"A fome em Tigray já ceifou mais de 860 vidas", disse à agência de notícias EFE o chefe da Comissão de Gestão de Riscos de Desastres de Tigray, Gebrehiwot Gebre-Egziahber, citando um estudo concluído em dezembro.
De acordo com Gebrehiwot, o estudo foi realizado por profissionais que seguiram métodos de padrão internacional apoiados por tecnologia GPS, que identificou com precisão cada morte em cada local específico.
Os dados foram enviados para o Centro de Coordenação de Emergência (CCE) da região e para as Nações Unidas (ONU), afirmou.
Mais de dois milhões de pessoas estavam em risco devido à seca que afetou cerca de 57.300 hectares de terra e cerca de 114.400 agregados familiares, segundo o estudo.
Grande parte da região continua sob o controlo de forças externas, nomeadamente das tropas da Eritreia, o que complicou a crise humanitária em Tigray, uma vez que as zonas continuam inacessíveis e fora do alcance de qualquer forma de assistência, referiu o chefe da comissão.
"Dada a situação atual, instámos o Governo federal e a comunidade internacional a responder rapidamente e a ajudar as pessoas afetadas pela fome, mas ainda não recebemos uma resposta", acrescentou Gebrehiwot.
O presidente da Administração Provisória de Tigray, Getachew Reda, em 29 de dezembro, voltou a pedir ao Governo etíope e à comunidade internacional para responderem rapidamente a "uma nuvem negra de fome e morte" que paira sobre a região, ao declarar que 91% da população em Tigray corria risco de "fome ou morte".
Em 30 de dezembro, o ministro dos Serviços de Comunicações da Etiópia, Legese Tulu, rejeitou a declaração de Tigray, afirmando que ninguém morreu de fome em nenhuma região da Etiópia, exceto devido à interrupção do fornecimento de ajuda humanitária.
"Não é apropriado relacionar política e ajuda humanitária", criticou Legese.
A Etiópia tem enfrentado inundações e chuvas torrenciais que atingiram partes do sul do país nos últimos meses devido ao fenómeno meteorológico El Niño, bem como uma seca persistente no norte.
A guerra de Tigray começou em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva contra a então governante Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF), em resposta a um ataque a uma base militar federal e à escalada das tensões políticas.
Pelo menos 600.000 pessoas foram mortas durante a guerra em Tigray, de acordo com o mediador da União Africana, o antigo Presidente nigeriano Olusegun Obasanjo.
Embora Adis Abeba e a TPLF tenham assinado um acordo de paz em 02 de novembro de 2022, a Human Rights Watch (HRW) e organizações locais alertaram em novembro de 2023 para o facto de a violência e os abusos continuarem em Tigray por parte de soldados da vizinha Eritreia, um aliado do Governo etíope.
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