Moçambique. Bispo de Pemba diz que não há segurança para regresso às aldeias

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"Não há ainda segurança para regressar a toda aquela região de Mazeze [uma das aldeias atingidas pela violência armada] e retomar a vida como era habitualmente", afirmou António Juliasse, bispo de Pemba, capital da província de Cabo Delgado.

"Se isso acontecer, é óbvio que os missionários, o pessoal religioso, também voltam, porque estão ao serviço do povo", afirmou.

Os missionários, obrigados a fugir dos últimos ataques terroristas no sul da província de Cabo Delgado, estão deslocados e abrigados em áreas mais seguras, "mas não abandonaram o povo", acrescentou.

António Juliasse avançou que as recentes incursões de grupos armados em Cabo Delgado agravaram a urgência da assistência humanitária, apelando à comunidade internacional para não "secundarizar o povo" da região.

"A ajuda humanitária é muito urgente que aconteça aqui em Cabo Delgado, é importante que todos unamos esforços para que este povo não fique abandonado", sublinhou.

O facto de o mundo estar confrontado com várias crises humanitárias, devido a conflitos, levanta "um receio muito grande" de Cabo Delgado ser "abandonada", em termos de assistência, prosseguiu: "Desde o ano passado que várias organizações governamentais e não-governamentais, que estão aqui no terreno e também nós, como Igreja Católica, deixamos de receber apoios significativos".

Face a declarações oficiais sobre progressos no combate à insurgência em Cabo Delgado, Juliasse afirmou que relatos da população avisam que os grupos armados continuavam ativos e a protagonizar ataques a várias aldeias.

"A Igreja Católica sempre alertou e eu, pessoalmente, como bispo da diocese de Pemba, tenho estado a alertar em relação à situação do terrorismo, quando no país se divulgavam discursos de certa acalmia em Cabo Delgado, eu dizia que as mortes continuavam a acontecer por causa da guerra", salientou.

Desde janeiro, continuou, os grupos armados intensificaram as suas ações no centro e sul daquela província, depois de o início dos ataques, em 2017, se ter concentrado nos distritos do norte.

"É verdade que o maior reduto de ataques era a parte norte da província de Cabo Delgado e a partir de janeiro houve esta incursão para o centro e sul, mas era de esperar, era previsível, porque os insurgentes sempre estiveram e não há relatos de que definitivamente foram combatidos", disse.

O bispo de Pemba desvalorizou alguns relatos de que os grupos armados justificam a sua ação como guerra do islamismo contra cristãos, assinalando que os insurgentes destroem e matam de forma indiscriminada, incluindo ataques a mesquitas na província.

"A oratória destes grupos está em consonância com aquilo que é a oratória do Estado Islâmico, a que eles dizem que estão filiados" e, por isso, "nós não estamos preocupados como se estivessem a lutar contra os católicos", enfatizou.

Aquele líder religioso defendeu o combate ao extremismo e radicalismo fomentados em muitos jovens recrutados pela insurgência em Cabo Delgado.

Também apontou a pobreza e a exclusão social como outros fatores da vulnerabilidade dos jovens, assinalando que a via militar não é suficiente para travar a violência armada, apesar de o país precisar de Forças de Defesa e Segurança capazes de defender a integridade territorial.

A nova vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, provocou 99.313 deslocados em menos de um mês, segundo estimativa divulgada hoje pela Organização Internacional das Migrações.

O grupo terrorista Estado Islâmico reivindicou no final de fevereiro a autoria de 27 ataques no mesmo mês, em vilas "cristãs" no distrito de Chiùre, Cabo Delgado, em que afirma terem morrido 70 pessoas, destruindo ainda 500 igrejas, casas, e edifícios públicos naquele distrito do sul da província.

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