UM CAFÉ COM...
A menos de um ano de ter sido eleita coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua olha para as eleições legislativas como uma nova oportunidade de entendimento com o Partido Socialista - e isto entre as inúmeras críticas que continua a fazer ao partido agora liderado por Pedro Nuno Santos.
Em entrevista a Anselmo Crespo, Mariana Mortágua assegura que “o Bloco de Esquerda mostrou-se disponível para constituir uma maioria, para negociar um acordo, para permitir ao país ter políticas para superar o desastre da maioria absoluta em várias áreas, saúde e habitação são dois exemplos”. E diz que a “disponibilidade é coerente ao longo do tempo”, mas este acordo tem de ser feito antes de os portugueses irem às urnas.
“O que dissemos e continuamos a dizer é que o entendimento, os principais pontos de diálogo, debate sobre propostas, tem de ser feito antes das eleições porque os eleitores têm direito a saber, quando vão votar, o que podem esperar dos vários partidos, quais as suas disponibilidades para entendimentos, quais as principais prioridades, quais as principais propostas e quais as medidas sobre as quais pode haver entendimento. Essa é a proposta do Bloco de Esquerda”, vinca a coordenadora-geral. E diz que o acordo tem de ficar “escrito” para que possa ser escrutinado.
Mariana Mortágua defende que “entre 2015 e 2019” Portugal teve a “legislatura mais estável de que há memória, foi também a única legislatura em que se cumpriu aquilo que estava acordado”. E, sublinha, foi assim também porque o acordo estava escrito.
Sobre a queda da geringonça em 2021, Mariana Mortágua acusa o PS de, à data, estar “obcecado com uma ideia de maioria absoluta” e dá o exemplo do Serviço Nacional de Saúde como uma bandeira vermelha para o partido ter batido o pé ao orçamento apresentado na altura. “Em 2021, o Bloco de Esquerda bateu-se por um programa para fixar profissionais no SNS, nomeadamente um programa de exclusividade, e, se ele tivesse sido aprovado, o SNS não estava no caos que está hoje.” E sobre a atual proposta do Bloco de Esquerda para este setor, Mortágua diz que o primeiro passo é “impedir” que os médicos e enfermeiros saiam do país e que o regime de exclusividade apenas é possível com “melhorias de carreiras”, descartando qualquer “preconceito” com o setor privado, que, para Pedro Nuno Santos, pode vir a ser uma mais-valia para atuar no imediato na situação atual do SNS. “Onde e quando o serviço público [de saúde] não chega, é óbvio que é preciso contratualizar cos privados, o essencial é que as pessoas tenham acesso à saúde.”
E sobre o facto de, ainda assim, ter sido o partido de António Costa a ganhar uma maioria absoluta, custando lugares na Assembleia da República ao Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua acusa os socialistas de “dominarem” uma certa narrativa sobre o assunto. “A partir do momento em que o orçamento foi chumbado, houve uma disputa de narrativas e o PS conseguiu dominar essa narrativa sobre as causas do chumbo do orçamento. Com o passar do tempo as coisas ficaram mais claras”, dizendo que “foram orçamentos que degradam o SNS”.
“Não há nada de teatro nisto, o Bloco quer entendimentos para resolver os problemas do SNS, queria em 2021, quer agora em 2024. O que eu acho é que, em 2024, depois de uma maioria absoluta do PS, as pessoas compreendem as razões do Bloco de Esquerda ao longo deste tempo todo e porque defendemos o SNS este tempotodo”, destaca a coordenadora nacional.
A maioria absoluta foi amplamente criticada por Mariana Mortágua, que diz que “não há quem não saiba do desastre da maioria absoluta, mesmo dentro do Partido Socialista não há quem não reconheça o desastre da maioria absoluta”, afirmando ainda que “todos os ministros foram corresponsáveis” pelo estado atual do país, também na habitação.