Milei enfrenta 2ª greve geral com alta adesão nos transportes e parcial no comércio

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O governo de Javier Milei enfrenta hoje a segunda greve geral em apenas cinco meses, com forte adesão nos transportes ferroviários, marítimos e aéreos, mas parcial em terrestres, no ensino e comércio, afetando mais de 6,5 milhões de pessoas.

"Eu tinha um voo de Buenos Aires para São Paulo, onde faria uma ligação a Bangkok, mas não vou poder viajar e não tenho forma de reprogramar porque são reservas separadas. Agora, estou a tentar que a Aerolíneas Argentinas comunique com a outra companhia para lhes explicar a situação e tentar uma solução", conta à Lusa a angustiada turista argentina Paula Taborda, de 31 anos, no aeroporto metropolitano de Buenos Aires, onde os painéis repetem um único estado dos voos: "cancelado".

Pelos cálculos oficiais, o cancelamento de 703 voos afeta 93 mil pessoas. A Associação Latino-americana de Transporte Aéreo projetou perdas de 62 milhões de dólares entre as mais de 30 companhias aéreas.

O foco da greve está na estatal Aerolíneas Argentinas, que o presidente Javier Milei quer privatizar. A principal companhia aérea do país cancelou 191 voos, afetando 24 mil passageiros e perdendo dois milhões de dólares.

A Câmara Argentina de Comércio (CAC) prevê uma perda de 1.500 milhões de dólares (cerca de 1.400 milhões de euros) devido às 24 horas sem atividade económica no país. Se a paralisação fosse total, as perdas chegariam a 2.400 milhões de dólares (cerca de 2.100 milhões de euros).

A Argentina amanheceu paralisada, mas, aos poucos, timidamente, alguns setores mostraram um acatamento parcial.

Não circulam comboios, metro ou camiões. Porém, apesar de não haver abastecimento de combustível nos postos de gasolina, algumas linhas de autocarro decidiram circular. Algumas foram apedrejadas pelos grevistas como forma de intimidar os que ousam furar a greve.

Segundo o governo, 6,59 milhões de pessoas são afetadas pela falta de transporte.

Bancos, supermercados e centros comerciais estão fechados, mas a greve é apenas parcial no comércio e restaurantes. Os trabalhadores dos espetáculos pararam, suspendendo as sessões de cinema e de teatro. Nos hospitais, só funcionam os piquetes.

O governo advertiu que os funcionários públicos que fizessem greve teriam o dia descontado do salário. Mesmo assim, professores nas escolas e das universidades públicas pararam. Os colégios privados tiveram aulas.

O estudante de medicina brasileiro Luís Paulo Flores, de 18 anos, chegou à Argentina neste ano para estudar na Universidade de Buenos Aires. O jovem conta à Lusa que constantes paralisações na instituição de ensino superior pública podem afetar o ciclo letivo e levá-lo a ter de repetir o primeiro ano.

"A greve afeta-me porque não tenho aulas e, mesmo que tivesse, não teria transporte. Os professores têm pedido ajustes salariais e aumento no orçamento da Educação, mas não têm conseguido. Isso também tem afetado a qualidade do ensino. No final do ano, não sei se poderei cumprir com o ano letivo devido à falta de carga horária. Talvez tenha de refazer o ano", desabafa Luís Paulo.

Com apenas cinco meses de governo, Javier Milei enfrenta a sua segunda greve geral. Nunca antes na história da Argentina um governo teve duas greves gerais em tão pouco tempo. A primeira, em 24 de janeiro, fez de Milei o Presidente argentino que mais rapidamente enfrentou uma paralisação.

"O nosso governo teve duas greves gerais, duas greves de autocarros, duas greves de professores, uma greve de ferroviários, uma greve de pessoal aeronáutico e mais de 100 manifestações", contabilizou o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, para indicar uma intencionalidade política dos sindicatos.

Na Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) é manifestadamente peronista (agora na oposição), evitando greves durante governos desse signo político e desgastando os contrários.

Entre 2019 e 2023, apesar da inflação acumulada de 1.020%, não houve nenhuma greve contra o presidente Alberto Fernández.

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