Nigéria quer voltar ao trono: «Não somos os maiores favoritos, mas somos candidatos»

1980, 1994 e 2013. Três títulos, sempre com intervalos maiores entre cada um deles. A Nigéria é um dos países com mais sucesso na Taça das Nações Africanas (CAN), pelo que a edição de 2023 representa mais uma oportunidade da seleção estar à altura dos pergaminhos e recuperar uma coroa que já lhe pertenceu em múltiplas ocasiões. Mais vitórias do que a Nigéria só o recordista Egito (sete), Camarões (cinco) e Gana (quatro).

Para esta nova empreitada, a seleção nigeriana conta com um português como mestre da obra: José Peseiro. O técnico de 63 anos quer devolver à glória uma seleção que passa dificuldades, mas que ainda assim tem de ser colocada no leque das candidatas. Numa edição que conta ainda com mais dois treinadores lusos (Rui Vitória na seleção do Egito e Pedro Soares Gonçalves com a de Angola), procura-se quem possa fazer companhia a Carlos Queiroz, o único treinador português a jogar uma final do CAN até hoje (vice-campeão em 2021, ao serviço do Egito).

No lançamento da 35.ª edição desta competição que já há muito entrou na fase adulta, o zerozero conversou com o selecionador nigeriano para obter mais informações sobre o trabalho desenvolvido até ao momento e o que se pode esperar da Nigéria no maior torneio de seleções do continente africano. Esta é uma das várias peças que o nosso portal preparou para si.

No meio do equilíbrio, nigerianos querem ser candidatos

A edição do CAN que se avizinha promete ser das mais equilibradas dos últimos anos, na ótica de José Peseiro. O experiente técnico apresenta-se consciente das dificuldades que esperam a seleção da Nigéria, mas também certo da qualidade que possui no elenco e que lhe permite sonhar com uma candidatura ao trono.

«Há muito equilíbrio. Vai ser muito difícil passar a fase de grupos. Se virem os resultados da qualificação para o CAN e para o Mundial, vêem a dificuldade em ganhar e impor-se», começou por nos dizer, antes de deixar o aviso: «Numa competição curta, basta um deslize e tudo pode acontecer. A Nigéria é das seleções mais fortes de África e nas últimas cinco grandes competições esteve em três. Em algumas não passou a fase de grupos.»

O jogo de estreia é de importância extrema, na opinião do técnico português. «As coisas não correrem bem, por infelicidade ou alguma coisa, pode hipotecar a missão de uma seleção. Esta é a realidade», afirmou. Peseiro alertou também para a dureza da prova e deu exemplos bem concretos: «Há muita igualdade. Podemos falar em duas ou três equipas que têm mostrado mais, mas Marrocos, por exemplo, não ganha um CAN há anos [n.d.r. A única vitória foi em 1976]. É das melhores seleções africanas e não ganha o CAN. Muitas vezes a melhor equipa pode não ser a que ganhou. Não é uma prova de regularidade, é um torneio curto e a eliminar.»

Se a prova se adivinha equilibrada, não é de estranhar que José Peseiro coloque várias seleções no lote de candidatas. Umas mais do que outras, é certo, mas ainda assim o leque é vasto e o técnico português coloca a «sua» Nigéria lá no meio, já depois de dado todo o contexto que o levou até aqui.

«Quando assinámos pela Nigéria, o objetivo era puramente desportivo. Por isso, assinámos só até ao fim do CAN. Queríamos apurar-nos e fizemo-lo. Agora queremos ganhar o CAN. Não somos os principais favoritos, isso de certeza absoluta. Existem as equipas do Mundial [n.d.r. Senegal, Tunísia, Marrocos, Camarões e Gana] e às que não estiveram podemos juntar o Egito, que tem uma grande seleção e é sempre candidato, a Argélia, a Costa do Marfim e a Nigéria», previu.

Só aqui já estão nove candidatos, mas José Peseiro também chama a atenção para possíveis outsiders: «Não estou a reduzir a apenas estas seleções, porque posso dizer que a Guiné Equatorial, que é do nosso grupo, no último CAN chegou mais longe do que a Nigéria. E o Mali. Há outras seleções. Senegal e Marrocos são mais candidatas que as outras, mas há uma Costa do Marfim a jogar em casa e que tem uma grande seleções. Há outras que podem surpreender.»

«Se queremos ganhar, temos de conviver com a pressão»

País com história no CAN, tendo em conta que já venceu por três vezes, a Nigéria apresenta-se na Costa do Marfim para tentar colocar fim a uma seca de 11 anos. Há tanto tempo a ansiar pelo quarto título, os mais de 200 milhões de habitantes do país são fator de pressão extra para a equipa.

«Traz mais pressão. Estou na Nigéria porque achei que é uma seleção com história e jogadores de qualidade. Vim à procura de um título do CAN. Há seleções com maior pressão e a Nigéria é um país muito específico. São mais de 200 milhões de habitantes, vivem o futebol e exigem tudo dos nossos jogadores. Isso é bom», observou Peseiro.

A um país com responsabilidade, tendo em conta os desempenhos anteriores, junta-se um povo apaixonado pela modalidade. A pressão que disso advém, para José Peseiro, não é necessariamente negativa. «A responsabilidade só vem para quem cria expetativas. Uma seleção que já ganhou o CAN, e não é só a Nigéria, tem pressão. Se queremos ganhar, temos de conviver com a pressão. Temos de mostrar o nosso valor e mostrar que podemos repetir o título. Não somos os maiores favoritos, mas somos candidatos», disse.

Antes da competição, a Nigéria vai ter um estágio de cerca de dez dias para ultimar pormenores. «Não é em dez dias que se vai mudar alguma coisa. É ir buscar o que fizemos até agora, o trabalho de um ano e meio, e construir alguns planos estratégicos consoante os adversários que vamos ter», explicou José Peseiro, que adiou a conversa sobre o futuro para outra altura: «Já por duas vezes a Nigéria quis renovar e eu, para já, não quis. Assinei até ao final do CAN, que seria no último julho. Foi adiado para janeiro. O objetivo é chegar ao final do CAN, lutar para vencê-lo e conseguir vencê-lo. Depois logo veremos.»

Nota: O zerozero tentou chegar à conversa com os três selecionadores portugueses em prova. Infelizmente, Rui Vitória não se mostrou disponível.