Antes de ser o Special One, Mourinho apresentou-se ao mundo com uma célebre correria junto à linha lateral para festejar o golo de Costinha, no último minuto, que garantiu a qualificação dos dragões para os quartos da Liga dos Campeões de 2003/04, que venceriam. Mas voltemos ao princípio, duas semanas antes, na Cidade Invicta... No Dragão, o FC Porto olhava o gigante inglês de frente. O ainda recentemente inaugurado anfiteatro portista encheu-se de fãs - dos dois clubes - para presenciar uma partida que prometia. Alex Ferguson escalou um onze ambicioso, onde na frente pontificava a dupla Van Nistelrooy-Saha, deixando no banco o ainda jovem Cristiano Ronaldo. Por sua vez, Mourinho apostava num meio-campo reforçado com Pedro Mendes e o russo Alenichev. Costinha ficava guardado para a segunda mão... O jogo no Dragão foi espetacular. Os azuis e brancos foram surpreendidos pelo golo madrugador do sul-africano Fortune, que aproveitou uma defesa incompleta de Baía, mas reagiram com dois golos do também sul-africano Benni McCarthy, o segundo dos quais uma cabeçada extraordinária que Tim Howard apenas acompanhou com os olhos. No fim, Roy Keane foi expulso e o treinador escocês ganhou uma dor de cabeça para a segunda-mão. Duas semanas depois, o FC Porto chegou ao Teatro dos Sonhos para jogar o jogo pelo jogo, tentando não cair no risco de esperar pela iniciativa dos locais. Mourinho escolheu um onze votado para o sucesso e atrás o quinteto que era garantia de sucesso: Baía, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Nuno Valente e Paulo Ferreira. No miolo havia a magia de Deco, o encanto de Alenichev, o pulmão de Maniche e a regra e ordem de Costinha. Na frente, Carlos Alberto e Benni McCarthy tinham ordem para pôr a defesa mancuniana em xeque. Apesar das cautelas lusas, a toada do jogo revelou um Manchester incisivo na procura do golo. Ao 23º minuto, o holandês van Nistelrooy apareceu isolado, mas Baía roubou-lhe o golo. Contudo, os ingleses não desistiram e a pressão acabou por dar frutos com o golo de Scholes aos 32 minutos. Mesmo a chegar ao intervalo, o médio inglês podia ter bisado, mas o russo Ivanov invalidou o golo por fora de jogo depois da indicação errada do auxiliar. Se na primeira parte, aqui e ali, o FC Porto já tinha deixado a defesa dos red devils em sentido, na segunda parte, muito por fruto das alterações de Mourinho, o campeão português foi apertando o «nó górdio» em volta dos ingleses, como que asfixiando o adversário, adormecendo a fera e esperando pelo momento exato para desferir o golpe final. Um golo que fica na memória da liga milionária @Getty / PAUL BARKER O Manchester aceitou o repto e recuou mais um pouco, acabando por pagar caro no minuto 90 quando Costinha foi mais rápido que os defesas e chegou primeiro à bola defendida por Howard, rematando para a baliza com convicção. O médio avançou para a bandeirola de canto, perseguido pelos colegas, mas imagem de marca da vitória portista foi a épica corrida de Mourinho junto à linha final. Minutos depois, Ivanov apitou para o fim do jogo e o FC Porto fez história, abrindo caminho para uma aventura que seria coroada de sucesso, alguns meses depois, em Gelsenkirschen.Vitória suada made in South Africa
Olhar o gigante nos olhos
Golpe de teatro