"O seu filho tem um dedo que adivinha" é o nome da campanha da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), inserida no projeto europeu EDENT1FI, com um orçamento de 23,5 milhões de euros, dos quais perto de 600 mil serão usados para a realização dos rastreios em Portugal a crianças e jovens, entre os três e os dezassete anos.
Tendo como objetivo sensibilizar a sociedade e avaliar o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 1 (DT1) na população infantojuvenil, a associação lançou um website dedicado à campanha e incentiva famílias, escolas, clubes desportivos e unidades de saúde a juntarem-se à iniciativa.
Em declarações à agência Lusa, o diretor clínico da APDP, João Filipe Raposo, adiantou que o rastreio foi anunciado há um ano e está a decorrer em vários países, tendo começado em setembro em Portugal.
"O objetivo para este projeto e para Portugal é rastrearmos 10 mil crianças num prazo até quatro anos", disse o endocrinologista, adiantando que o objetivo é detetar crianças ainda sem sintomas da doença.
Através de "uma picadinha no dedo", para recolher uma gota de sangue, consegue identificar-se se já existe um processo de distribuição das células que produzem insulinas no pâncreas.
"Nós conseguimos através deste tipo de avaliação, e do acompanhamento destas crianças, evitar os internamentos e as formas graves de aparecimento da diabetes tipo 1, e abre também uma outra janela de oportunidade, porque hoje já conseguimos fazer alguma interferência neste processo de destruição" destas células.
Realçou ainda que, "num cenário que já começa a estar muito perto", será possível "usar alguns medicamentos que podem atrasar, e idealmente prevenir, o aparecimento de diabetes tipo 1".
Sobre o apelo lançado às famílias, às escolas, entre outras entidades, João Filipe Raposo disse visa conseguir abranger, "mais rapidamente", um maior número de crianças e jovens, e evitar que o diagnóstico não se faça, como ainda acontece atualmente, "com as crianças seriamente doentes e com necessidade de hospitalização".
Depois de identificadas, as crianças e jovens em risco e suas famílias passam a receber o acompanhamento necessário por parte da APDP.
Também se pretende, com o projeto, obter a informação necessária para se discutir em Portugal, como vai acontecer nos outros países, "a necessidade de implementar este rastreio na população total de crianças e jovens do país", disse João Raposo.
O rastreio tinha como ponto de partida a região de Lisboa Vale do Tejo, mas já abrangeu outras regiões do país, para tentar ter "a maior representatividade possível".
Estima-se que vivam em Portugal mais de 30.000 pessoas, 5.000 das quais serão crianças e jovens com esta doença, cuja causa ainda não é plenamente conhecida, mas sabe-se que existe um componente genético e não está diretamente relacionada com hábitos de vida ou de alimentação menos corretos.
"O diagnóstico e a intervenção precoce são, por isso, imperativos para a mudança na gestão da diabetes tipo 1", uma doença autoimune, em que as pessoas necessitam de terapêutica com insulina para toda a vida porque o pâncreas deixa de a poder fabricar.
A APDP salienta que é a primeira vez que uma iniciativa com este propósito se realiza em Portugal, contando com o Alto Patrocínio do Presidente da República e o apoio da Direção Geral da Saúde e da Sociedade Portuguesa de Diabetologia e da Sociedade de Endocrinologia e Diabetologia Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria.
Leia Também: Fármaco para diabetes usado para emagrecer pode reduzir dores da artrite