Nove artistas da Bienal de São Paulo trazem a Luanda "Coreografias do Impossível"

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Numa área de dois mil metros quadrados, a mostra denominada "Coreografias do Impossível", apresentada hoje em conferência de imprensa, em Luanda, vai proporcionar aos visitantes obras de artistas de Angola (Januário Jano), África do Sul (Ilze Wolff), Brasil (Aline Motta), França (Sarah Maldoror), Marrocos (Bouchra Ouizguen), Vietname (Trinh Minh-ha), Zimbabué (Nontsikelelo Mutiti) e Portugal (Carlos Bunga e Raquel Lima).

Januário Jano e Carlos Bunga apresentam duas obras tridimensionais, com o artista interdisciplinar angolano a trazer um conjunto de vinte fotografias com uma visão histórica e memorialística, refletindo sobre a identidade pós-colonial em Angola, e o artista visual português a exibir uma instalação `site-specific`, que questiona a transitoriedade das estruturas sociais e arquitetónicas, convidando o público a interagir com o espaço de maneira sensorial, destacou a organização.

Foi criada uma programação de filmes e um espaço físico com a obra "Habitar el color" - com tinta espalhada numa enorme área do chão sobre a qual o público é convidado a caminhar descalço -, e uma exposição denominada "Baptism", com um conjunto de 20 fotografias que mostram o artista despindo roupas brancas.

A vice-presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Maguy Etlin, destacou a importância de o evento se realizar pela primeira vez em África e num país "com tanta conexão com a história do Brasil".

Segundo Maguy Etkin, Luanda foi escolhida porque "historicamente a relação entre estes dois territórios foi estabelecida ainda no período colonial da pior maneira possível".

"Mas mesmo nesse período havia uma rede de relações não oficiais que permitiam intercâmbio cultural, religioso, gastronómico, que contribuíram para moldar o que hoje entendemos como Brasil", disse.

Maguy Etlin frisou que o programa da amostra itinerante é uma iniciativa fundamental para que a bienal cumpra a sua missão de democratização do acesso à arte, ressaltando que cada amostra itinerante é acompanhada de educadores que estabelecem ponte entre o projeto curatorial e os diversos contextos locais.

"Em Luanda firmamos uma parceria com a Fundação Arte e Cultura para criar trocas de experiências e pinturas com educadores e estudantes da cidade", salientou.

Por sua vez, os curadores Grada Kilomba e Hélio Menezes destacaram que "Coreografias do Impossível" visa entender como artistas criam possibilidades dentro de um mundo impossível, dentro de contextos impossíveis.

"De que maneira esses contextos, que são contextos coloniais, violentos, de enormes impossibilidades, também impactam na criação da linguagem artística, ou seja, de que maneira, qual é o termómetro, a temperatura do momento, no mundo para que, longe de se curvar às impossibilidades e às violências, as enfrentam, reagem a elas, as contornam", disse Hélio Menezes.

Grada Kilomba realçou que interessava levantar questões, "um dos exercícios mais importantes", vincando que a bienal não definiu um tema.

"Com a sabedoria que um tema está sempre ancorado a definição e a uma constelação de poder (...), acima de tudo queríamos dar um olhar e um movimento como nós andamos e caminhamos e resistimos dentro da impossibilidade (...) e como é que se criam rotas de possibilidade", disse Grada Kilombo.

Grada Kilombo afirmou que estas questões multi existenciais estão presentes em todas as obras de seis mulheres, que vão mostrar o seu trabalho, "geralmente visto como um trabalho artístico masculino", com as câmaras, edição e digital, e três homens, que mostram trabalhos tridimensionais.

A Bienal de São Paulo, a maior exposição de arte contemporânea do hemisfério sul, que já esteve na Argentina, Bolívia e agora Luanda, pretende também criar maior interação entre artistas e trabalhadores da cultura angolanos com outros artistas que têm pela primeira vez trabalhos expostos em Angola.

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