O adeus na terceira época: a tendência de José Mourinho

8 meses atrás 98

Esta terça-feira começou com um alarme vindo de Itália: José Mourinho foi demitido do comando técnico da AS Roma e é um treinador livre no mercado. 

O técnico português vai deixar a capital italiana após dois anos e meio e é tempo para uma curta análise aos seus últimos desafios. É que, nos últimos cinco clubes que orientou, em quatro deles saiu à terceira época. 

Maus resultados, motivos pessoais e melhores ofertas foram, no passado, apontados como motivos para o culminar dos vários desafios, mas a verdade é que só na sua primeira passagem pelo Chelsea - entre 2004 e 2007 - José Mourinho iniciou uma quarta temporada ao serviço de um clube. 

Desde aí, o técnico português passou por Inter, Real Madrid, Chelsea, Manchester United, Tottenham e, mais recentemente, a AS Roma. Vamos por partes...

Real Madrid: o sonho abafado por um genial Barcelona (2010-2013)

Apresentado em Madrid em 2010, José Mourinho escolheu mudar-se para a capital espanhola ainda com a Liga dos Campeões conquistada pelo Inter na capa dos jornais, e contra o desejo dos dirigentes do clube italiano. 

«Não volto a Milão com a equipa [após a conquista da Liga dos Campeões], porque se voltasse, já não saía do Inter. Eu queria ir para o Real Madrid, clube que já tinha recusado duas vezes. Sempre pensei que já não iria aparecer, mas surgiu numa altura em que eu era muito feliz com uma equipa que me preenchia, pela qual eu tinha paixão... Mas eu tinha de sair...», revelou em 2019, numa entrevista concedida ao Canal 11

@Carlos Alberto Costa

A sua estadia em Madrid durou três anos, resultou em três títulos conquistados - um campeonato, uma Copa do Rei e uma Supertaça -, mas faltou qualquer coisa a nível interno - onde o Barcelona de Pep Guardiola dominava - e também na Liga dos Campeões, onde foi sempre eliminado nas meias-finais. 

A continuidade era uma opção válida, mas a decisão da saída pertenceu ao próprio Mourinho que, posteriormente, admitiu que não estava feliz em Madrid.

«Quando fui para o Real, não era o momento certo para ir, mas foi quando eu quis ir. Era o momento em que o Barcelona era o mais forte. Foi minha a decisão [de sair do Real].  A minha filha ia estudar na Universidade de Londres e pensámos que nesse momento era importante unir a família. Também deixei o Real por motivos pessoais. É muito importante para mim ser feliz. Os meus melhores resultados foram quando estava feliz, e no meu terceiro ano em Madrid, eu não estava feliz», revelou em 2017, numa entrevista ao Telefoot

Mourinho, recorde-se, terminou a terceira temporada, mas optou por deixar o emblema madrileno e regressar a Inglaterra, poucos meses depois. 

Chelsea: o regresso onde já se foi feliz (2013-2016)

Após uma primeira passagem absolutamente histórica - dois campeonatos, uma Taça de Inglaterra, duas Taças da Liga e uma Supertaça -, o regresso de Mourinho a Inglaterra só podia ser através das portas de Stamford Bridge, no Chelsea. 

@Getty / Jordan Mansfield

No entanto, há quem diga que não se deve regressar onde já se foi feliz... A segunda estadia em Londres culminou com dois títulos - um campeonato e uma Taça da Liga -, mas várias polémicas internas e, posteriormente, os maus resultados, culminaram  no fim do casamento entre José Mourinho e o Chelsea

«Parecia haver uma discórdia palpável entre treinador e jogadores e sentimos que era hora de agir. O proprietário é forçado a tomar uma decisão muito difícil para o bem do clube. Estamos um ponto acima da zona de despromoção e isso não chega. Qualquer adepto pode entender que este clube está em apuros e que algo precisa de ser feito», explicou Michael Emenalo, diretor técnico do clube, no momento do despedimento. 

Mourinho deixou o clube após um início de época menos positivo, com 11 derrotas, cinco empates e nove vitórias em 16 jornadas. Poucos meses depois de ter sido campeão, o Special One abandonava o Chelsea na 16ª posição da tabela. 

Manchester United: o peso da herança Ferguson (2016-2019)

A temporada seguinte começava em Manchester, num clube que tentava ainda encontrar o sucessor de uma figura insubstituível: Alex Ferguson. Depois de duas temporadas de Louis Van Gaal, o Manchester United iniciou a época de 2016/17 com José Mourinho como treinador. 

Em Old Trafford, a primeira temporada foi de sucesso absoluto. O United conquistou três títulos - Liga Europa, Taça da Liga e Supertaça - e voltou a qualificar-se para a Liga dos Campeões. 

