«No Flamengo tivemos jogadores a fazer 40 jogos e alguns estavam em risco de lesão desde início»

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Arrancou, na tarde desta quinta-feira, a sexta edição do Fórum Internacional da Quarentena da Bola, espaço de debate criado por Rémulo Marques, antigo jornalista e diretor desportivo com passagens por Boavista, Fafe, FC Zimbru, Leixões e Camacha. 

A primeira sessão do evento que tem o zerozero como media partner contou com a presença de quatro preparadores físicos, pelo que temas como a gestão de cargas dos atletas e a utilização e interpretação de dados GPS no mundo do futebol foram o prato forte da conversa.

Márcio Sampaio, até há poucos dias elemento da equipa técnica de Jorge Jesus no Al Hilal, partilhou uma história curiosa da altura em que esteve, juntamente com o técnico, no Flamengo.

«Quando chegámos, o clube tinha uma estrutura com algumas pessoas na parte do GPS. Faziam contas, gráficos, equações, relatórios com 50 páginas e análises semanais nas quais indicavam os jogadores que iriam estar em risco de se lesionar. No Brasil tinham a ideia que os jogadores não podiam fazer dois ou três jogos, faziam o que chamavam de 'rodízio' (trocas constantes de jogadores). Não mudámos nada em relação ao que vínhamos fazendo: jogavam os melhores. Tivemos jogadores que fizeram 40 jogos seguidos e alguns estavam em risco de se lesionar praticamente desde início. Nunca tirei um jogador do treino por causa dos dados de GPS. No fim, essas mesmas pessoas já diziam que o que apresentavam antes se calhar não valia tanto a pena», vincou, sublinhando ainda a necessidade de os dados apresentados serem interpretados de forma cuidadosa. 

Entrando de forma mais aprofundada nesta questão das lesões, Ricardo Silva, preparador físico que vinha trabalhando com Carlos Queiroz na seleção do Irão, deu a conhecer os elementos que considera mais importante na prevenção de problemas físicos: «Sono, boa alimentação, descanso e hidratação; considero que ginásio é mais treino do que trabalho de prevenção. Para além disto tudo, é fundamental conhecermos o historial de lesões do plantel com o qual trabalhamos.»

Nuno Cerdeira, preparador físico de Luís Castro no Al Nassr, deu ênfase à multiplicidade de cenários com os quais uma equipa técnica pode ter de trabalhar. «Há certos atletas que não cumprem em nada com o que chamamos profissionalismo e nunca se lesionam. E o oposto também acontece. Aqui entra a questão da genética e do atleticismo. É importante avaliarmos também a forma como devemos usar o GPS em jogo, temos de perceber o que devemos ou não partilhar com o treinador. Não podemos dizer para tirar ou manter um jogador apenas porque o mapa está verde, amarelo ou vermelho», explicou.

Por fim, Paulo Mourão, elemento da equipa técnica de Paulo Fonseca no Lille, debroçou-se também sobre a questão da prevenção de lesões: «Defendemos que um jogador está em risco de lesão porque vem lesão. Nesse caso, há uma reunião com o médico, que nos faz o ponto da situação. É medido tudo, a importância do jogador, a importância do jogo... Em risco de lesão estão todos. Prevenir lesões é fácil, basta colocar o jogador sentado no banco e isso não acontece. Risco há sempre, depois é uma questão de medir o risco, o que nem sempre é fácil. Um jogador joga 20 minutos, se jogar 30 já se lesiona? É como a data de validade dos iogurtes, se passar um dia já não podemos comer?»

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