O Alex Ferguson de Aghdam que atacou Braga: este é Gurbanov

6 meses atrás 43

Depois de ter caído com estrondo no jogo da primeira mão do play-off da Liga Europa, o SC Braga desloca-se agora ao reduto do Qarabag com o objetivo de lutar pela sobrevivência na prova. A missão adivinha-se difícil, isto na medida em que os arsenalistas partem com uma desvantagem de dois golos e jogar no longínquo Azerbaijão não é uma tarefa propriamente fácil.

Após ter conversado com Tiago Silva, guarda-redes do Zira FK, antes do jogo em Braga, o zerozero vira agora atenções para Gurban Gurbanov, treinador que, para além de ter impingido uma das derrotas mais embaraçosas da história ao SC Braga, assume-se como forte candidato ao «título» de Alex Ferguson de Aghdam.

Porquê evocar o lendário treinador do Manchester United para esta peça? Bem, pelos motivos óbvios: já não se fazem técnicos como o escocês, que passou 27 anos em Old Trafford. Corrigimos, já quase não se fazem. Neste adversário do SC Braga encontramos alguém que foge às regras do futebol moderno e cujo legado individual facilmente se pode confundir com o do Qarabag enquanto coletivo. Quase como se não existisse Qarabag sem Gurbanov e Gurbanov sem Qarabag. Ali está ele, todos os dias, sempre com a mesma rotina... há 16 anos. 16 longos e bem sucedidos anos para a maior potência da atualidade no futebol azeri.

Goleador anónimo com faro mais apurado para a tática

Antes de passar para o lado de fora do relvado, Gurbanov deu cartas do lado de dentro. Durante 18 anos, o azeri construiu uma carreira modesta no que diz respeito à dimensão que atingiu, mas respeitável no departamento dos números. Começou pelo clube local, o Kur, em 1988, quando o Azerbaijão ainda era parte da União Soviética.

Os melhores e mais relevantes anos, no entanto, foram vividos já no período pós-URSS. Destacou-se no futebol do país natal, mas teve várias passagens também por emblemas russos. Por onde andou, certo é que deixou sempre uma marca comum: o golo. Foram 178 remates certeiros em 399 partidas ao longo da carreira. Ainda hoje se assume como o melhor marcador da história da seleção do Azerbaijão, com 14 golos em 68 internacionalizações. 

Goleador anónimo pela pouca relevância internacional do contexto onde esteve inserido, mas uma lenda no Azerbaijão. Nos anos de futebolista, Gurbanov teve sempre sucesso pelos clubes onde passou: venceu um campeonato com o Turan (1993/94) e quatro com o Neftchi (1995/96, 1996/97, 2003/04 e 2004/05), antes de se retirar em 2005/06 ao serviço do Inter Baku, hoje Kesla FK. Em suma, passou pelos melhores clubes e conquistou títulos coletivos, mas também individuais, como o prémio de melhor marcador do campeonato azeri, em 1996/97 (25 golos), ou o de Jogador do Ano, em 2003.

Estamos confortáveis o suficiente para dizer que Gurbanov tinha faro para o golo e que tem ainda mais faro para fazer a sua equipa marcar golos. A transição para o papel de treinador deu-se pela porta do Neftchi, onde passou duas temporadas, mas foi no Qarabag que começou, em 2008, a construir uma história que ainda dura. Um romance de sucesso para as duas partes porque os melhores anos de um são também os do outro.

Eterno insatisfeito na procura por recordes

Gurban Gurbanov assumiu o comando do Qarabag no arranque da temporada 2008/09 e não demorou a trazer prata para o museu. O campeonato não correu de feição, com a equipa a posicionar-se no quinto lugar, mas a Taça viajou pela terceira vez para Aghdam.

O arranque era promissor, mas seguiram-se quatro temporadas de completa seca. A equipa foi crescendo, conseguiu algumas presenças no pódio do campeonato, inclusive o vice-campeonato em 2012/13, mas ainda não era o suficiente. Mas diz o ditado que depois da tempestade, vem a bonança e os anos que se seguiram foram gloriosos.

A quatro anos sem títulos seguiram-se seis campeonatos consecutivos. Pelo meio, mais três Taças e uma Supertaça. Gurbanov precisou do seu tempo, mas a máquina estava finalmente oleada e o Qarabag começou a colher os frutos, sendo recompensado pela crença no trabalho do técnico. 

Técnico no jogo da primeira mão @Kapta+

Arrancou a era dourada e o clube de Aghdam é hoje a maior potência do Azerbaijão. Venceu oito dos últimos nove campeonatos e liderava por larga margem a edição de 2019/20, cancelada devido à pandemia de Covid-19. Lidera de forma isolada a presente edição. Em 16 anos, quase tantos como a carreira de jogador, Gurban Gurbanov colocou 13 troféus nas vitrines do museu do clube e, em caso de vitória no campeonato desta época, transforma o Qarabag no recordista de títulos no principal escalão azeri (partilha o trono nesta altura com o Neftchi, ambos com nove).

Também na Europa a dimensão do clube se tornou outra. Em 2010, Gurbanov tornou-se o treinador azeri mais bem sucedido nas provas europeias, com 16 vitórias, e em 2014/15 apurou a equipa pela primeira vez na história para a fase de grupos de uma competição europeia. Eterno insatisfeito, perseguiu e conquistou mais um recorde em 2017, ao fazer do Qarabag a primeira equipa do Azerbaijão a chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões. Curiosamente, teve nesse ano uma curta passagem pela seleção nacional, que decidiu abandonar em dezembro de 2018.

Esta é a primeira vez que o Qarabag joga a fase a eliminar da Liga Europa, isto depois de ter disputado este mesmo play-off, mas na Conference League, nas duas últimas épocas. E porque enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, Gurban Gurbanov também segue, fresco como se fosse o primeiro dia, na perseguição de mais história para o clube e para o futebol do Azerbaijão. Nesta eliminatória frente ao SC Braga, joga-se mais história: o Alex Ferguson de Aghdam tem em jogo a possibilidade de alcançar a melhor prestação europeia de sempre do Qarabag, que nunca foi mais longe do que isto. Metade do trabalho já está feito...

 SC Braga x Qarabag

 SC Braga x Qarabag

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