Myanmar ultrapassa Afeganistão e torna-se maior produtor mundial de ópio

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Entre 2022 e 2023, os terrenos para cultivar papoilas de ópio em Myanmar aumentaram em cerca de 18 por cento, atingindo uma área de 47.100 hectares para culturas ilícitas, a maioria localizados no Estado de Shan. É o que indica o novo relatório da UNODC, a Agência das Nações Unidas para Drogas e Crime.

“Embora a área cultivada não tenha regressado aos picos históricos de quase 58 mil hectares cultivados em 2013, após três anos consecutivos de aumentos, o cultivo de papoila em Myanmar está a expandir-se e a tornar-se mais produtivo”, reporta o documento.

O país do sudeste asiático superou mesmo o Afeganistão, onde uma proibição imposta pelos taliban levou a uma queda de 95 por cento no cultivo de papoilas, acrescentou a agência. Estima-se que o Afeganistão tenha produzido 330 toneladas de ópio este ano.

1.080 toneladas de ópia

Em contexto de convulsão política e conflitos armados, Myanmar detém agora o título de maior produtor de ópio, elevando a produção em 36 por cento, o correspondente a 1.080 toneladas de ópio, em 2023, comparativamente com as 790 toneladas de 2022.

“As perturbações económicas, de segurança e de governação que se seguiram à tomada militar de fevereiro de 2021 continuam a levar os agricultores, em áreas remotas, a dedicarem-se ao ópio para ganharem a vida”, declarou o representante regional do UNODC, Jeremy Douglas, citado pela Associated Press.

O relatório observou ainda que o rendimento estimado do ópio aumentou 16 por cento, para 22,9 quilogramas por hectare, ultrapassando o valor máximo atingido em 2022. A agência da ONU atribui este crescimento a “meios de cultivo cada vez mais sofisticados, que incluem maior densidade de parcelas, melhoria da organização de plantas e práticas aprimoradas, como o uso de sistemas de irrigação e fertilizantes”.

A investigação aponta as razões para esta expansão do cultivo da papoila do ópio no Sudeste Asiático: “Está intimamente ligada à pobreza, à falta de serviços governamentais, a ambientes macroeconómicos desafiantes, à instabilidade e à insegurança” e, para os agricultores, “o resultado final é a economia simples”.

A UNODC, ao analisar os dados recolhidos, deixa claro que os agricultores ganharam cerca de 75 por cento mais do que no ano anterior. O preço médio pago aos produtores de ópio aumentou 27 por cento, para cerca de 330 euros por quilo, demonstrando como o ópio se tornou atrativo como cultura e mercadoria com grande procura.O ópio, colhido das flores da papoila, é a substância base usada para produzir morfina e heroína.

A par do relatório, a UNODC acrescenta informação de contexto para explicar que a produção de drogas na região “alimenta uma economia ilícita crescente que reúne altos níveis contínuos de produção de drogas sintéticas e uma convergência de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e atividades criminosas online, incluindo casinos e operações fraudulentas".

A UNODC estima que a "economia do ópio" em Myanmar tenha um valor de entre um a 2,4 mil milhões de dólares (entre cerca de 930 milhões e 2,2 mil milhões de euros), o que equivale a entre 1,7 e 4,1 por cento do produto interno bruto (PIB) do país.

A área faz parte do conhecido “Triângulo Dourado”, onde as fronteiras de Myanmar, Laos e Tailândia se encontram e onde está identificado um foco de produção e tráfico de droga, nomeadamente de metanfetaminas e ópio.

A produção de ópio e heroína floresceu historicamente no território, em grande parte devido à ilegalidade nas zonas fronteiriças onde o braço armado do Governo central de Myanmar não tem conseguido chegar. No entanto, os militares no poder controlam várias milícias de minorias étnicas, algumas delas parceiras no tráfico de droga.

c/ agências

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