Joe Biden se afastasse da campanha. Mas não falou sobre a vice-presidência, e ser uma mulher governadora de um estado que, tal como a Pensilvânia, é importante para chegar à Casa Branca, será certamente um fator a favor da sua escolha.

Whitmer venceu duas eleições para governadora com cerca de 10 pontos de vantagem contra os Republicanos, já tem perfil nacional – em 2020 foi a escolhida pelos Democratas para a resposta oficial ao discurso de Estado da União de Donald Trump – e tem experiência governativa reconhecida.

Além disso, Gretchen Whitmer também faz parte dos candidatos com cinco pontos de vantagem sobre Biden na sondagem de 15 mil eleitores em sete estados.

Mark Kelly, senador pelo Arizona

Com 60 anos, Mark Kelly certamente não será adversário de Kamala Harris numa hipotética luta pela nomeação democrata – porque já declarou que apoia a atual vice-presidente.

Ex-astronauta da NASA, Mark Kelly é marido da antiga congressista Gabrielle Giffords, vítima de uma tentativa de assassinato em 2011. Irmão gémeo do astronauta Scott Kelly, participou num estudo da NASA para perceber os efeitos de estadias de longo prazo no espaço.

Eleito pela primeira vez em 2020, numa eleição especial para ocupar o lugar deixado vago pela morte do republicano John McCain, foi reeleito em 2022. O Arizona faz parte do clube dos “swing states” apenas desde 2016, e as sondagens colocam atualmente Trump em vantagem.

Kelly é ainda outro dos candidatos com cinco pontos de vantagem sobre Biden na sondagem de 15 mil eleitores em sete estados.

Roy Cooper, governador da Carolina do Norte

Com 67 anos, Roy Cooper tem um apelo muito simples para os Democratas: venceu as eleições para governador do estado em 2016 e 2020, anos em que Donald Trump conquistou os 16 votos eleitorais da Carolina do Norte.

Capaz de colocar em jogo um estado em que os Democratas têm investido bastante nesta eleição, Roy Cooper já declarou que apoia Kamala Harris – que tem feito visitas frequentes à Carolina do Norte em 2024.

Tal como Harris na Califórnia, Cooper também foi procurador-geral na Carolina do Norte e, segundo a “CNN”, mantém uma boa relação de trabalho com a atual vice-presidente.

Andy Beshear, governador do Kentucky

Com 46 anos, Andy Beshear foi reeleito em 2023 num estado que os Republicanos vencem ininterruptamente desde 2000, com vantagens recentes perto dos 30 pontos percentuais.

Tipicamente, os Democratas apenas conseguem segurar cargos nestes estados ao abraçar posições tipicamente dos Republicanos – caso do senador Joe Manchin, da Virgínia Ocidental. Mas Beshear não é um desses casos, não se marginalizou do partido nacional e até fez campanha pelo direito de abortar.

Apesar de ter apelo junto de uma vasta coligação de eleitores, não se sabe se Beshear é atraente o suficiente para a tradicional base nacional do Partido Democrata. Ser do Kentucky, onde vivem apenas 4,5 milhões de americanos, não é o melhor fator para criar um perfil nacional.

J.B. Pritzker, governador do Illinois

Com 59 anos, J.B. Pritzker tem sido um dos principais apoiantes de Joe Biden, e vem de uma das famílias mais ricas dos EUA, dona dos hotéis Hyatt.

Financiador de longa data de campanhas dos Democratas, J.B. Pritzker tem aumentado o seu perfil nacional ao colocar-se como a antítese de governadores republicanos como Ron DeSantis, da Flórida, defendendo o direito ao aborto e o ensino público sobre os temas da descriminação racial, identidade de género e orientação sexual.

O dinheiro pode ser mesmo o fator mais atrativo de Pritzker, que tem uma fortuna estimada em 3,5 mil milhões de dólares.

Wes Moore, governador do Maryland

Com 45 anos, Wes Moore é o primeiro governador afro-americano do Maryland e visto como futuro candidato à Casa Branca. Esteve no Exército dos EUA, servindo na Guerra do Afeganistão, e escreveu uma tese sobre o crescimento do islamismo radical no Ocidente.

Moore, que esteve na Casa Branca durante a presidência de George W. Bush ao abrigo de um programa de bolsas, descreve-se como “conservador fiscal” e diz que tem em si “um pouco de Democrata” e “um pouco de Republicano”.

O estado que Wes Moore representa não faz dele uma escolha óbvia, nem sequer a reduzida experiência governativa. Mas as posições mais centristas podem ser vir de equilíbrio à perceção sobre Kamala Harris.

Gavin Newsom, governador da Califórnia

Com 56 anos, Gavin Newsom há muito que quer saltar para a política nacional dos Estados Unidos – basta olhar para um debate que o opôs a Ron DeSantis, no fim de 2023, e que aconteceu sem nenhuma outra razão aparente além da exposição mediática.

Newsom está no segundo e último mandato como governador do estado mais populoso dos EUA – e quinta maior economia do mundo. Em conjunto com o perfil nacional que já tem, são fatores a favor de ser candidato à Casa Branca, já tendo declarado o apoio a Kamala Harris.

Mas a Califórnia é um estado solidamente liberal, à esquerda da generalidade dos EUA, e onde os Democratas praticamente dominam. A facilidade de caricaturar Newsom como candidato inadequado e demasiado progressista a nível nacional joga contra o próprio.

Pete Buttigieg, secretário dos transportes

Com 42 anos, Pete Buttigieg tornou-se conhecido durante as primárias Democratas de 2020, em que quase venceu os estados do Iowa e New Hampshire, apesar de ser então presidente de uma cidade com pouco mais de 100 mil habitantes (South Bend, no Indiana).

“Mayor Pete” foi o primeiro homossexual a candidatar-se à presidência dos EUA, e integrou os serviços de informações da Marinha, começando a ganhar perfil nacional quando a campanha de 2020 chegou à fase dos debates televisivos. A capacidade de passar a mensagem continua a render elogios – uma recente crítica a J.D. Vance, o vice escolhido por Donald Trump, foi amplamente partilhada e louvada nas redes sociais.

Pete Buttigieg não conseguiu captar os eleitores afro-americanos em 2020, o que poderia voltar a ser um problema numa campanha nacional. A única coisa certa é que já declarou o apoio a Kamala Harris.

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