A consultora espera ver mais negócios em 2024, pelo menos graças aos ativos pendentes para negociação. No entanto, o cenário apresenta algumas dificuldades, como processos cada vez mais morosos de aprovação regulatória em operações sensíveis, defende Cira Cuberes, sócia da Bain & Company.
O mercado total de fusões e aquisições (M&A) caiu 15% para os 3,2 biliões (milhões de milhões) de dólares (2,97 biliões de euros) em 2023, o nível mais baixo numa década. A conclusão é do M&A Report 2023 anual da Bain & Company.
A justificar a queda está o facto de os negociadores terem sido mais seletivos devido às altas taxas de juros, ao maior escrutínio regulatório e a sinais macroeconómicos mistos. Além do mais, como uma média de 10,1 vezes o EBITDA (lucro das empresas antes de juros, impostos, depreciação e amortização), os múltiplos das operações em 2023 foram os mais baixos em 15 anos.
Olhando para o futuro, muitos dos ativos que não chegaram ao mercado o ano passado deverão alimentar as negociações ativas em 2024.
O sexto relatório anual global de M&A da Bain & Company evidencia que os negociadores se devem preparar para processos de aprovação regulatória mais longos e imprevisíveis.
O relatório revela ainda que o volume de negócios em tecnologia caiu 26% nos primeiros 10 meses do ano, queda que foi de 59% em valor. Isto é, mais do que em qualquer outra grande indústria.
Estas são algumas das primeiras conclusões do sexto M&A Report 2023 anual da Bain & Company.
“A diminuição das avaliações no mercado de M&A em 2023 gerou um ambiente de cautela entre os potenciais vendedores”, diz Álvaro Pires, sócio da Bain & Company em Lisboa, em comunicado.
No entanto, para este ano, “esperamos mais oportunidades para os compradores, visto que a necessidade de liquidez e a reconfiguração de algumas carteiras incentivarão os desinvestimentos”, acrescenta.
“À medida que as taxas de juro estabilizam, esperamos que o mercado reanime e nessa altura haverá um aumento na concorrência por ativos. Aqueles fundos que realizarem uma due dilligence comercial adequada para identificar as sinergias entre receitas e custos conseguir concluir as operações”, afirmou Álvaro Pires.
O relatório da Bain & Company detalha as tendências que vão liderar o mercado de fusões e aquisições (M&A) em diversos setores durante 2024 em todo o mundo. “Para fazer essas previsões, que abrangem 4 regiões e 14 setores, a consultoria inquiriu mais de 300 profissionais do setor”, explica a Bain.
De entre os 14 sectores, o destaque vai para a tecnologia, saúde e ciências da vida, energia e recursos naturais e aeroespacial e defesa.
Na tecnologia, globalmente, o volume de negócios caiu 26% nos primeiros 10 meses de 2023, queda que foi de 59% em valor – mais do que em qualquer outra grande indústria. Apesar disso, ainda foram fechados mais de 4.100 operações nos primeiros nove meses do ano, com 31 deles avaliados em mais de mil milhões de dólares. Olhando para o futuro, a consultora espera uma redução na brecha entre as avaliações de vendedores e compradores de tecnologia.
Na “Saúde e Ciências da Vida”, apesar da turbulência, o ano de 2023 mostrou que “este setor não consegue suster as fusões e aquisições em segundo plano por muito mais tempo, tendência que veio para ficar”, refere a consultora. A indústria dispõe de elevados níveis de liquidez (171 mil milhões de dólares em empresas farmacêuticas) e 80% dos executivos do setor da saúde prevêem que farão tantos – se não mais – operações em 2024 do que em 2023.
Já na “Energia e Recursos Naturais” e após três anos de crescimento constante, o volume de acordos de transição energética estagnou nos primeiros nove meses de 2023. As empresas estão a equilibrar os acordos entre o reforço das suas atividades principais e a promoção de uma agenda de baixo carbono. “Para encontrar o equilíbrio certo, as melhores adotarão uma abordagem mais focada nas aquisições de transição energética”, defende a Bain.
Por fim, no sector “Aeroespacial e Defesa”, em 2023, esta indústria “viu uma série de operações de grande envergadura a serem concluídas”.
Para 2024, a Bain & Company espera que o setor seja marcado por taxas de juro mais elevadas e custos reduzidos no acesso ao espaço, bem como uma maior relevância do espaço para a geopolítica. “Espera-se ainda que a reconfiguração da carteira e as avaliações mais baixas impulsionem as fusões e aquisições no setor”, conclui a consultora.