Morgan Spurlock. Um mês a comer McDonald’s

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O realizador que não teve medo de arriscar.

Queria realmente fazer arte. Desejava criar algo com um «impacto duradouro». E, apesar de nem toda a gente conhecer o seu nome, é difícil que alguém não se tenha cruzado com a sua famosa fotografia com a boca cheia de batatas fritas. Era conhecido por não ter «papas na língua». Carismático e provocador, serviu de cobaia para o seu próprio documentário em que, durante 30 dias, só comeu fast-food. O realizador americano Morgan Spurlock morreu na passada quinta-feira, vítima de cancro, em Nova Iorque. A sua família anunciou em comunicado que o cineasta «faleceu pacificamente, rodeado pelos familiares e amigos». «Foi um dia triste, dissemos adeus ao meu irmão Morgan. Morgan deu muito através da sua arte, ideias e generosidade. O mundo perdeu um verdadeiro génio criativo e um homem especial. Estou tão orgulhoso de ter trabalhado com ele», disse o seu irmão, Craig Spurlock, citado pelo The Guardian.

Nascido a 7 de novembro de 1970, em Parkersburg, nos EUA, Spurlock candidatou-se três vezes à Universidade do Sul da Califórnia. No entanto, nunca foi aceite acabando por se licenciar em 1993, na Universidade de Nova Iorque.

Segundo a revista Veja, no dia de Ação de Graças de 2002, estava a ver televisão no sofá da mãe quando se deparou com um facto que considerou curioso e, ao mesmo tempo, assustador: duas adolescentes americanas estavam a processar o McDonald’s por as ter tornado obesas. No princípio, Spurlock considerou que a ação seria «mais um sintoma de um país infestado pela litigância, em que os cidadãos se recusam a assumir as suas responsabilidades pessoais e atribuem a culpa pelas suas falhas às forças maiores das corporações». No entanto, mais tarde, o cineasta interrogou-se sobre essa força.

Foi em 2004 que surpreendeu o mundo, assumindo a missão de expor as graves consequências da fast-food na saúde física e mental . No documentário Super Size Me – 30 Dias de Fast Food, o realizador comeu McDonald’s todos os dias durante um mês. Ia à cadeia alimentar três vezes por dia, totalizando 90 refeições com as mais variadas opções (as possíveis). Sempre que lhe perguntavam que se queria o menu com bebida e batatas grandes, dizia que sim. Além disso, Spurlock reduziu de forma drástica a sua atividade física, até que esta se encaixasse na média nacional.

De acordo com a Veja, antes de começar a experiência, o cineasta realizou exames minuciosos com três médicos. Nessa altura, todos afirmaram que, aos 33 anos, Spurlock era saudável. Quando faltavam 10 dias para terminar aquilo a que se tinha proposto, os três pediram-lhe que desistisse: com mais 11 quilos, passou a sofrer com o colesterol alto, disfunção sexual, mudanças de humor, fadiga e mal-estar, acumulação de gordura no fígado e a constante vontade de vomitar. O documentário foi um sucesso de bilheteira, arrecadando 22 milhões de dólares em todo mundo (um número impressionante para um projeto de baixo orçamento – 65 mil dólares). O trabalho valeu-lhe uma nomeação para o Óscar de Melhor Documentário nesse ano.

Durante a sua carreira Spurlock produziu e realizou quase 70 documentários para o cinema e televisão. Depois de Super Size Me – 30 Dias de Fast Food, os mais conhecidos são Onde está Osama Bin Laden?, de 2008 e OneDirection: This Is Us, de 2013, sobre o grupo britânico que se formou em 2010 e que era composto por Louis Tomlinson, Harry Styles, Liam Payne, Niall Horan e Zayn Malik.

Confissões graves

O cineasta também era conhecido por ser controverso. Em dezembro de 2017, quando o movimento continuava a ganhar força admitiu que era «parte do problema». Quando estava na universidade, foi acusado de violação. Porém, não foi apresentada nenhuma queixa. Além disso, revelou que pagou à sua assistente para que esta não avançasse com uma acusação por assédio laboral. «Quando ela decidiu demitir-se, disse-me que, se não lhe pagasse, ia contar a toda a gente. Sendo quem era, essa era a última coisa que queria, portanto, obviamente, paguei. Paguei para ter paz de espírito. Paguei pelo seu silêncio e cooperação. Acima de tudo, paguei para poder continuar a ser quem era», explicou na altura. Para se justificar, Spurlock revelou que na infância também ele foi abusado sexualmente. 

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