Moçambique. Bispos católicos consideram eleições fraudulentas

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"A aplicação da lei eleitoral na fase do apuramento dos votos a nível nacional por parte das autoridades competentes, por si só, não pode garantir resultados fidedignos se os dados não o são. Certificar uma mentira é fraude", lê-se no comunicado, assinado pelo arcebispo de Nampula, Inácio Sampura, presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM).

O comunicado, divulgado no contexto das eleições gerais de 09 de outubro e que abre com uma citação do Evangelho Segundo São João, capítulo 08, versículo 32: "A verdade vos tornará livres", aborda também a violência que se seguiu ao assassínio no passado sábado de Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, candidato às presidenciais, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que apoia Mondlane, que segundo disse fonte policial à Lusa foram mortos a tiro numa "emboscada".

O crime aconteceu na avenida Joaquim Chissano, centro da capital.

Após o duplo homicídio, Venâncio Mondlane, que contesta resultados preliminares das eleições que não lhe dão a vitória, convocou para segunda-feira a realização de marchas pacificas em Moçambique, que foram dispersas com tiros para o ar e gás lacrimogéneo em Maputo e também em Pemba, num saldo de pelo menos 16 feridos na capital.

Relativamente às eleições, os bispos moçambicanos salientam que depois de mais uma votação que se pautou "geralmente pelo civismo", no rescaldo eleitoral "mais uma vez se fez o recurso à violência e agora manchado com uma cobarde emboscada como forma de calar, se não a verdade, pelo menos a democracia".

"Condenamos o bárbaro assassinato de duas figuras políticas a relembrar com evidência, com semelhanças no método, outros assassinatos de figuras políticas ou da sociedade civil, também ligadas a partidos da oposição, ocorridos na sequência de anteriores eleições", salientam.

Vincando que a Igreja Católica é apartidária, não apoia candidatos e não tem partidos, os bispos manifestam que a instituição não renuncia ao seu compromisso político e social, "a um caminho concreto para a construção de uma sociedade mais democrática, inclusiva, justa e fraterna, na qual todos devem viver em paz, com dignidade e futuro".

"Por isso, sendo voz da Igreja Católica, nós os Bispos não podemos omitir de denunciar esta grave situação que o país atravessa e a violência que gera mergulhando todos no caos", acrescentam.

Relativamente às eleições gerais, os bispos destacam a elevada abstenção, resultado de "irregularidades e fraudes registadas em eleições anteriores" que demonstraram a grande parte da população que a sua vontade, expressa nas urnas, "não é respeitada, tornando inútil o exercício deste importante direito cívico".

"Infelizmente, mais uma vez, verificaram-se fraudes grosseiras. Repetiram-se enchimentos de urnas, editais forjados e tantas outras formas de encobrir a verdade. As irregularidades e fraudes, a grosso modo impunemente praticadas, reforçaram a falta de confiança nos órgãos eleitorais, nos dirigentes que abdicam da sua dignidade e desprezam a verdade e o sentido de serviço que deveria nortear aqueles a quem o povo confia o seu voto. Desta forma, empurram o povo não só a comprovar as suas desconfianças, mas também a se questionar sobre a legitimidade dos eleitos", frisam.

Os bispos sublinham que a sua mensagem constitui um "forte apelo" a que se ponha fim à violência e "haja coragem de enveredar pelo diálogo e de repor a verdade dos factos".

Daí, insistem que se apurem os resultados eleitorais "de forma transparente", publicando e confrontando os editais originais na posse dos vários intervenientes, e defendem a criação de "espaços de colaboração na governação e consideram um possível Governo de unidade nacional", além de envolver "instituições competentes e sérias do país na gestão dos processos eleitorais, presentes e futuros".

"Moçambique não deve voltar à violência! O nosso país merece a verdade, a paz, a tranquilidade e a tolerância! Rezemos pela paz, sejamos artífices de justiça e testemunhas da verdade", conclui-se no comunicado.

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