Lagarde recorda dias de natação para avisar França: “ou nadam ou afundam-se”

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Sem primeiro-ministro e sem Governo ainda, após as eleições legislativas antecipadas, e com algumas semanas para preparar o Orçamento do Estado, França está mergulhada numa onda de instabilidade política.

Compatriotas, compatriotas… negócios à parte. A cidadã gaulesa Christine Lagarde não se inibiu de deixar vários avisos a França durante a habitual conferência de imprensa do Banco Central Europeu (BCE).

E recorreu aos seus dias de glória na adolescência em que representou França na seleção nacional de natação sincronizada para deixar um recado a Paris.

“Nos meus dias antigos de natação sincronizada, o treinador costumava dizer, ‘tens uma escolha, ou nadas ou afundas-te. A diferença está em trabalhar no duro’. Há umas coisas da natação sincronizada que tenho muito claras na minha cabeça”, afirmou esta quinta-feira em conferência de imprensa, quando questionada por um jornalista gaulês sobre “o grande nevoeiro político sobre Paris”.

Sem primeiro-ministro e sem Governo ainda, após as eleições legislativas antecipadas, e com algumas semanas para preparar o Orçamento do Estado, Paris está mergulhada numa onda de instabilidade política.

O défice deverá recuar dos 5,5% para os 5,1% este ano, para recuar de novo para os 4,1% em 2025. Em 2027, deverá atingir 3% conforme a meta europeia, num país que já se encontra no procedimento por défice excessivo. Estas são as metas que estão no papel, resta saber o que vai acontecer no terreno.

No encontro, Christine Lagarde também foi questionada sobre o impacto das tarifas impostas pela Comissão Europeia aos automóveis chineses.

“Temos tido discussões internas sobre o risco resultante da segmentação e fragmentação e obviamente os aumentos de tarifas entram neste quadro. É particularmente importante dado que as exportações são um dos motores da recuperação, depois do consumo, que é o principal, conduzido pelo aumento do poder de compra, mas também o aumento do comércio em resultado das exportações da Europa para o resto do mundo. Esta é uma área em que vamos estar atentos às decisões políticas”.

Sobre a possibilidade de proceder ao segundo corte do ano em setembro, afirmou: “as projeções e todos os outros elementos que recebermos vão decidir o que vamos fazer em setembro, mas não existe um caminho pré-determinado. Isto é fortemente apoiado pelo Conselho”.

Antes, na conferência de imprensa, tinha deixado outro aviso a França.

“Existem um conjunto de regras que têm de ser implementadas e respeitadas”. O alerta a Paris, e aos incumpridores, foi deixado esta quinta-feira pela presidente do Banco Central Europeu (BCE) que pediu “disciplina orçamental”

Christine Lagarde foi questionada pelos países com grandes défices e fraca consolidação, se podem colocar em risco a estabilidade da zona euro.

Em resposta, a líder do BCE respondeu que as “políticas orçamentais nacionais e estruturais devem dirigir-se a tornar a economia mais produtiva e competitiva, que vão ajudar a aumentar o potencial de crescimento e a reduzir as pressões sobre os preços no médio prazo. Uma efetiva, acelerada e total implementação do Next Generation EU, progressos em direção à união do mercado de capitais e a conclusão da união bancária, e o reforço do mercado único são fatores essenciais que iriam ajudar a aumentar a inovação e a aumentar o investimento na transição digital e verde”.

Christine Lagarde também congratulou o apelo recente da Comissão Europeia aos Estados-membros para “reforçarem a sustentabilidade orçamental, e o comunicado do Eurogrupo sobre os orçamentos da zona euro em 2025. A implementação do quadro revisto de governança económica de forma total e sem atrasos vai ajudar os governos a acabar com os défices orçamentais e os rácios de dívida de forma sustentada”.

O Banco Central Europeu (BCE) manteve hoje as taxas de juro inalteradas, conforme já era esperado pelos mercados.

“O Conselho está determinada em garantir que a inflação regressa à meta de 2% no médio prazo de forma ordeira. Vai manter as taxas suficientemente restritivas durante o tempo que for necessário para atingir este objetivo. O Conselho vai continuar com uma abordagem dependente de dados e encontro a encontro para determinar o nível apropriado e a duração da restrição”, pode-se ler no comunicado.

As decisões de mais cortes serão avaliadas tendo em conta o outlook da inflação “à luz dos futuros dados financeiros e económicos, as dinâmicas da inflação subjacente e a força da transmissão da política monetária. O Conselho não está pré-comprometido com um roteiro particular de taxas”.

Os mercados descontam agora uma probabilidade de 80% de um segundo corte vir a ter lugar daqui a quase dois meses, com os mercados a darem como praticamente certo um terceiro corte em janeiro.

A inflação na zona euro ficou em 2,5% em junho, conforme era esperado, com a taxa homóloga a descer de 2,6% em maio para 2,5% em junho. Há um ano, a inflação homóloga atingia os 5,5%. Já o indicador core, que elimina as categorias mais voláteis como a energia e alimentação, manteve-se em linha com maio: 2,9%.

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