Moçambique. Ameaça "terrorista" que leva à fuga de milhares é "inaceitável"

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"Penso que qualquer vaga de terrorismo é muito preocupante e inaceitável. É inaceitável a ameaça terrorista à vida e aos meios de subsistência de pessoas que estão a ser expulsas das suas aldeias. Partilhamos as nossas preocupações relativamente aos milhares e milhares de pessoas deslocadas internamente que tiveram de fugir devido a ataques terroristas indiscriminados e a União Europeia condena sempre firmemente", disse hoje, em Maputo, a presidente do Comité Político e de Segurança da União Europeia (UE), embaixadora Delphine Pronk, em resposta à agência Lusa.

"Através da nossa missão de formação, estamos aqui também para apoiar as Forças Armadas de Moçambique no combate ao terrorismo", acrescentou a diplomata, que termina hoje uma visita a Maputo, de avaliação à cooperação da UE com Moçambique, nomeadamente à Missão de Treino da União Europeia em Moçambique (EUTM-MOZ), liderada por Portugal e lançada em 2022, com um mandato de dois anos, estando em cima da mesa a sua continuidade.

As reuniões dos últimos dois dias em Maputo, disse ainda Delphine Pronk, vão servir para avaliar a futura continuidade dessa missão de treino das Forças Especiais moçambicanas, que combatem o terrorismo em Cabo Delgado: "Tenho a certeza que nos ajudará a tomar essa decisão".

O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou a autoria de 27 ataques em vilas "cristãs" no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, norte de Moçambique, em que afirma terem morrido 70 pessoas nos últimos dias.

Através dos canais de propaganda do grupo, que documenta estes ataques com fotografias, é referida ainda a destruição de 500 igrejas, casas e edifícios públicos naquele distrito do sul da província de Cabo Delgado, conforme declarações a que a Lusa teve acesso.

As autoridades moçambicanas não comentam a situação operacional, mas a Lusa ouviu nos últimos dias, na vila de Chiùre, relatos de deslocados que chegam à localidade sobre ataques, destruição de hospitais, escolas e casas, além de mortos, provocados em diferentes aldeias do distrito pelos insurgentes.

Mais de 60% dos deslocados provocados pela nova onda de ataques terroristas em Cabo Delgado são crianças e 129 escolas foram fechadas, indica um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Até quarta-feira, 33.218 pessoas estavam deslocadas em Nampula, no distrito de Eráti, norte daquela província, e 38.463 em Cabo Delgado, sobretudo no distrito de Chiùre, a sul, lê-se no documento da Unesco, com um resumo da situação no terreno.

Pelo menos 52 crianças chegaram aos locais de destino, após dias de caminhada, separadas dos seus cuidadores, refere igualmente.

O relatório acrescenta que 61% destes deslocados são crianças, totalizando 43.725. Além disso, a situação no terreno, com ataques em várias aldeias no sul da província de Cabo Delgado, já levou ao encerramento de 125 escolas, incluindo 16 no distrito de Memba, província de Nampula, afetando 68.300 alunos.

"Quatro escolas em Chiùre sofreram danos nos recentes ataques. Uma escola em Eráti está ocupada por forças militares", lê-se no relatório do Unicef.

No distrito de Eráti, a maioria dos deslocados internos foi acolhida por familiares, bem como num centro de trânsito instalado numa escola primária.

O relatório do Unicef refere que 10.900 pessoas, equivalente a 2.500 famílias, estão colocadas em sete campos de deslocamento em Chiùre, e que "um número indeterminado de deslocados internos está hospedado" em comunidades vizinhas.

Há ainda cerca de 18.000 pessoas de Chiùre que fugiram para quatro centros de deslocamento no distrito de Metuge, também em Cabo Delgado.

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