Audi RS Q e-tron, vencedor do Dakar 2024, é movido por dois motores elétricos, mas consome gasolina. Confuso? Nós explicamos neste artigo.
O Dakar é considerado o rali mais exigente do mundo. Uma prova tão dura que há quem considere que chegar ao fim já constitui uma vitória.
Uma prova que, ao longo dos anos, passou a ter tanto de resistência como de velocidade, elevando ainda mais os limite de homens, máquinas e, naturalmente da engenharia que «alimenta» este circo de aventura, adrenalina e coragem.
Este ano, quem venceu o Dakar na categoria máxima reservada aos automóveis foi a Audi, com Carlos Sainz. A combinação entre este «jovem» de 61 anos e o Audi RS Q e-tron revelou-se imbatível.
© Audi AG / DPPI Mas talvez tão interessante quanto o resultado, é a tecnologia que move este «monstro do deserto», que faz um barulho no mínimo… diferente.Que raio de som é aquele?
Será um avião, será um pássaro ou um comboio da CP em movimento — algo cada vez mais raro, diga-se de passagem. Nada disso, é um Audi RS Q e-tron e já vão entender que a comparação com um comboio não é assim tão disparatada.
Este protótipo é dono daquele que é, provavelmente, o som mais estranho do Dakar. Mistura os silvos dos motores elétricos com o troar de um motor de combustão:
É precisamente isso que acontece. Este Audi RS Q e-tron recorre a dois motores elétricos e a um motor de combustão.
Mas o motor de combustão não está ligado às rodas, está ligado a um gerador de energia… Confuso, não é? Um pouco, nós sabemos. Para simplificar, olhem para este Audi RS Q e-tron como se fosse 100% elétrico.
© Audi AG O RS Q e-tron tem dois motores elétricos — um por cada eixo — emprestados pelo programa de Fórmula E da marca alemã. Estes dois motores geram uma potência total combinada de 286 kW (389 cv).A alimentar estes motores encontramos uma bateria de 52 kWh de capacidade. Mas como nós bem sabemos, uma bateria com esta capacidade não é capaz de garantir energia suficiente para mais de 500 km, uma extensão que facilmente encontramos numa etapa do Dakar. Muito menos em ritmo de competição…
É aqui que entra em ação o motor de combustão, nomeadamente um motor com quatro cilindros, de 2,0 l, turbo, oriundo do programa de DTM da Audi. Este motor tem apenas uma função: alimentar um gerador que transforma o trabalho do motor de combustão em energia elétrica.
É graças a este motor, que está sempre em funcionamento e a trabalhar às 5000 rpm — daí o barulho, pouco convencional —, que nunca falta energia aos motores elétricos do Audi RS Q e-tron que venceu o Dakar 2024. Uma solução que não é propriamente nova…
© CP Desde os anos 30 que nos comboios, os motores de combustão são usados para alimentar motores elétricos. Na imagem: Locomotiva CP Série 1400.É mais complexo do que parece
Comparar um protótipo que venceu o Dakar com uma locomotiva é injusto. Apesar de serem soluções semelhantes, há um mundo a separá-las.
É que conseguir colocar a trabalhar em uníssono um motor de combustão, dois motores elétricos, uma bateria e quatro rodas não é fácil. Menos ainda quando colocamos esta tecnologia à prova numa maratona que percorre alguns dos locais mais inóspitos do planeta a 170 km/h de velocidade, durante milhares de quilómetros.
© Audi AG Onde é que fica o carregador mais próximo? Na verdade, pouco importa quando trazemos um motor 2.0 turbo na mochila. Para baixar as emissões, este motor foi alimentado durante toda a prova por combustíveis sintéticos.É aqui que a «magia acontece». Os engenheiros da Audi conseguiram fazer tudo isto funcionar através de um complexo sistema de gestão de energia. Não há sequer uma caixa de velocidades ou uma transmissão a ligar os dois eixos — não deixa de ser um elétrico…
No final do dia, são tudo «bits e bytes» a interpretar as ordens que o piloto transmite ao pedal do pé direito.
Depois, não basta funcionar, tem de ser tudo rápido e eficaz. Se tudo correr bem — e com um pouco de sorte à mistura, que também faz parte das corridas — a vitória pode sorrir ou não.
Como vimos neste Dakar, há várias soluções possíveis. A mais tradicional é a seguida pela Toyota que recorre a um motor V6 biturbo (que som épico!) para locomover a GR DKR Hilux Evo T1, ou esta da Audi com um complexo sistema que mistura octanas, lítio e eletrões no RS Q e-tron. Seja como for, para o ano há mais Dakar, mas sem a Audi, que após conquistar a desejada vitória este ano, não retornará em 2025.