O “dividendo da paz” chegou ao fim

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A afirmação passou quase despercebida no nosso país, que tem estado entretido com as suas habituais guerras do alecrim e da manjerona, mas tem importância também para nós que vivemos neste pequeno jardim na costa oeste do continente europeu.

O ministro da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, afirmou no passado dia 16 que a era do “dividendo da paz” chegou ao fim e que nos próximos anos os países ocidentais terão de se preparar para a guerra.

Shapps não foi o primeiro a chegar a esta conclusão, pois nos últimos anos vários analistas têm chamado a atenção para este facto, mas não é todos os dias que um governante de uma grande potência ocidental avisa, preto no branco, que esse “dividendo da paz” que Margaret Thatcher anunciou aquando da queda do Muro de Berlim pertence ao passado. E, se assim for, os países ocidentais terão de investir a sério na defesa e de se preparar para um eventual confronto direto com a Rússia e seus aliados.

Os sinais de que o mundo caminha para uma grande guerra são claros para todos, trazendo à memória o que aconteceu nos anos 30 do século passado. A questão é saber se, ao contrário do que sucedeu nessa altura, conseguiremos impedir um conflito que, no limite, poderia colocar em causa a sobrevivência da civilização.

A única razão pela qual este conflito ainda não deflagrou é, como sabemos, o facto de a destruição mútua assegurada fazer prever que não haja vencedor num conflito entre a NATO e a Rússia. Desde os anos 50 que assim é. O problema é que, no mundo atual, as coisas são um pouco mais complicadas.

Além do risco, sempre existente, de um mal-entendido ou erro que provoque uma escalada, ou de ataques com armas de destruição maciça levados a cabo por grupos terroristas, há quem acredite, na NATO e em Moscovo, que é possível travar uma guerra convencional. Isto é, sem recurso a armas nucleares, um pouco à semelhança do que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, quando os dois lados se abstiveram, até ao último dia, de utilizar armas químicas, por saberem que os adversários também as tinham.

Claro está que tal conflito ceifaria as vidas de milhões de pessoas até que o lado perdedor estivesse prestes a usar armas nucleares. Outros especialistas acreditam que é possível atingir o adversário com mísseis supersónicos antes que aquele tenha capacidade de reagir, ou que é aceitável correr o risco de utilizar uma arma nuclear tática, no âmbito de uma estratégia de “escalar para de-escalar”.

Em suma, não falta no mundo quem se esqueça que a paz faz-se com os inimigos. Mas é inegável que, se queremos evitar a guerra, temos de nos preparar para ela, como reza o adágio latino.

Nos próximos anos, os países europeus terão de investir mais na defesa, em detrimento de outras áreas, bem como equacionar a reintrodução do serviço militar obrigatório, como já fez a Suécia. Com a Rússia a reforçar as suas forças armadas com mais 200 mil combatentes, a Ucrânia a perder terreno e uma possível vitória de Trump nas eleições de novembro, a Europa não pode dar-se ao luxo de parecer um alvo indefeso à espera de ser esmagada pelo Kremlin.

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