Nelson Mandela: Herói, Príncipe, Advogado

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No dia 18 de julho de 2003, num salão de festas em Joanesburgo, aproximei-me da mesa em que estava sentado o, então, ex-presidente Nelson Mandela para lhe falar do livro que no dia anterior havia deixado com os funcionários do protocolo: “35 Sonnets”, de Fernando Pessoa. Era o meu presente de anos para Madiba, que nesse dia fazia 85 anos.

Graça Machel, a intelectual eternamente curiosa, achara tão interessante o que eu lhe tinha contado que me pediu para o referir diretamente ao marido: o livro de Pessoa fora editado em Lisboa em 1918, exatamente o ano em que nasceu Nelson Mandela. Não me lembro exatamente o que disse, tão deslumbrado fiquei na presença do herói de África e do mundo.

Por razões tão improváveis quanto honrosas, eu estava na festa privada do aniversário de Mandela, que reunia cerca de 200 pessoas entre familiares e amigos. A festa mais geral, no dia seguinte, meteria cerca de 2.000 convidados de todo o mundo. Mas ali era a celebração da vida do príncipe Rolihlahla, cuja linhagem tribal havia de ser ilustrada nas cenas teatralizadas que netos e sobrinhos-netos organizaram para o evento.

Mandela deixara a presidência da África do Sul quatro anos antes. Na minha mesa, onde se sentavam os seus advogados e velhos amigos George Bizos e Albie Sachs, esperava-se uma intervenção de caráter pessoal. Quando Nelson Mandela subiu ao pequeno palco onde decorrera a peça biográfica, anunciou que iria falar de três temas mais importantes do que a sua vida.

E atacou o primeiro: o horror da guerra (a invasão do Iraque pelos EUA tinha acontecido uns meses antes). O segundo tema foi a Sida e as políticas erradas e injustas do governo de Thabo Mbeki, que lhe tinha sucedido como presidente do país. Por último, o escândalo da fome num mundo onde impera o desperdício. Como alguém então disse, mesmo na festa do seu aniversário Mandela estava a ser Mandela.

Em 2003 tinham já passado 51 anos desde que o jovem Nelson Mandela fizera o exame de acesso à profissão de advogado, tornando-se um heroico defensor dos direitos da maioria negra sul-africana em luta pela igualdade, a liberdade, a democracia. O seu compromisso com a justiça esteve sempre presente, quer fosse como advogado, como político ou como príncipe do povo Tembu.

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