A transformação espiritual de Kevin Lidin é uma história extraordinária. O sueco de 25 anos abandonou a vida mundana, e as tentações do futebol profissional, para seguir o chamamento da fé. Misteriosos são os caminhos da felicidade. Do deboche em férias regadas a álcool e discotecas, mulheres e drogas, até à paz encontrada nas montanhas da Tailândia. Dentro de um mosteiro. qPerguntei a mim mesmo ‘o que é a felicidade’? Fiquei com demasiado tempo livre e interessei-me pelo meu desenvolvimento pessoal. Procurei novas coisas, abri os meus horizontes Kevin Lidin O zerozero procura entrar em contacto com o antigo internacional jovem sueco. Um email para o mosteiro na floresta de Chiang Mai, uma mensagem para o instagram de Kevin e uma resposta através da irmã, a solicitar apenas «compreensão pelo recolhimento». Assim seja. Seguimos viagem pelo diário do professor de yoga, atualmente a residir em Espanha, mergulhado numa vida de introspeção e auto-exploração. Longe vão os dias do médio prometedor, contratado pelo Pisa aos 18 anos e transferido aos 20 para o Bologna. Na pequena cidade de Lund, Kevin faz do futebol a base de todos os sonhos. Dos cinco aos 18 anos, entre o pequeno Lunds BK e o histórico IFK Malmo, o pé esquerdo promete mundos e fundos, uma carreira ao mais alto nível. «Saltitei entre esses dois clubes, até ter a oportunidade de jogar no maior torneio juvenil de Itália. Fiz testes no Pisa, tudo correu bem para mim e acabei por receber a oferta de um contrato profissional», conta em 2018 ao Pojkfotboll, da Suécia. De 2017 a 2019, ajuda o Pisa na Serie C [terceiro escalão italiano] e passa por um empréstimo ao Bologna. Nas redes socias, percebe-se a tendência para o exibicionismo, o dolce far niente, o culto da imagem e a vaidade. Na época 19/20, ainda ligado ao Pisa, onde é capitão da equipa primavera, segue por empréstimo para o Paganese, também na Serie C. É a última tentativa no futebol profissional. Lesões atrás de lesões, recaídas e desespero, o sinal de alarme acionado. Em poucas semanas, Kevin Lidin completa a metamorfose. Do wonderkid e galã nada resta. «Tive uma lesão grave no joelho, passei por seis cirurgias», conta Kevin, num vídeo partilhado pelo mosteiro tailandês. «Todo o propósito que eu criara com a minha identidade enquanto futebolista desapareceu ali. Tinha 21 anos e os sonhos destruídos.» A libertação surge através do yoga. «Perguntei a mim mesmo ‘o que é a felicidade’? Fiquei com demasiado tempo livre e interessei-me pelo meu desenvolvimento pessoal. Procurei novas coisas, abri os meus horizontes», continua Kevin Lidin, ao explicar o adeus a Itália, a passagem pela Tailândia e a escolha de Espanha. O curso de professor de yoga leva-o a privar com gente da área. Em novembro de 2023, a mutação radicaliza-se. Kevin deixa para trás os relógios de marca, os óculos de sol debruados a ouro, as roupas de estilistas famosos e segue para a Ásia. Na mão, uma mala de cartão e pertences básicos. «Vi que havia esse programa de 30 dias num mosteiro na Tailândia. Percebi que era esse o meu caminho. Iniciei as minhas práticas diárias de meditação e criei uma versão melhor do meu eu», confidencia Kevin Lidin, já longe da famosa Torre de Pisa e do Campo dos Milagres. Miraculosa, sim, é a convicção ao aceitar a plenitude asceta. Vidas separadas, rasgadas ao meio. O Antes do Yoga e o Depois do Yoga, o futebol profissional e a vida meditativa. Na Tailândia, ao longo de um mês, Kevin rapa o cabelo à gilete, enverga as vestes monásticas, é apenas mais Um. O Um maiúsculo, pois. Kevin garante que esse aproximar à perfeição não é uma utopia. Sente-o por todo o corpo, na acalmia da circulação sanguínea e no palpitar manso do coração. «Sei que a maior parte das pessoas prefere ir de férias, mas também sei que nas minhas férias eu acabava sempre exausto. Não vale nada, quando comparado à paz interior encontrada através da meditação», descreve, ciente do novo caminho trilhado. «Este ambiente no mosteiro foi perfeito para ligar a minha mente ao mundo. Aprendi mais nesses 30 dias do que em 15 anos na escola. Aprendi mais sobre mim e sobre a vida.» O titulo deste artigo é inspirado no livro O monge que vendeu o Ferrari, de Robin Sharma. Na hitstória de Sharma, o protagonista é Julian Mantle, um advogado formado em Harvard, milionário. Farta-se de tudo, o materialismo entedia-o. Nesta fábula da vida real, o estímulo de Lidin é o mesmo: o vazio sem fim do capitalismo frio.
«Dicas para a felicidade? Passar menos tempo ao telemóvel e nas redes sociais. Passar menos tempo com pessoas negativas», sugere o antigo jogador de Pisa e Bologna, agora devoto do yoga e do budismo.
Misteriosos são estes caminhos de Kevin Lidin, o monge que vendeu as chuteiras. «Tive uma lesão e passei por seis cirurgias»
«Aprendi mais em 30 dias no mosteiro do que em 15 anos na escola»