O dilema da indústria automóvel na Europa

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É consabido que a indústria automóvel na Europa já viveu dias melhores. As notícias recentemente vindas a público que veiculam o encerramento de fábricas e de milhares de despedimentos fizeram soar vários alertas na Europa. Em causa, está a presente contração do mercado automóvel e, em especial, da venda de veículos elétricos.

Como resposta a indústria automóvel europeia está a fazer vários apelos a uma ação urgente que alivie as metas de descarbonização para 2025. Os fabricantes europeus estão obrigados a cumprir metas rigorosas de redução de emissões em 15% até 2025 (supressão dos veículos de combustão), com multas elevadas para quem não atingir este objetivo.

A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) está muito preocupada com o atual contexto num setor que representa 7% do Produto Interno Bruto europeu e emprega, direta e indiretamente, cerca de 13 milhões de pessoas, ou seja, 6% da força de trabalho da União Europeia (UE). Em Portugal, o setor representa mais de 100 mil trabalhadores e cerca de 5,5% do PIB.

As vendas de automóveis de passageiros na Europa diminuíram 4,6% em 2022 em relação ao ano anterior e a chegada dos automóveis elétricos chineses à Europa – e que tem perspetivas de grande crescimento – preocupa os construtores europeus.

Segundo os dados da ACEA, as vendas de veículos totalmente elétricos caíram 43,9% em agosto deste ano. Nos casos da Alemanha e da França as quedas foram de 68,8% e 33,1%, respetivamente. Os registos de carros elétricos plug-in, entretanto, caíram 22,3% no bloco de 27 membros.

O impacto desta situação nas bolsas também já se fez sentir. Nos últimos três meses, o preço das ações da Volkswagen caiu cerca de 24% e as ações da Peugeot (Grupo Stellantis) caíram mais de 50%.

As causas são fáceis de identificar: as metas de descarbonização para 2025; a falta de políticas de incentivo à compra de viaturas elétricas; a deficiente rede de carregamento na Europa (o que coloca sérias reservas a muitos consumidores no momento de transição para as viaturas elétricas); o elevado custo de produção dos automóveis (devido ao incontornável custo das baterias); e a concorrência aguerrida dos veículos chineses.

Os fabricantes chineses face aos fabricantes europeus conseguem produzir automóveis elétricos a um custo significativamente mais baixo, graças a um custo mais baixo de produção; ao controle da cadeia de fornecimento de baterias e componentes eletrónicos; e aos expressivos subsídios governamentais de Pequim.

A pandemia de Covid-19 expôs as vulnerabilidades globais da supply chain, especialmente ao nível da escassez de semicondutores, que são essenciais para a produção de veículos modernos, incluindo os elétricos e híbridos.

A transição para veículos elétricos também requer menos trabalhadores fabris do que os veículos convencionais, uma vez que os motores elétricos são mais simples de montar, recorrendo a processos de automação que permitem ganhos de eficiência e redução de custos. Obviamente que esta conjuntura gera preocupações sobre a perda de empregos na Europa, especialmente em regiões fortemente dependentes da indústria automóvel.

Esses fatores revelam como a indústria automóvel europeia está perante um sério dilema, pressionada por exigências ambientais, desafios tecnológicos e forte concorrência externa. Não tenho dúvidas de que o futuro do setor dependerá não apenas da capacidade de inovar, mas também de políticas eficazes para proteger a indústria e os empregos locais.

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