O impacto da IA na produtividade empresarial

No Dia Mundial da Produtividade, é imperativo refletirmos sobre o papel transformador da inteligência artificial (IA) no ambiente empresarial. A IA tem o potencial de revolucionar a produtividade dos trabalhadores qualificados mas, para tirar pleno partido desta tecnologia, as empresas devem cultivar uma cultura de responsabilidade, incentivar a formação contínua e ajustar as responsabilidades e funções dos trabalhadores dentro da organização.

IA: Um Impulso à Produtividade

Um estudo recente, realizado em setembro de 2023 e conduzido por uma equipa multidisciplinar de investigadores da Harvard Business School, The Wharton School, Warwick Business School e MIT Sloan, em colaboração com o Boston Consulting Group, revelou dados impressionantes sobre o impacto da IA em trabalhadores altamente qualificados. Os resultados mostram que, quando utilizada da forma adequada, a IA pode melhorar a produtividade dos trabalhadores em 40%. Contudo, há uma ressalva: utilizar a IA fora das suas limitações pode resultar numa queda de desempenho de 19%, em média.

A Fronteira Tecnológica da IA

Este estudo sublinha que os gestores deverão estar atentos àquilo a que os investigadores chamam de “fronteira tecnológica” da IA. Nem sempre é claro para os trabalhadores quais as tarefas que podem ser facilmente realizadas pela IA e quais exigem uma abordagem diferente. Fabrizio Dell’Acqua, autor principal do estudo, enfatiza a importância de compreender os limites da IA, de forma a maximizar os seus benefícios.

O estudo envolveu mais de 700 consultores da BCG que, de forma clássica neste tipo de estudos, foram divididos em dois grupos com utilizações distintas do ChatGPT: um grupo recebeu tarefas adequadas às capacidades do GPT-4, enquanto o outro grupo recebeu tarefas que, intencionalmente, ultrapassavam essas capacidades, promovendo o erro. Dentro desses grupos, os participantes foram ainda divididos em três condições: sem acesso à IA, com acesso ao GPT-4, e com acesso ao GPT-4 juntamente com uma orientação específica sobre a sua utilização.

Os resultados foram claros. No grupo “dentro da fronteira tecnológica”, onde as tarefas estavam alinhadas com as capacidades do GPT-4, a IA teve um efeito positivo. Os participantes que utilizaram apenas o GPT-4 verificaram um aumento de 38% no desempenho, enquanto aqueles que, adicionalmente, receberam uma orientação específica registaram um aumento de 42,5%. Notavelmente, os participantes com menor competência inicial beneficiaram ainda mais, com um aumento de 43% no desempenho, em comparação com 17% para os mais competentes.

No grupo “fora da fronteira”, onde as tarefas ultrapassavam as capacidades do GPT-4, a IA teve um efeito negativo. Os participantes que usaram apenas o GPT-4 viram uma diminuição de 13% no seu desempenho, enquanto aqueles que também receberam orientação adicional registaram uma diminuição de 24%.

Estes resultados sublinham a importância de não se confiar cegamente nos outputs da IA e da necessidade contínua da existência de julgamento humano.

Formação, Capacitação e Integração da IA

A introdução da IA nas empresas deve, por isso, ser acompanhada por uma forte ênfase na formação e capacitação dos seus trabalhadores. As organizações deverão investir na educação dos mesmos, assegurando que compreendem como e onde a IA pode ser eficazmente integrada nos seus fluxos de trabalho. Este processo de aprendizagem deve focar-se em:

– Esforço Cognitivo e Julgamento: Continuar a exercer o julgamento especializado e validar os outputs da IA. Embora a IA possa melhorar a qualidade do output de uma tarefa, a supervisão humana é essencial para garantir a precisão e a relevância desse output.

– Design de Interface e Integração: Desenvolver interfaces customizadas de IA intuitivas e descobrir pontos de integração eficientes nos processos. Desenvolvimentos (sejam eles internos ou externos) podem desempenhar um papel fundamental nesta área, minimizando erros e otimizando a usabilidade da IA.

– Redefinição de Funções e Cultura de Responsabilização: As empresas devem incentivar a redefinição das funções e tarefas dos colaboradores e promover uma cultura de responsabilização. É fundamental que os trabalhadores sejam capazes de explicar os resultados das suas tarefas sem depender exclusivamente da IA.

Este último ponto, refere-se ao processo de ajustar e redirecionar as responsabilidades e tarefas dos seus trabalhadores para melhor aproveitar as capacidades oferecidas pela IA e outras tecnologias emergentes. Esta abordagem é fundamental para garantir que a introdução de novas tecnologias não só aumenta a eficiência, como também melhora a produtividade e a satisfação dos trabalhadores.

Uma Implementação Eficaz

Para garantir a integração da IA de forma eficaz numa organização, é essencial adotar uma abordagem estratégica e bem planeada que assegure que a tecnologia é utilizada da maneira mais eficiente possível. Não havendo uma metodologia ou solução única,

1. Identificação de Tarefas: Investigar quais tarefas podem ser melhoradas com a IA e quais devem ser reservadas para os especialistas humanos.

2. Fase de Integração e Feedback: Implementar uma fase de integração onde os trabalhadores possam experimentar e receber feedback sobre o uso da IA.

3. Formação e Reconhecimento: Reconhecer e recompensar os trabalhadores que atualizam as suas competências e ajudam na formação dos seus colegas.

4. Colaboração e Inovação: Promover a colaboração entre diferentes posições dentro da empresa para encontrar um método de trabalho mais produtivo.

5. Desenvolvimento de Novos Métodos Trabalho e Melhoria Contínua: Criar expectativas e métodos de trabalho de longo prazo e que garantam a qualidade e a conformidade com os valores e objetivos da organização. Definição de um responsável por garantir este processo.

A IA tem o potencial de ser uma aliada poderosa na procura da excelência, através do aumento da produtividade e da integração da inovação. No entanto, a sua implementação deve ser abordada com uma estratégia bem definida, que inclua formação, redefinição de funções e uma forte cultura de responsabilização.

Só assim as empresas poderão garantir que a IA se torna uma ferramenta valiosa na melhoria da eficiência e na promoção de um ambiente de trabalho mais produtivo e inovador.