Ministra francesa da Educação protagoniza a primeira crise do novo governo francês

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Teresa Suarez - EPA

Menos de uma semana depois de ter sido nomeada ministra francesa da Educação, Amélie Oudéa-Castéra, está no centro da primeira crise do novo governo de Gabriel Attal. Acusada de mentir sobre a matrícula dos seus filhos numa escola privada de elite - alvo de investigação desde o ano passado pelo Ministério da Educação por práticas educativas sexistas e homofóbicas - a também responsável pelo desporto e pelos Jogos Olímpicos de Paris 2024, está a ser convidada a demitir-se pelos partidos da oposição.

Um dia após a sua nomeação para o cargo de ministra da Educação, para substituir o atual primeiro-ministro francês Gabriel Attal, o site informativo Mediapart revelou que os três filhos de Amélie Oudéa-Castéra frequentavam o Colégio Stanislas, no centro de Paris, uma instituição católica de ensino privado, cujas práticas educativas têm vindo a ser descritas como sexistas e homofóbicas por várias investigações, tendo mesmo desencadeado uma investigação do Ministério da Educação em maio de 2023.

Na sexta-feira, Amélie Oudéa-Castéra justificou a inscrição do seu filho mais velho no Colégio Stanislas devido “ao número de horas que não foram seriamente substituídas” na escola primária de Littré que o seu filho frequentava anteriormente, exprimindo a sua “frustração” e dizendo-se “farta, como centenas de milhares de famílias”

“Nunca houve faltas não repostas”

No entanto esta justificação é inexacta, segundo o jornal francês Libération, que revelou no domingo à noite que o seu filho não tinha sido afetado pelas lacunas de pessoal na escola pública, citando a educadora de infância que teve a sua turma em 2009. De acordo com a qual, a verdadeira razão para a mudança de escola na altura era a recusa de deixar a criança “saltar” um ano, apesar do pedido dos pais.

Amélie Oudéa-Castéra : le cas AOC. C'est la une de @Libe mardi

Embourbée après ses mensonges sur la scolarisation de ses enfants dans le privé, la ministre de l'Education et des Sports fragilise le nouveau gouvernement. pic.twitter.com/UPvHWg2Yfp

— Libération (@libe) January 15, 2024

Vários pais de alunos da época, entre os quais o jornalista francês Nicolas Poincaré, afirmaram que “nunca houve faltas não repostas” na escola. “Fiquei surpreendido com o facto de esta escola ter sido assim destacada pela ministra. Com o meu filho, nunca houve um único "pacote de horas" (não substituídas). Trata-se de uma escola pequena e privilegiada, num bairro privilegiado”, afirmou o jornalista à estação Rádio Monte-Carlo (RMC).

Apesar destas declarações, a nova ministra francesa da Educação manteve a sua versão para justificar a mudança dos seus filhos para uma escola privada, numa tentativa de arquivar a polémica e não ensombrar a remodelação governamental levada a cabo pelo presidente francês Emmanuel Macron, na semana passada, após a demissão da antiga primeira-ministra Elisabeth Borne. 

Oudéa-Castéra "nega categoricamente as afirmações do Libération", declarou o seu gabinete à agência France Presse (AFP). "Temos de encerrar este capítulo de ataques pessoais e de vida pessoal", disse a ministra durante uma visita a outra escola de Paris na segunda-feira, acrescentando que tinha "tentado responder da forma mais sincera possível".

"É altura de se demitir"
No entanto a controvérsia tem vindo a aumentar e vários partidos da oposição pediram, na segunda-feira, a demissão da ministra francesa da Educação, considerando que a "mentira a desqualifica", segundo o coordenador da esquerda radical La France Insoumise (LFI), Manuel Bompard, na rádio franceinfo. Também o líder do Partido Comunista, Fabien Roussel, reagiu na rede social X, afirmando que "os dias passam e as mentiras acumulam-se (...) é altura de se demitir". O mesmo fez a deputada ecologista Sandrine Rousseau, que escreveu na mesma rede social: "Tem de sair agora, senhora".

No outro extremo do espetro político, o deputado de extrema-direita do Rassemblement National (RN), Julien Odoul, também se manifestou contra "os ministros que mentem descaradamente como Amélie Oudéa-Castéra", dizendo que ela já estava "desacreditada" e "devia sair". Também a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, escreveu no X que "há sete anos que estão no poder e há sete anos que não fazem nada para que as escolas públicas voltem a funcionar". "Agora ofendem-se com a degradação das escolas, como se não fossem responsáveis", acrescentou.

As declarações da antiga campeã francesa de ténis júnior, à frente do novo "superministério" que inclui a Educação, a Juventude, o Desporto e os Jogos Olímpicos de Paris 2024, não foram bem recebidas pelos profissionais sindicatos de professores, que argumentaram que Oudéa-Castéra deveria resolver os problemas de pessoal no sistema de ensino público e não aproveitar-se deles. Esta terça-feira, a ministra foi vaiada e insultada por manifestantes durante a visita a uma escola, onde aproveitou a oportunidade para “pedir desculpa” aos funcionários “ofendidos” pelos seus comentários da semana passada.
 

L’arrivée d’Amélie Oudéa-Castéra à l’école publique Littré à Paris, sous les huées des syndicalistes, enseignants et parents d’élèves. La ministre de l’Éducation nationale est empêtrée dans une polémique sur la scolarisation de ses enfants.@PaulLarrouturou pic.twitter.com/83lqbaw2ys

— TF1Info (@TF1Info) January 16, 2024

O caso Amélie Oudéa-Castéra, designado AOC pelo jornal francês Libération, torna-se assim o mais recente escândalo que promete fragilizar o novo governo e constituir uma “pedra no sapato” do presidente francês Emmanuel Macron, que pretendia relançar o seu segundo mandato com uma remodelação governamental. Macron deverá apresentar as suas prioridades para o país, numa conferência de imprensa agendada para esta terça-feira à noite, com possíveis anúncios neste domínio.

c/agências

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