Leitão Amaro diz que só o Governo tem recusado "o jogo" da direita radical

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O ministro da Presidência defendeu esta quinta-feira que contrariar o crescimento da direita radical "é uma responsabilidade" dos partidos ao centro, considerando que a esquerda moderada a coloca no debate político e só o Governo recusa "esse jogo".

"Há um discurso político recente, porque nós vemos a direita radical a crescer mais, de achar que a responsabilidade de resolver esse problema é um problema da direita moderada. Com certeza que tem responsabilidade, mas a esquerda moderada, quando procura jogar um jogo político que coloca a direita radical no centro do debate político, cria uma condição de jogo tático que só faz levar a direita moderada, em alguns países, por fraqueza, a fazer esse jogo", considerou hoje António Leitão Amaro, num debate organizado pela RTP a assinalar o Dia da Europa.

Em Portugal, defendeu, acontece o contrário: "Temos a direita moderada, liderada pelo atual primeiro-ministro, que tem estado a recusar jogar esse jogo e tem dito que o jogo deve jogar-se ao centro e a transformação do país deve jogar-se a partir do espaço da moderação".

"Temos que construir um espaço de moderação para ter uma cultura de compromisso que transforme, que dê respostas de satisfação ou, pelo menos, menos insatisfação, e havendo menos insatisfação, menos ressentimento, não haja terreno fértil para os radicais", considerou Leitão Amaro.

No mesmo painel, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, advertiu contra o que chamou de "canto da sereia".

O chefe da diplomacia referiu que o crescimento do populismo é "limitado, ainda que possa ser impressivo", mas sublinhou que o problema é que "a radicalização, à esquerda e à direita, faz com que os partidos centrais também se radicalizem".

Os partidos tradicionais começam a ter "pequenas fações bastante radicais" e que "estão a polarizar grupos que normalmente mantinham uma certa lucidez e bom senso e a dificultar o consenso".

"Esta é que é a arma que verdadeiramente os radicais têm: conseguirem dividir, dentro daqueles que têm ideias diferentes para a Europa, como para os seus países, têm projetos diferentes, mais liberais, mais sociais, mais conservadores, mais progressistas, mas que conseguiam e conseguem falar, mas que agora estão a ficar reféns de bolsas dentro deles".

Paulo Rangel, que foi eurodeputado durante 15 anos, elogiou os eleitos portugueses ao Parlamento Europeu do PSD, CDS e PS, que, dentro das respetivas famílias políticas (Partido Popular Europeu e Socialistas e Democratas), "faziam parte das vozes da moderação".

António Vitorino, ex-diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações, concordou: "Quando os moderados chegarem à conclusão de que, para terem sucesso, têm de abdicar dos valores da democracia liberal, então estamos a fazer o caminho dos radicais".

Para o antigo ministro socialista, "há aí uma fronteira civilizacional e um combate que tem de ser travado".

Vitorino disse esperar que os portugueses vão votar nas eleições para o Parlamento Europeu, no dia 09 de junho, recordando que estudos apontam que 89% apoiam o projeto europeu.

"Então, Portugal seria um país onde esse radicalismo eurocético, que existe à direita e à esquerda, não teria grande respaldo eleitoral", defendeu.

O diretor do Instituto Português de Relações Internacionais, Nuno Severiano Teixeira, considerou que o mundo vive atualmente uma "vaga de autocratizações", em que a democracia está "sob ataque".

O antigo ministro socialista recordou que há 50 anos, a esquerda democrática teve um papel para travar a esquerda radical e "hoje, é muito importante que a direita democrática também saiba travar a direita radical".

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