O protecionismo e a guerra dos chips

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Paira no mundo um crescente protecionismo e até as elites em Davos reconhecem esse novo Zeitgeist que acelerou com a invasão Russa da Ucrânia.

As recentes sanções contra a China na aquisição de semicondutores (chips) e de equipamento de fabrico dos mesmo reflete esse processo, já que a China só em 2023 gastou cerca de 349 mil milhões de dólares na importação de chips.

O argumento para as sanções desde a Administração Trump, seguidas por Biden, tem sido o de que a China não segue as “regras do jogo” e é necessário incentivar o regresso de empregos e indústrias aos EUA.

Tudo indica que os EUA identificaram a China como um rival geopolítico económico (e não é apenas o facto de não ser uma democracia) e vão tentar de tudo para atrasar a sua ascensão. Efetivamente, acabou a lua de mel no período onde as lideranças americanas viam Beijing como parceiro, era essa que começou com a célebre visita de Kissinger à China em 1971.

No combate às alterações climáticas, encontramos políticas públicas que colocam em causa o Acordo de Paris e, por exemplo, encontramos traços de protecionismo na União Europeia no Mecanismo de Ajustamento Carbónico Transfronteiriço que vai encarecer produtos importados para o espaço europeu e calcular a sua pegada de carbono.

A intenção é boa, internalizar as emissões de carbono de produtos importados para o espaço comunitário, mas na prática é um mecanismo de fomento de política industrial, como qualquer tarifa.

Nos EUA, a Administração Biden também tenta fomentar a energia verde com enormes subsídios para os veículos elétricos previstos no Inflation Reduction Act.

No entanto, a China já tem um modelo empresarial que hoje já é inovador (e também subsidiado), e aposta nas indústrias de futuro e até na produção de chips.

Empresas como a SMIC conseguem já fabricar chips avançados de até cinco nanómetros, ainda que usando equipamento ocidental, como a da empresa holandesa ASML, mas as sanções podem ter o efeito indesejado de acelerar a independência tecnológica de Beijing, que controla 90% produção global dos metais raros.

E isso significa um presente futuro próximo assente num “neo-protecionismo” que nem Friedrich List antecipou, em que os grandes países e blocos regionais vão explicitamente abandonar o processo de integração da economia global.

O autor assina mensalmente a coluna “A Multipolaridade”.

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