Motins, níquel e Tik Tok. O que se está a passar na Nova Caledónia?

5 meses atrás 90

Os confrontos com a polícia eclodiram esta semana no território francês da Nova Caledónia, fazendo quatro mortos e centenas de feridos. A dimensão dos motins levaram França a declarar estado de emergência esta quarta-feira e a enviar mais polícia para controlar os protestos.

Em causa está uma reforma constitucional que permite que quem viva na Nova Caledónia por 10 anos vote nas eleições locais do território, algo que até aqui não era possível.

Os líderes locais consideram que a medida pode diluir o voto dos indígenas Kanak, que procuram a independência de França, em relação ao crescente número de europeus que chegam à Nova Caledónia.

Onde é a Nova Caledónia e quem vive no território?

Situada nas águas quentes do Oceano Pacífico, a cerca de 1.500 quilómetros da Austrália, a Nova Caledónia tem mais de 270 mil habitantes, em que mais de 40% são indígenas Kanak e cerca de uma em cada quatro pessoas (24%) é de origem europeia, a maioria francesa.

O arquipélago foi descoberto em 1774, pelo explorador britânico James Cook, e o seu nome é inspirado na Escócia. Anexado pela França em 1853 sob ordens de Napoleão, foi usado como colónia prisional até ao início do século XX e só 100 anos depois, em 1953, é que foi concedida a nacionalidade francesa a cidadãos da Nova Caledónia.

Qual é a importância da Nova Caledónia para a França?

Sendo um dos poucos países ainda com colónias ultramarinas, a França tem na Nova Caledónia um de cinco territórios entre o Oceano Índico e Pacífico, além da Polinésia Francesa, Wallis e Fortuna, Mayotte e a Ilha da Reunião, que são centrais para o plano do Presidente francês, Emmanuel Macron, em aumentar a influência francesa no Pacífico.

A Nova Caledónia é atualmente o terceiro maior produtor de níquel no mundo, um material que tem cada vez mais procura para a produção de baterias de carros elétricos.

Presidente francês declara estado de emergência na Nova Caledónia devido a motins

As tensões são de agora?

Não. A Nova Caledónia tornou-se oficialmente um território francês em 1946, mas poucas dezenas de anos depois, nos anos 70 e durante uma crescente procura pelo níquel que chamou pessoas ao arquipélago, iniciaram-se movimentos de independência dos indígenas Kanak contra Paris.

O conflito pareceu ficar sanado quando, em 1998, foi assinado o Acordo de Nouméa, que abriu caminho para uma autonomia gradual da Nova Caledónia e restringiu o voto em eleições locais aos indígenas Kanak, os seus filhos e migrantes a viver no território antes de 1998.

Este acordo permitiu, por três vezes, que os neocaledónios pudessem decidir o seu futuro através de referendos, que rejeitaram sempre a independência do território.

O que mudou?

A reforma constitucional, aprovada por França esta semana, veio mudar o Acordo de Nouméa, permitindo a quem vive na Nova Caledónia por 10 anos votar nas eleições locais do território, quebrando o acordo que vigorava.

A violência começou na segunda-feira, quando a Assembleia Nacional francesa votou em Paris a adoção da medida, depois de considerar as anteriores regras antidemocráticas.

Emmanuel Macron já anunciou que vai adiar as reformas para poder convidar representantes do território a Paris, para chegar a um acordo, o que deverá acontecer até junho.

Estado de emergência e Tik Tok proibido

Esta quarta-feira, França declarou o estado de emergência na Nova Caledónia e enviou para o território reforços militares e polícia para terminar com os motins.

Três indígenas Kanak e um polícia morreram durante os protestos de segunda-feira à noite, em que centenas de pessoas ficaram feridas, carros foram queimados, barricadas foram formadas nas ruas e lojas foram roubadas.

Pelo menos 10 pessoas foram detidas após a declaração de estado de emergência e o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, diz que a situação “permanece tensa”.

Como medida adicional, a rede social Tik Tok foi proibida no país, mas não foi explicado o porquê. Segundo o Le Monde, a aplicação foi restringida devido a “mensagens de ódio” e “apelos à violência” partilhados nos últimos dias.

Ler artigo completo