Livro: “A Longa Estrada de areia”

9 meses atrás 136

No verão de 1959, Pasolini despe a pele de intelectual e veste a de observador atento aos diferentes estádios de modernidade de Itália. Ou deveremos antes dizer das várias “Itálias”?

Partindo de uma encomenda que lhe é feita pela revista “Successo”, e publicada entre junho e setembro (com fotografias de Paolo di Paolo), Pier Paolo Pasolini faz-se à estrada ao longo de toda a costa italiana entre junho e agosto de 1959, ao volante de um Fiat ‘millecento’.

É um Pasolini alegre, de férias, o que parte de Ventimigla, na fronteira com a França, rumando a sul, em direção à Sicília – até à “mais pobre e distante praia de Itália” –, e subindo depois pela costa leste, até Trieste, na fronteira com a Jugoslávia: “aqui termina a Itália, termina o Verão”. Ou seja, este é um Pasolini diferente da imagem que se lhe colou de intelectual sério, comprometido, por vezes incómodo e envolvido em escândalos devido ao teor das suas obras literárias e cinematográficas.

Pelo caminho, vai cruzando várias “Itálias”, em diferentes estádios de desenvolvimento e modernidade, com praias para os ricos (de San Remo a Viareggio, de Forte dei Marmi a Capri) e outras, mais populares, para a burguesia e os pobres (de Maratea a Taranto, de Brindisi a Riccione). Como bem refere Paolo Mauri no Posfácio, “mais do que escrever, poderíamos dizer que [Pasolini] ‘passeia’.

O livro, das Edições do Saguão, com tradução de João Coles, inclui, para além do Posfácio, dois Apêndices, sendo o primeiro “Uma carta sobre a Calábria”, em que tenta explicar no “Paese Sera”, um vespertino próximo do Partido Comunista Italiano, publicado entre 1949 e 1994, porque chamara “zona de bandidos” àquela região italiana; e uma Nota Biográfica de Pasolini.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante, que reabre no horário habitual a 6 de janeiro. Votos de um Bom 2024!

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