Todos os dias, há história para ser contada. No futebol, e por esse mundo fora, não é diferente. Da Polónia, trazemos várias linhas para contar... e em português. Desde 1995/96 que não acontecia: uma equipa polaca nos quartos-de-final de uma competição europeia. Legia Warszawa foi o último emblema a conseguir o feito, mas, apesar do empate sem golos na primeira mão, a derrota por 3-0 no segundo encontro da eliminatória frente ao Panathinaikos deitou as esperanças de chegar mais longe por terra. Volvidos 27 anos, nova glória na Polónia: o Lech Poznan. Fundado em 1922, o clube mudou várias vezes de denominação, mas há um nome que fica na memória: a alcunha de ferroviários, que ficou eternamente marcada, depois da estreita ligação do emblema à companhia de caminhos de ferros da Polónia durante mais de 60 anos. O Lech Poznan está nos quartos de final de uma competição europeia pela 1.ª vez na história
⚠Um clube 🇵🇱 nos quartos de final de uma prova europeia: não acontecia desde 1995/96 (Legia, na Champions) pic.twitter.com/CULfRMfxF1 Depois de seis campeonatos nacionais garantidos no seu palmarés, foi na época de 2010/11 que o Lech Poznan começou a dar nas vistas. Na Liga Europa, - mais tarde conquistada pelo FC Porto - os polacos conseguiram ficar em segundo lugar no Grupo A, eliminaram a Juventus da competição, nessa fase, e, ainda, conseguiram vencer o Manchester City por 3-1. Por muito desolador que tenha sido serem arredados da prova, depois de uma eliminatória emocionante frente ao SC Braga, já se sentia outra perceção sobre as equipas polacas. Podem não ser o clube mais titulado da Polónia, mas, quase 101 anos depois da fundação, fizeram história. Pela primeira vez, o Lech Poznan conseguiu alcançar os quartos-de-final de uma competição europeia. Caíram na primeira eliminatória da qualificação para a Liga dos Campeões, depois de uma dura, muito dura, segunda mão frente ao Qarabag, onde sofreram... cinco golos. O novo desafio? A qualificação para a Conference League. E foi cumprido com distinção. No Lech Poznan, tal como em qualquer aparente parte do mundo, há sempre um português pronto a contar uma história. De momento, são quatro «filhos da terra» a representar o cantinho ibérico: João Amaral, Pedro Rebocho, Afonso Sousa e Joel Pereira. O último esteve à conversa com o zerozero. Joel Pereira esteve à conversa com o zerozero @Getty / Joel Pereira atendeu à chamada com simpatia, feliz por poder ser voz ativa nesta partilha. O timing nem poderia ter sido melhor. No último fim de semana, o lateral direito, nascido em Vila Nova de Gaia, assistiu para o golo que deu a vitória aos ferroviários frente ao Widzew Lodz. Um passo importante para manter um lugar no pódio da Ekstraklasa. Com 26 anos, contou ao zerozero o porquê desta mudança para um sítio algo longínquo, mas que o faz feliz. «No final da época em que estive no Gil Vicente, surgiram algumas propostas e esta foi a que mais me atraiu. Sabia que era um clube que ia apostar tudo para ser campeão no seu centenário e atraiu-me, inegavelmente, pelo lado financeiro. O futebol surpreendeu-me pela positiva. Há, realmente, boas individualidades aqui, para não falar dos adeptos incríveis com adeptos fervorosos. Não é só correr e o jogo físico que muitos pensam.» Joel mostra-se mesmo feliz, durante a conversa, e a verdade é uma: o Lech Poznan foi mesmo campeão durante os festejos do seu centenário. Com um plantel composto por 20 jogadores polacos, quatro portugueses e os restantes… contam-se oito nacionalidades diferentes numa só equipa. Se existe alguma dificuldade? Joel Pereira defende que não, neste grupo poderoso. qA qualidade dos clubes, em termos de instalações para treino e jogo, é acima, em geral, do que vemos em Portugal Joel Pereira «Comunicamos em inglês. É difícil acreditar, mas temos um grupo incrivelmente bom e essa é uma das nossas grandes forças. A união que temos é inexplicável num plantel com tantas nacionalidades distintas», reagiu, ainda chocado com isso, apesar de já representar o Lech Poznan há duas temporadas consecutivas. «É uma liga boa, onde o jogo ainda se parte muito, mas que está, cada vez mais, a atrair melhores jogadores. A questão financeira ajuda, mas a qualidade dos clubes, em termos de instalações para treino e jogo, é acima, em geral, do que vemos em Portugal. O que atrai é, sem dúvida, o ambiente nos jogos e estádios. É incrível.» O jovem português confessou ao zerozero que os objetivos iniciais da equipa passavam pelas conquistas a nível interno. Na temporada passada, conseguiram alcançar o tão ambicionado campeonato no centenário e, na atual, chegaram aos quartos-de-final da Conference League. A última parte? Não estava assim tanto nos planos, mas aconteceu. «Estamos a escrever mais uma página na história deste clube e isso é incrível», afirmou. Lech Poznan O sonho. Essa feroz ambição de chegar a um patamar mais alto da concretização de um desejo. Joel garante que é algo que está sempre presente no quotidiano. O que se vive no balneário do Lech Poznan? O que o lateral mais nos disse. «É um sentimento muito bom e um ambiente incrível. Estamos a desfrutar da competição e vamos continuar a sonhar até onde nos deixarem.» Sente-se a emoção nas palavras de alguém que há tão pouco tempo ‘saiu’ de casa, mas se garante em casa. Portugal não lhe sai do pensamento, porém, neste momento, apenas espera para ver o que o futuro lhe reserva. «Lutar e sonhar por coisas melhores: é esse o meu objetivo e a minha carreira tem sido feita disso, nos últimos anos. E tem corrido bem.» Podemos dizer que tem corrido muito bem, Joel. Hoje, o lateral é um dos quatro portugueses a escrever mais parágrafo de história num clube em ascensão por essa Europa fora. Um sonho incrível que acabou de ser cumprido. E quem sabe se para por aqui? As respostas serão dadas frente à Fiorentina, mas, independentemente do desfecho, o orgulho nesta caminhada corre nas veias destes rapazes. Vão construindo história e realizando sonhos - o Lech Poznan acredita, mas os próximos desafios são duros @Przemyslaw Szyska/Lech PoznanUm centenário em crescimento
O trato português na Polónia
«A união que temos é inexplicável»
Chegar até aqui? «Estamos a escrever mais uma página na história»
25 títulos oficiais
Lech Poznan: a história europeia contada pelos portugueses que a vivem
