Luso-descendente deixou a fisioterapia e agora é scout do Dortmund: «São coincidências»

2 meses atrás 58

Costumamos dizer que há um português em cada canto no mundo, seja ele emigrado ou luso-descendente, e a verdade é que parece que não há dia que não passe e não reforcemos a convicção nesta ideia. Miguel Moreira é um desses casos, que deixou a fisioterapia e a sua clínica há uns anos para abraçar a vida de treinador e, hoje, está ligado ao departamento de scouting do Borussia Dortmund.

Hoje com 40 anos, Miguel nasceu, cresceu e fez toda a vida na Alemanha, para onde os pais emigraram na década de 1970. Apesar disso, Portugal não lhe é nada estranho e todos os anos vem ao território português, no verão, para passar férias. De resto, o seu português, enquanto fala connosco, é perfeito.

«Adoro estar em Portugal, por isso não há outra escolha todos os verões», começa por dizer-nos, diretamente do Algarve.

Hoje em dia tem a companhia da esposa e dos filhos, que se esforçam para o acompanhar a falar português, embora sejam alemães: «Safam-se mais ou menos no português. Os meus filhos vou-me esforçando o melhor possível, para que, pelo menos, entendam o melhor possível. O falar é mais complicado para eles, mas vão melhorando. A minha esposa vai tendo aulas e vai fazendo um esforço para aprender melhor.»

Miguel Moreira fez da Bundesliga casa @Reprodução X

Da fisioterapia...ao Borussia Dortmund

Miguel também é daqueles casos onde o acaso, face à redundância, lhe tomou conta da vida e fez dar uma volta de 180º. Quando foi para a Faculdade, tirou o curso de Fisioterapeuta e durante alguns anos foi essa a sua vida, de tal modo que tinha a sua clínica. O que aconteceu? Tudo começou no futebol amador alemão.

«São coincidências. Jogava apenas futebol amador, mas nada fora de série. A certa altura, o meu treinador/jogador, o Hannes Wolf [hoje treina as seleções jovens da Alemanha] que viria a ser meu colega, com 25 anos – e eu com 23 – falou comigo. Eramos a dupla de atacantes. Demos nas vistas, até que um dia ele teve o convite de ir para o Dortmund, como treinador na formação, onde esteve dois anos, e ligou-me a convidar-me para ser adjunto», começa por explicar-nos.

Miguel Moreira e Hannes Wolf no Leverkusen @Reprodução X

«Eu achei estranho e questionei-o sobre como ia ser treinador de futebol, se tinha a minha clínica. Ele propôs dividir-me pelos dois. Acabámos por ser campeões alemães de juvenis e de juniores. Foram três campeonatos alemães seguidos. Deu nas vistas, claro. Surgiu a oportunidade de ir para o futebol profissional e ser adjunto do Stuttgart, que estava na Bundesliga 2. Na segunda-feira estava a tratar dos meus clientes na minha clínica e na terça-feira era treinador profissional. Foi tudo de um dia para o outro», acrescenta.

A fisioterapia acabou e, agora, vai já para a sua 4ª época seguida no departamento de scouting do Borussia Dortmund, onde está desde 2021, além de por lá ter passado como treinador de formação, uns anos antes. Muito talento lhe passou pelas mãos e muitos foram observados, mas nega que tenha sido o responsável por encontrar uma pérola desconhecida ao mundo do futebol.

qNa segunda-feira estava a tratar dos meus clientes na minha clínica e na terça-feira era treinador profissional

Miguel Moreira

«Hoje em dia não funciona assim. Antigamente, quando a internet ainda não estava muito desenvolvida, ainda havia essa situação de encontrar essa pérola que ninguém conhecia. Um scout conseguia fazer isso. Pelo menos no nosso não é assim, que temos uma equipa muito grande. Um dia vou a Espanha, noutro vai um colega meu e o futebol é Momentos. É preciso estar no sítio certo, à hora certa e o jogador ter um dia daqueles para dar nas vistas», explica.

«Tive a sorte de trabalhar com uma geração fantástica, nesses miúdos de 1998/1999. O Pulisic é de 1998 e veio para a Alemanha com 15/16 anos. Notava-se que era diferente. Todos sabem que os miúdos nessa altura têm muita coisa na cabeça e nem sempre é só futebol. Ele era um miúdo a quem nunca tive que dizer para fazer ou trabalhar mais, atacar ou defender mais. Ele sempre teve essa ambição de fazer mais e melhor que os outros. O Jan-Niklas Beste também era um miúdo que eu sempre gostei muito. Era magrinho e baixinho, mas jogava a lateral e era um defesa que tinha aquela vontade e mentalidade de querer sempre ganhar os jogos. Zangava-se sempre quando as coisas não corriam como esperado. Essa mentalidade levou-o ao sítio onde está hoje», acrescenta, sobre o novo reforço do Benfica - veja o perfil de Beste.

Muro Amarelo é cada vez mais português

Pelos corredores do histórico e emblemático Signal Iduna Park fala-se cada vez mais português. Além de Miguel Moreira, o Borussia Dortmund juntou, recentemente, João Tralhão à equipa técnica do Muro Amarelo, como adjunto de Nuri Sahin, e há ainda o caso de Alexandre Simões, fotógrafo da equipa principal, que foi recentemente entrevistado pelo zerozero. Todos vivem o inesquecível Muro na primeira pessoa.

@Getty /

«É uma coisa única. Falamos de quase 30 mil adeptos em pé numa só bancada. É um apoio incrível e incansável à equipa durante 90 minutos. O que mais me fascina é como nos tempos difíceis há muitos clubes onde os adeptos se viram contra a equipa e tudo e todos, mas aqui não. Lembro-me de como perdemos o campeonato na última jornada em 2022/23 e o apoio à equipa foi fantástico. Foi mesmo uma sensação única. Mesmo os profissionais, que já viram muitos estádios e fizeram muitas temporadas, dizem que é diferente jogar à frente do Muro Amarelo», conclui.

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