Mais de 4,5 mil espécies de vertebrados em risco pela atividade extrativa

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A revista científica Current Biology compilou na sexta-feira uma das mais completas avaliações globais sobre a ameaça que a crescente atividade extrativa representa para a biodiversidade, que em 2022 rendeu 943 mil milhões de dólares, de acordo com os autores deste estudo, liderado pelas universidades britânicas de Cambridge e Sheffield.

Os investigadores mapearam onde estão as espécies de vertebrados que a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classificou como "vulneráveis, em perigo ou criticamente em perigo" e o resultado apresentou uma resposta inequívoca: em áreas onde se extraem combustíveis fósseis, minerais ou materiais de construção.

Entre todas as espécies de vertebrados, as que dependem da água doce -- recurso mais utilizado e manipulado na extração -- são as que correm mais perigo, principalmente os peixes: 2.053 espécies estão seriamente ameaçadas porque estas atividades estão a destruir o seu habitat.

"A poluição da água pode cobrir centenas de milhares de quilómetros quadrados de rios e planícies aluviais, e a extração de areia como material de construção altera os padrões de caudal nos rios e zonas húmidas, tornando algumas aves mais acessíveis aos predadores, por exemplo", alertou à agência Efe um dos investigadores, David Edwards, de Cambridge.

Além dos peixes, os répteis, os anfíbios, as aves e os mamíferos continuam em risco de ameaça.

Por região, os trópicos, os Andes, as costas da África Ocidental e Central e o Sudeste Asiático reúnem o maior número de espécies de vertebrados ameaçadas por estas atividades.

Ao mapear a localização das espécies ameaçadas, os cientistas descobriram que tipos de mineração são mais prejudiciais e ver onde os riscos são maiores.

O maior perigo para as espécies advém da extração de materiais fundamentais à transição energética (necessária), como o lítio e o cobalto, componentes essenciais dos painéis solares, das turbinas eólicas e dos carros elétricos, sublinham os autores.

A extração de calcário, utilizado em grandes quantidades para fazer cimento como material de construção, ameaça também um grande número de espécies em todo o mundo.

Os autores referem como exemplo a quantidade de espécies de répteis, como as osgas, cujo habitat se restringe ao calcário, que se encontram em vias de extinção em países como a Malásia, onde existe apenas uma cordilheira com estas características que a atividade prevê que a mineração irá ser completamente destruído para a obtenção de cimento.

A ameaça à espécie não se limita ao local exato onde se realiza a perfuração de gás ou petróleo ou uma mina, uma vez que estas atividades alteram uma superfície muito maior para a construção de novas estradas ou infraestruturas para transportar o que é extraído.

"As espécies que vivem a grandes distâncias de uma mina ou de um poço de gás ou petróleo também podem ser afetadas, por exemplo, pela poluição dos cursos de água ou pela desflorestação para construir o seu acesso", alertou Edwards.

Os investigadores apelam aos governos e às empresas para que façam algo tão essencial como simples de fazer: monitorizar e reduzir a poluição causada pelas atividades extrativas.

Os autores sublinham que é esta biodiversidade ameaçada que garante as reservas globais de carbono, que contribuem para a mitigação das alterações climáticas.

Este estudo centrou-se apenas nas espécies de vertebrados, mas os autores não duvidam que estas atividades "também representam um risco significativo para as espécies de plantas e invertebrados".

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