No luto, a herança de Eriksson: «O que recordamos no fim é um gentleman»

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Já trazia aviso, uma vez que o próprio revelou no início do ano estar a batalhar um cancro, mas a notícia da morte de Sven-Goran Eriksson foi, ainda assim, encarada com muita tristeza por todos os que estão familiarizados com o nome do histórico treinador.

Dia de luto na Suécia, onde nasceu e iniciou a sua icónica carreira, mas não só. Itália, Inglaterra, China, México... A perda foi sentida um pouco por todo o Mundo e Portugal, onde o sueco conquistou cinco títulos em cinco temporadas ao leme do Benfica, não foi exceção.

Aqui despedimo-nos de um dos grandes nomes do desporto, tentando fazê-lo, dentro do possível, num jeito de celebração. Para marcar a ocasião, o zerozero procurou especificamente os dois (ex-) jogadores que Eriksson utilizou ao longo dos anos passados em solo luso: António Veloso e Vítor Paneira.

A pessoa «diferente»

«Recebi a notícia com muita tristeza, porque foi de facto um treinador que me tratou bem, a mim e a todos. É algum pesar que sinto pela morte dele». Assim começa o relato de António Veloso, antigo capitão do Benfica que, no que toca a jogos sob a alçada de Sven-Goran Eriksson, só é superado por três nomes: Attilio Lombardo, Sinisa Mihajlovic e Roberto Mancini.

Recentemente homenageado na Luz (veja o vídeo abaixo) @Kapta+

Também Vítor Paneira, o segundo jogador que mais vezes vestiu a camisola encarnada sob o leme deste treinador, lamentou a perda, mesmo que não tenha sido uma surpresa: «Infelizmente já era uma notícia esperada por todos», começou, «Já tínhamos de alguma forma nos despedido do Eriksson em abril, na Luz, e sabíamos que dificilmente o voltaríamos a ver.»

Mas mais do que os métodos inovadores ou o futebol vencedor, aquilo que mais rapidamente domina a conversa sobre este treinador sueco, com aqueles que com ele privaram, é a sua maneira de ser...

«Cada treinador tem a sua forma de trabalhar, ninguém é igual a ninguém, mas respeitávamos bastante a maneira como ele era. Ele tinha uma forma de falar em que tinha razão e nós tínhamos de assumir as coisas. Não nos atingia, simplesmente dizia. E nunca ninguém se chateava, ao contrário do que acontecia com outros treinadores. Isso era importante, porque depois dávamos tudo por ele», atira Veloso. Paneira segue o mesmo caminho:

«Tinha a sua parte discreta, sensível e cuidadosa com as pessoas. A forma como se importava com a nossa família, connosco, fazia dele uma pessoa diferente e muito avançada para a época. Ele sabia o que queria e conseguia transmiti-lo para a equipa, porque não era alguém complicado. Era objetivo, prático, e o que recordamos no fim é um gentleman


O treinador «revolucionário»

Hoje treinador, Vítor Paneira, ao leme do Varzim, vê essa objetividade como algo com que se identifica e que por isso incorporou na sua forma de trabalhar. 

«Era um treinador completamente revolucionário, foi sempre inovador e mudou o que era o treino e o balneário. Eu identificava-me muito com a forma prática como ele abordava os jogos e conseguia transmitir confiança à equipa com simplicidade», disse, à conversa com o nosso jornal.

Sven-Göran Eriksson
Benfica
Total

234 Jogos
159 Vitórias
48 Empates
27 Derrotas

527 Golos
145 Golos sofridos

ver mais >

O antigo extremo fala de um «grande treinador», que era admirado por todos, especialmente depois da conquista de campeonatos difíceis, mas atribui especial valor à forma como Eriksson soube tirar o melhor da equipa através do foco nos elementos principais do futebol:

«Recordo-me de uma vez, na Suécia, em que fomos treinar e vínhamos todos de ténis para correr no parque, que era o que se fazia na altura. Ele muito surpreendido olhou para nós e perguntou se o campo tinha árvores no meio. "Chuteira, campo, bola", disse-nos», recorda.

«Era um homem muito prático. Ele acabava sempre a palestra com "bom equipa, jogar forte, pressão, pressão, pressão!" Depois nós só tínhamos de fazer o resto.»

Adeus, Eriksson

Para qualquer adepto do Benfica ou do futebol português, António Veloso é um nome que dispensa apresentações. Foram 535 jogos com a camisola das águias, conquistando mais de uma dezena de títulos!

Fez pouco menos de um terço desse total sob o comando de Eriksson, na soma das duas passagens do sueco pela Luz, mas nem assim esquece a importância. Tanto na fase inicial, quando era jovem e não esperava jogar tanto, como numa fase final em que foi convidado a reinventar-se.

«O que guardo dele é a oportunidade que me deu. Eu jogava a defesa direito, mas houve uma altura em que foi necessário jogar a defesa esquerdo. Eu disse "mister, eu quero é jogar, seja onde for" e ele começou a colocar-me à esquerda. Aí fiquei até ao fim da minha vida.», recordou, em declarações ao zerozero, o ex-internacional.

«O importante para mim é o que fiz pelo Benfica, que foi e é o meu clube de coração, mas o Eriksson foi o grande treinador que eu tive. Pela maneira dele de ser, por tudo.»

Ninguém esquecerá.

"Don't be sorry, smile. Thank you for everything, coaches, players, the crowds, it's been fantastic. Take care of yourself and take care of your life. And live it."
Sven Goran-Eriksson.

pic.twitter.com/xZz9Ayd5fT

— Jake Humphrey (@mrjakehumphrey) August 26, 2024

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