O pónei

3 meses atrás 39

Finalmente calou-se mas eu passei o resto da noite em branco a pensar de devia fazer queixa na receção ou se fazer uma chamada para a Sociedade Protetora dos Animais cá do sítio.

BOCHUM – Os meus vizinhos têm um pónei no quarto. É certo! Já passei por esta situação em hotéis como este que têm as paredes finas. Ouço tudo o que se passa atrás da minha cabeceira. A meio da noite fui acordado com um resfolegar poderoso. Dei uma olhada às horas e já passava das três. Não preciso de ser nenhum Poirot para perceber que era o som de um animal com fome. Só podia. A menos que o vizinho tivesse, de repente, tido uma vontade súbita de fazer flexões, uma hipótese tão estúpida que nem a coloquei. Para isso ia ao ginásio, não precisava do quarto. Virei-me para o lado fresco da almofada para tentar retomar e sono e comecei a ouvir um relincho. Primeiro baixinho. Depois passou a um arfar. Aí já me chateei: então por que diabo não davam um prato de alfafa ao animal? Estão à espera que abram os pequenos-almoços, queres ver? Se algo me irrita é gente que quer muito ter os bichinhos, mostram com orgulho fotos deles a todos os amigos, parentes e apenas conhecidos e, em seguida, no conforto do lar, estão-se nas tintas para, abrem-lhes a porta para eles irem mijar à rua e é um pau. Apiedei-me do cavalinho. E amaldiçoei os vizinhos: pessoas sem caridade! Deviam estar a dormir tão ferrados que nem escutavam o pónei. Certamente apanharam uma bebedeira na véspera e estavam a cozê-la. Belo par de jarras! Fiquei desperto. E à escuta. Tinha a certeza que ia apanhar o barulho dos dois a ressonarem que nem hipopótamos e só me chegavam os gemidos do equídeo que resfolegava ao mesmo tempo e, de um momento para o outro, começou a dar coices na parede adjacente à minha. Um, dois, três, quatro, coices e mais coices, sempre a relinchar, com a barriga a dar horas, é mais do que certo. Finalmente calou-se mas eu passei o resto da noite em branco a pensar de devia fazer queixa na receção ou se fazer uma chamada para a Sociedade Protetora dos Animais cá do sítio. Sinceramente incomodou-me. E, hoje fuzilei-os com o olhar quando saíram pela porta. Um tipo calmeirão, de barba ruiva e cheio de tatuagens, e uma gorducha de cabelo platinado com exageros de bâton. Pareciam uma junta de bois. E ainda estou aqui a pensar como é que, num quarto tão pequeno como são estes, o diacho do  casal guarda o pónei…

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