Lisboa e Porto ganham painéis de azulejos criados por cerca de 1.500 pessoas

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Com conceção artística de Miguel Januário e a participação de pessoas de várias idades e origens, o projeto "Cumprir" estará visível primeiro em Lisboa, onde hoje deverão ficar colocados, numa parede perto da estação ferroviária do Rossio, os 924 azulejos que compõem um painel com 8,80 metros de largura por 4,20 metros de altura.

"Cumprir", que remete para a ideia de se cumprirem os ideais de Abril e os artigos da Constituição da República Portuguesa, começou a ser pensado no início do ano passado.

Nessa altura, o PCP desafiou o artista a "pensar num projeto público no qual participassem outros artistas". Entretanto, o projeto "estendeu-se também à comunidade", contou Miguel Januário à Lusa.

Por isso, no mesmo painel é possível encontrar-se azulejos pintados por artistas como Vhils, Capicua, Gonçalo Mar, AkaCorleone, Tamara Alves, Fábio Colaço e Beatriz Gosta, ao lado de outros da autoria de crianças e de adultos e idosos com as mais variadas origens e profissões. "Todo o tipo de gente", sublinhou Miguel Januário.

Ao longo do último ano foram realizadas várias oficinas, a primeira das quais na Festa do Avante em 2023. As oficinas, "sempre abertas à comunidade", aconteceram em espaços como o Maus Hábitos e a Voz do Operário, em associações, bairros e nos Centros de Trabalho do PCP, em Lisboa e no Porto.

Nas oficinas, os participantes eram desafiados a pensar sobre o cumprimento, ou não, de Abril e da Constituição.

Nos azulejos "há muitas abordagens daquilo que é Abril". "Coisas sobre a Educação, a Paz, a Justiça, sindicatos, o direito a brincar, reivindicações".

"É muito rico nos conteúdos, é muito variado e é muito bonito por causa disso. Cada azulejo é uma história, é uma pequena história", partilhou.

No final das oficinas, Miguel Januário teve de pensar como seriam colocados os cerca de 1.500 azulejos nos dois murais.

Nesse processo, começou por dividi-los por cores. "Usámos [para pintar] vermelho, preto, amarelo e verde, e o branco [base] do azulejo. Tínhamos 50% de azulejos brancos e os outros 50% com base de cor, tanto no Porto como em Lisboa. Sendo que dos 50% com base de cor metade era vermelho", contou.

Os azulejos foram colocados de forma a que ficasse um cravo gigante, "em pixel", no meio de cada painel.

Para o caule foram usados os azulejos onde o verde predomina e para as folhas os vermelhos. "À volta tens azulejos brancos, para dar iluminação ao cravo, e nos cantos ficam os [azulejos] mais escuros, para fazer uma espécie de moldura do painel", descreveu.

Além de pensar os murais e de acompanhar todas as oficinas, o artista pintou também alguns azulejos, que estão no meio dos painéis a formar a palavra "Cumprir", "que está disfarçada".

"As letras estão lá no meio, mas incompletas. As letras de `Cumprir` estão por cumprir, porque falta cumprir muito", disse.

O painel de Lisboa será o primeiro a ser revelado, estando a inauguração marcada para o dia 13 de outubro.

O do Porto, que terá também cerca de nove metros de largura, irá demorar mais tempo. Inicialmente estava pensado para a estação ferroviária de Campanhã, mas com as obras previstas devido ao TGV não havia garantias de que o painel não fosse afetado.

De acordo com Miguel Januário, a ideia é colocar e inaugurar o painel no Porto ainda este ano, ou no máximo no 25 de Abril do próximo ano. Falta só decidir onde.

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