Manter viva a memória

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Na semana passada assisti ao documentário palestiniano “Bye Bye, Tiberias”, de Lina Soualem. Foi no âmbito da primeira edição do Lisbon Arab Film Festival, uma iniciativa que permitiu a muitos cinéfilos terem acesso a uma seleção de filmes e documentários de realizadores árabes e em língua árabe.

Constituiu, assim, uma oportunidade única para aceder a uma perspetiva menos conhecida, sem considerar pessoas de origem árabe como sendo “exóticas” ou a viverem no “outro lado”.

A verdade é que não existe o “outro lado”, mesmo que a maioria dos ocidentais se tenha acostumado à intensa polarização dos média. Os árabes são parte de um vasto espetro de nacionalidades, origens, etnias, cujas histórias são marcadas pela complexidade multiétnica e geopolítica que caracteriza as suas regiões.

“Bye Bye, Tiberias” é um bom exemplo disso. O filme conta a história de quatro gerações de mulheres palestinianas. A família foi forçada a abandonar a sua terra natal após a Nakba, em 1948, tendo-se instalado numa pequena aldeia em Israel, na fronteira com o Líbano e Síria. São árabes isolados do mundo árabe, impedidos de manter contacto com os seus familiares que vivem nos países vizinhos.

Na sua juventude, a mãe da realizadora, Hiam Abbass, quis seguir o coração e seguir uma carreira de atriz em França. Embora o documentário não o destaque, alcançou uma carreira de sucesso nos Estados Unidos, tendo já participado em várias séries premiadas.

Após muitos anos, decide regressar à sua terra natal com a filha, guiando-nos pelas memórias de infância e adolescência, enquanto revive o sentimento de culpa por ter imigrado e deixado a sua família para trás.

É comovente ver os laços de afeto que a unem à avó e irmãs, mesmo após tantas peripécias. Há imensa ternura, mas também humor nas relações entre estas mulheres que acolhem a filha pródiga que retorna a casa, ligadas por laços familiares inquebráveis. E, subjacente a tudo, há um medo enorme de que a sua identidade palestiniana seja apagada e enterrada.

Através das fotografias que ficaram das gerações anteriores e das histórias contadas pelas mulheres, o documentário “Bye bye, Tiberias” é a forma que esta família encontrou para deixar um registo para a posteridade e não permitir que sejam apagados da história.

Resta-lhes manter a esperança de que, um dia, possam quebrar o isolamento, recuperar a sua liberdade e habitar em paz nas margens do mar de Tiberíades, também chamado mar da Galileia.

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