@Getty / Richard Heathcote

Na época seguinte, não houve qualquer título, mas o 2º lugar alcançado na Premier League voltou a dar confiança aos red devils. Porém, à terceira temporada, com 10 vitórias, sete empates e sete derrotas no início de 2018/19, Mou deixou o United no sexto posto da Premier League...

Além dos maus resultados, também as relações internas foram noticiadas como motivo para a saída do clube inglês. 

Posteriormente, questionado sobre a instabilidade técnica e respetiva falta de títulos que o United tem tido nos últimos anos, José Mourinho, bem ao seu jeito, definiu o 2º lugar conquistado em 2017/18 como um dos maiores feitos da sua carreira. 

«Às vezes comentamos aquilo que vemos, mas não sabemos o que está nos bastidores e aquilo que isso influencia o que vemos. Se eu disser que acabar em 2.º lugar com o Manchester United foi uma das melhores conquistas da minha carreira vocês vão dizer: ‘Este tipo está doido, ganhou 25 títulos e está a dizer que um 2.º lugar é um dos melhores feitos’. Mas eu vou continuar a dizê-lo, porque as pessoas não sabem o que se passou nos bastidores», afirmou em 2019, numa entrevista à beIN Sports

Tottenham: um novo Mourinho marcado pela pandemia 

Consumada a saída de Manchester em dezembro de 2018, José Mourinho afastou-se dos relvados durante alguns meses e regressou ao ativo 11 meses depois, para assinar pelo Tottenham. 

Um desafio que, desde logo, era diferente de todos os anteriores. Sem qualquer título conquistado na sua história, o Tottenham escolheu Mourinho para suceder a Pochettino, nome maior que levou os spurs à final da Liga dos Campeões em 2018/19, mas cujo início de época seguinte não correu da melhor forma. 

@Getty / Marc Atkins

A escolha de Daniel Levy, presidente do Tottenham, acabaria por recair sobre José Mourinho, que voltava ao panorama do futebol com uma postura diferente e rejuvenescida. No entanto, pode dizer-se que a experiência não foi bem sucedida. Pela primeira vez, Mou deixou um clube sem ter conquistado nenhum título e sob circunstâncias caricatas

É que, depois de uma primeira temporada marcada pela pandemia, a segunda até começou bem em termos de resultados, uma vez que o Tottenham chegou a liderar a Premier League até à 12ª jornada. Porém, uma série consecutiva de resultados menos consistentes levou os spurs a caírem na tabela. 

O empate com o Everton, a 16 abril de 2021, foi a gota de água. Após uma série de três jogos sem vencer - dois empates e uma derrota - Mourinho foi despedido seis dias antes de uma final que podia dar o primeiro título da história ao Tottenham, a final da Taça da Liga que acabou nas mãos do Manchester City (1-0). 

«A saída mais ridícula foi um clube [Tottenham] que tem uma sala de troféus vazia despedir-me dois dias antes de uma final. Essa é que foi...! O Tottenham nunca ganhou durante 50 anos. Estou a dias de uma final e não pude ir à final. É aquela que não cheira bem», afirmou o técnico português numa entrevista recente, ao podcast The Obi One

AS Roma: um amor correspondido 

Depois de oito anos em Inglaterra, deu-se o regresso a Itália. A AS Roma, pela mão do diretor desportivo Tiago Pinto, conseguiu fazer aquilo que seria impensável para os adeptos Giallorossi: contratar o Special One

@Getty /

Num autêntico novo contexto para Mourinho, a primeira época terminou da melhor forma, com o regresso da AS Roma à rota dos títulos e logo um troféu europeu: a recém-criada UEFA Conference League. 

A partir daqui, não havia volta a dar. José Mourinho já estava imortalizado no coração dos adeptos romanos que, na temporada seguinte, voltavam a chegar a uma final Europeia, na Liga Europa. O desfecho não foi favorável, com a vitória do Sevilla, mas a continuidade de Mourinho em Roma nunca foi colocada em causa, pelo menos por parte dos adeptos que idolatram o técnico português. Já do lado da direção romana, a conversa é outra...

O início desta terceira temporada voltou a ser penalizador para José Mourinho. A série de maus resultados internos - com oito derrotas e cinco empates em 22 jogos -, assim como as constantes questões disciplinares relacionadas com arbitragem saturaram uma relação que teve os seus pontos altos...

O divórcio chegou e a grande questão que se coloca é o que se segue na carreira de José Mourinho?
 

Portugal

José Mourinho

NomeJosé Mário dos Santos Mourinho Félix

Nascimento/Idade1963-01-26(60 anos)

Nacionalidade

Portugal

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FunçãoTreinador

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