"Esta decisão do Governo, que já tomámos como definitiva, sendo uma derrota para o Norte, mais uma vez, e principalmente para este território fronteiriço, deixou-me magoada", disse à Lusa Helena Barril.
A autarca social-democrata do distrito de Bragança disse ainda que foram criadas expectativas em torno de uma ligação de alta velocidade entre Porto--Vila Real--Bragança--Zamora, com prolongamento para Madrid, e agora não sabe o que acontecerá.
"Criámos expectativas e havia quase um consenso generalizado que esta seria uma grande via, e uma obra estruturante [ligação Porto--Vila Real--Bragança--Zamora] para desalavancar o Nordeste Transmontano. Foi como muita mágoa, repito, que ouvi a decisão do Governo em fazer uma ligação de alta velocidade Lisboa-Madrid", vincou.
Para Helena Barril, "mais uma vez o território transmontano foi preterido face às grandes decisões políticas para o país".
"Estamos a caminho de, eventualmente, este território tornar-se numa coutada de caça e depois, sim, os senhores riquinhos do sul virão para aqui caçar, e depois lá veremos um humano ou outro", ironizou.
Esta reação da autarca surge na sequência do anúncio do Governo, na terça-feira, de mandatar a Infraestruturas de Portugal para concluir os estudos para a construção da Terceira Travessia do Tejo e da ligação ferroviária de alta velocidade Lisboa-Madrid.
O ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, adiantou que é compromisso do Governo iniciar os estudos de desenvolvimento da linha ferroviária de alta velocidade Lisboa-Madrid, com o objetivo de concluir os trabalhos do lado português ao mesmo tempo que Espanha, que aponta para 2034, "de forma a garantir uma execução coordenada e atempada do projeto, otimizando plenamente a disponibilidade de financiamento", e lembrou que o primeiro troço preparado para a alta velocidade em Portugal, entre Évora e Caia, deverá estar concluído em meados de 2025.
Na sexta-feira, a Associação Vale d'Ouro pediu esclarecimentos ao Governo sobre a linha ferroviária de alta velocidade de Trás-os-Montes, depois da União Europeia ter classificado este projeto como sendo de "interesse comum" para Portugal e Espanha.
"Temos expectativa que o Governo em funções possa retificar esta injustiça com a região sobre um projeto que é fulcral para a coesão territorial, integração europeia e desenvolvimento social e económico com vista à neutralidade carbónica", afirmou, citado em comunicado, o presidente da Direção da Associação Vale d'Ouro, Luís Almeida.
Esta associação tem defendido a linha ferroviária do Douro, a sua reativação até Espanha e ainda o novo corredor para a linha de alta velocidade de Trás-os-Montes, ligando o Porto a Espanha.
A Vale d'Ouro participou na consulta pública para o Plano Ferroviário Nacional submetendo um estudo para uma nova linha de alta velocidade entre Porto--Vila Real--Bragança--Zamora, uma proposta que prevê a ligação à linha de alta velocidade Madrid-Galiza a 35 quilómetros da fronteira.
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