O regresso do Festival Músicas do Mundo de Sines

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Foram quatro anos de ausência do Festival Músicas do Mundo de Sines (FMM). Durante este interregno musical e do festival, certamente perdi grandes vozes e momentos inesquecíveis. Voltar ao FMM é sempre um momento único para poder tecer uma análise sobre a circulação cultural, em particular musical, visto que este festival apresenta sempre uma proposta cultural distinta.

O FMM traz sons e vozes de latitudes diferentes das habituais, o que representa uma programação musical rica e diversa em termos geográficos. Este ano teve uma menor presença dos estilos musicais africanos, o que constitui por si só uma agradável surpresa.

Aquando da divulgação da programação do festival nas redes sociais, houve quem tecesse um juízo crítico, demonstrando um dissabor pela ausência de grandes nomes ou artistas sonantes identificados com o fenómeno da world music. Esperava-se, pois, um festival mais fraco em relação às edições anteriores.

O FMM é um lugar de descobertas musicais e de estranheza inicial, mas, depois, tudo se encaixa dentro de uma conexão de emoções e de harmonia de almas. O último concerto de uma banda mexicana, Son Rompe Pera, colocou um castelo todo a cantar em uníssono, partilhando a mesma vibração. Festejou-se a cumbia mexicana no encerramento do festival.

O belo do FMM reside em assegurar a presença a cada edição sem conhecer, necessariamente, ou pelo menos de forma aprofundada, os artistas ou saber como será a sua programação. Espera-se por um mundo desconhecido porque no desconhecimento está a beleza. A beleza de ser surpreendido musicalmente.

O FMM não é um festival semelhante aos outros festivais em Portugal, procurando representar um mundo marcado pela diversidade linguística e pela diferenciação no estar dos festivaleiros. Cultiva-se, em particular, uma filosofia de subjectividades distintas e paisagens musicais amplas. As palavras carregam línguas e culturas diferentes, gerando um distanciamento entre a palavra e a significância dos termos cantados. Mas, a unidade consagra-se na emoção que perfuma o ambiente e torna-nos semelhantes na arte subjectiva de sentir.

De facto, o público, na sua maioria português, desconhece o sentido das palavras dos artistas dos quatro continentes, no entanto, embarca em cada proposta musical com entusiamo e atenção, evidenciando que a música possui a tal linguagem universal no que toca ao sensível.

O mundo sensível é intangível e é por isso que o FMM produz uma comunidade humana de partilha das mesmas condições emocionais. Cada presença neste festival é sempre uma oportunidade de experienciar o inaudito. Até ao próximo ano, FMM.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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