O Tanque ex-Napoli que foi camisola 10 em Braga: «Tive o azar de me lesionar»

9 meses atrás 87

A lista de jogadores que já vestiram a armadura de gverreiro e também a maglia azzurra não é extensa. Apenas dois têm SC Braga e Napoli no seu currículo.

Um deles foi Rolando, defesa central que acumulou mais jogos por Portugal (21) do que por qualquer um destes clubes. O outro foi Gabriel Bordi, avançado que também não conseguiu deixar uma marca forte ou prolongada, mas que guarda «afeto» por todos os 14 clubes que representou na carreira.

Na Argentina, de onde é natural e hoje vive, trabalhando como coordenador de formação de um clube local, era apelidado de Tanque. No futebol português, onde a passagem foi curta devido a lesões e outros fatores, era apenas Bordi, camisola 10 do SC Braga em 2002/03.

Hoje, em preparação para o duelo entre minhotos e napolitanos, quem conhece as duas casas falou ao zerozero, num curto passeio por memórias do futebol.

«Tenho boas recordações do Artur Jorge»

zz: Foi há mais de 20 anos que o Gabriel chegou a Portugal, em 2002. Ainda se lembra de como foi parar ao SC Braga?

GB: Quando a oportunidade do Braga surgiu eu jogava no Poli Ejido, do segundo escalão espanhol. Claro que me pareceu bem a possibilidade de jogar na Primeira Liga! Aceitei e a verdade é que fui surpreendido pelo clube, pelas gentes e pela bela cidade.

zz: Hoje falamos de um SC Braga que joga Liga dos Campeões. Nessa altura estava num nível diferente, não era?

GB: Foi um ano de transição. As contratações foram todas de escalões inferiores e o objetivo era a manutenção, tentávamos fazer o melhor possível e aprender com as situações. Eu também tive o azar de me lesionar e acabei por ficar apenas um ano.

zz: Mas ainda chegou a jogar bastantes minutos...

GB: Sim, mas era um desafio importante nessa parte da minha carreira e gostava de ter rendido mais. A parte física não me ajudou. Em Portugal e especialmente em Braga jogava-se em campos pesados, por causa da humidade e da chuva, e eu não estava habituado a isso. Depois passa num instante e quando te dás conta, acabou a temporada

zz: Ao fim dessa temporada a saída foi difícil. Rescisão contratual e chegou-se a falar de salários por pagar... Como foi essa história?

GB: Eu estava lesionado e queriam que eu me fosse embora, o que eu não aceitei porque não estava em condições de assinar por outra equipa. Queria ficar, recuperar e depois chegar a um acordo, mas isso não foi cumprido e depois foi falado devido aos salários.

Hoje é coordenador de formação @instagram clubargentinopenarol

zz: No fim, ficou tudo resolvido?

GB: Sim, sim... Nunca houve má vontade, só queríamos solucionar a situação porque é difícil quando estás sozinho noutro país. São coisas que acontecem no futebol.

zz: Sabendo que está tudo em boa memória, o que houve de mais especial na passagem pelo clube?

GB: Lembro-me que tinha vários companheiros que se identificavam realmente com o clube. Pertenciam àquele lugar e eram grandes pessoas.

zz: Jogou com o Artur Jorge, que hoje é o treinador so SC Braga...

GB: O Artur era uma pessoa muito boa, um verdadeiro companheiro. Tinha um grande caráter e por isso já nesse tempo era o capitão da equipa. Tenho boas recordações dele, do Barroso, do Quim, Castanheira... Jogadores que estavam acostumados à Liga Portuguesa, a esses grandes jogos com clubes como o FC Porto, Benfica, Sporting e não só.

Ligação napolitana e o duelo Champions

zerozero: É três anos antes de tudo isso que saltas para o futebol europeu para jogar no Napoli. Hoje é o campeão italiano, mas na altura estavam na Serie B...

Gabriel Bordi: Foi uma temporada muito distinta na minha carreira. Claro que os tempos mudaram muito, mas o Nápoles é o mesmo clube. Um clube enorme que ocupa uma posição de privilégio.

Durou menos tempo em Nápoles do que em Braga

zz: Já sentia alguma ligação especial ao clube, por vir da Argentina?

GB: Os argentinos e o Napoli têm uma certa relação por causa do Maradona. Era a equipa para a qual todos os jogadores queriam ir jogar e eu tive essa oportunidade. Foi uma experiência de aprendizagem na minha vida e foi-me útil mais adiante na carreira.

zz: Que memórias guarda dessa curta passagem por Itália e pelo Napoli?

GB: O que mais me impressionou no futebol italiano foi o fanatismo, que é muito semelhante ao que sentia também no futebol argentino. A qualquer sítio que vás, há adeptos e eles vivem aquilo sempre de forma intensa. É uma paixão que não se encontra em todos os países.

zz: Qual é a diferença entre o futebol português e o futebol italiano?

GB: São muito parecidos num aspeto: os jogadores têm muita condição física e são aguerridos. Claro que Itália leva um passo de vantagem, historicamente leva mais tempo num alto nível, enquanto Portugal sempre andou atrás das maiores equipas.

zz: E hoje, ainda segue estas competições e estes dois clubes?

qArgentinos e o Napoli têm uma certa relação por causa do Maradona

GB: Sim! Hoje estou retirado, mas sou coordenador de academia do clube da minha cidade [Peñarol Argentino] e por isso continuo ligado ao desporto. Gosto especialmente quando me ligam da Europa para falar acerca de futebol, é gratificante. Dá-me alegria saber que se lembram de mim passado tanto tempo.

zz: Contas ver esse confronto entre Napoli e SC Braga, para a Liga dos Campeões?

GB: Se tiver essa possibilidade, gostaria muito de ver o jogo.

zz: O coração vai apoiar alguma das equipas?

GB: Ui, como te hei de explicar... Sou hincha de um só clube, o Racing de Córdoba. Quero que ganhem sempre. Depois estive em 14 clubes e tenho afeto a todos, porque não foi só jogar, foi conhecer cidades, aprender idiomas, ter filhos... Viver.

Aqui demos por encerrada a entrevista, tratando de despedidas e agradecimentos, quando Gabriel Bordi optou por dar nova conclusão à sua última resposta, em relação ao jogo desta terça-feira:

«Pode ganhar o Braga, porque precisa e porque no primeiro jogo já ganhou o Napoli. Assim seria justo.»

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