Martim, a esperança do Olival «semelhante» a Dalot: «Lucrou com a saída de Gonçalo Esteves»

«É um miúdo incrível. Não apenas o jogador, mas também a pessoa»

Ser lateral direito, na era de Sérgio Conceição, não é tarefa fácil e os números são esclarecedores: em sete anos, o técnico luso utilizou um total de 20 (!) jogadores na posição.

Desde adaptações, tais como Corona ou Bruno Costa (aconteceu por diversas ocasiões), a contratações falhadas - casos de João Pedro, Saidy Janko ou Saravia -, Conceição parece, finalmente, ter descoberto os dois laterais de eleição: João Mário e Martim Fernandes.

O último, com apenas 18 anos, aproveitou «um castigo» e uma lesão para agarrar um lugar no 11. Ainda assim, diga-se, de forma totalmente inesperada e logo num dos num dos confrontos mais complicados da temporada, perante o líder e provável campeão nacional da época 2023/2024: Sporting. 

Tendo isto em conta, o zerozero procurou conhecer um pouco melhor a nova esperança do Olival e abordou um ex-treinador de Martim no FC Porto, que treinou o lateral como técnico principal - sub-15 - e treinador adjunto nos sub-19: Pedro Mané, atual técnico adjunto no Charlotte FC B.

Mané deixou rasgados elogios - «miúdo incrível» e «excelente pessoa» - e lembrou uma curiosa história que ajudou Martim Fernandes atingir a ribalta mais cedo que o normal.

«Andou sempre uns dois, três passos à frente»

Dos sub-15 para os sub-19, dos sub-19 para a equipa B num espaço de dois anos. Martim Fernandes andou um passo à frente dos demais e aproveitou, curiosamente, a transferência de Gonçalo Esteves - promissor lateral dos dragões que seguiu para Alcochete - para assumir-se como a grande esperança do Olival na posição de lateral direito.

«É uma história interessante. O Martim lucrou com a saída de Gonçalo Esteves para o Sporting: o Gonçalo sai e ele é chamado para os sub-19. Ou seja, enquanto era sub-16, jogava no campeonato nacional de sub-19.»

«Ele andou sempre uns dois, três passos à frente. Começou a intercalar sub-19 - equipa B com muita naturalidade», começou, Pedro Mané, por introduzir ao nosso portal, deixando elogios à personalidade do lateral portista.

«É um miúdo incrível. Não apenas o jogador, mas também a pessoa. É um miúdo espetacular, tem uma família que lhe transmite bons valores e isso ajuda num meio como este. Depois, em termos desportivos, é um jogador com um perfil bastante interessante, desde logo pela questão física», continuou o ex-técnico de Martim.

Apesar das qualidades mencionadas por Pedro - e do potencial de Martim Fernandes traduzido numa renovação de contrato no começo de abril -, a surpresa foi total. Poucos (ou quase nenhuns) contavam com a titularidade do jovem Martim - que apenas havia sido utilizado numa partida da Taça, em outubro. Pedro Mané corroborou dessa «surpresa», mas apontou para a experiência do jogador, apesar da idade.

«Pelo timing não esperava que fosse titular num jogo desta exigência e pela carga emocional que o jogo pode acarretar, mas é um sinal claro de confiança das pessoas que trabalham com ele - António Folha e Sérgio Conceição. Dado à quantidade de jogos que fez na Segunda Liga, quer este ano como no ano passado - momento em que era sub-17 - é normal», apontou.

Semelhanças a Dalot e a «luta» com João Mário

«Deu passos à frente», é internacional pelas camadas jovens e já é um titular quase indiscutível na equipa B. Afinal, quem é Martim Fernandes? Pedro Mané, questionado sobre «semelhanças» com algum jogador do FC Porto, atirou um nome que deixa saudades no mundo azul e branco: «Diogo Dalot»

«Pela dimensão física e capacidade ofensiva: Diogo Dalot. Mas, claro, é sempre injusto estar a comparar, porque cada um tem as suas singularidades. Mas não tenho dúvidas que, em condições normais, o Martim fará uma carreira bastante interessante», revelou o ex-treinador de Martim analisando as características do jogador.

«Fruto de ter um background como ala, tem a capacidade ofensiva para desiquilibrar no último terço. É capaz de fazer o corredor e dar uma verticalidade muito grande ao jogo. Mesmo, defensivamente é extremamente agressivo. É interessante a forma como chega à equipa principal, mas a verdade é que, fruto do seu desenvolvimento, onde tem andado sempre com um passo à frente, acaba por ser uma evolução natural.»

Do ponto de vista mais negativo, Pedro anotou três aspetos a evoluir: «Nem sempre tem as melhores abordagens defensivas, mas foi melhorando com o tempo. Falta-lhe consistência e exigência que o campeonato exige, mas também paciência.»

Lateral direito: é a grande incerteza na era Sérgio Conceição, principalmente com a saída de Ricardo Pereira depois de 17/18. Com a saída expectável de Jorge Sánchez, restam João Mário e... Martim Fernandes. Para Pedro Mané, o jovem de 18 anos terá de «fazer pela vida», mas tem condições para «lutar» com o internacional português por um lugar no 11.

«Cabe ao Martim perceber que, ao estar no mesmo contexto do João Mário, terá de fazer pela vida. Estão todos a lutar pelo mesmo objetivo, ainda para mais num contexto tão exigente. O Martim tem todas as condições para isso, e ainda por cima é um miúdo muito trabalhador. Com tantos jogos, e pela lógica da rotação e lesões, se ele tiver paciência, tem todas as condições para ter oportunidades e aproveitá-las», rematou.