Octávio Pudivitr prepara a luta do ano: «No início não sabia levar na cara mas agora...»

9 meses atrás 78

Octávio Pudivitr tem 36 anos e na sexta-feira disputa o combate pelo título de campeão mundial da UBO (Universal Boxing Organization). Nasceu em Moçambique, mudou-se para o nosso país aos 11 anos e depois de algumas incursões noutras modalidades de combate, fixou-se há cinco anos no boxe. E neste tempo já conseguiu muito - é o 143º melhor do Mundo e o 10º entre todos os lutadores africanos, encontrando-se em ringue no final da semana com colombiano Juan Boada, 153º do ranking. Estivemos à conversa com aquele que já é conhecido como 'Pequeno Myke Tyson', numa entrevista feita na antecâmara do grande combate. Uma fase decisiva e recheada de limitações...

"A última semana é extremamente difícil, porque é a semana que temos para perder peso e também para o trabalho psicológico pré luta. Eu, pessoalmente, estou sempre uns quilos valentes acima e tenho sempre de fazer um corte de peso de 8 a 10 quilos nessa semana, o que me obriga a ser muito rígido na alimentaçao. Muitos cortes alimentares e cortes de água, num trabalho sempre feito com o meu nutricionista", realça.

Octávio em destaque após um importante combate

Octávio em destaque após um importante combate

"No dia a dia, o trabalho é igual às outras fases, com treinos bidiários, por vezes três treinos por dia para colmatar alguns défices que temos em Portugal, em termos de material humano de treino e condições. Tenho de compensar isso com treino tático e técnico. Na última semana é mais o trabalho específico de corte de peso, como já referi, e treino focado no nosso adversário. É muito exigente a nível fisico e mental. É o principal para estarmos a postos para a luta", assinala.

Este verdadeiro fenómeno do pugilismo nacional é conhecido como o 'Pequeno Myke Tyson', pela semelhança de estilo e técnica de combate, e vem acumulando títulos a nível nacional e internacional, destacando-se o mais recente: campeão mundial pela WBU (União Mundial de Boxe), alcançado em junho. Mas a história deste lutador de sorriso fácil começou há muito tempo, quando trocou a pátria Moçambique por Portugal.

Matosinhos acolhe o grande combate já na sexta-feira

Matosinhos acolhe o grande combate já na sexta-feira

"Quando vim para Portugal, aos 11 anos, proveniente de Maputo, estava naquela euforia toda de vir para aqui. Vim com o meu irmão mais velho, o Vítor, e nem tínhamos noção de como a saudade ia apertar mais tarde. Pensámos que por ser viciados no Sporting, iríamos chegar cá, ver os jogos e conhecer os jogadores. E fomos para o... Porto [risos]", explica bem disposto, assegurando que as diferenças culturais foram complciadas de gerir nesta fase: "Numa primeira fase a adaptação foi complicada, por causa do choque cultural, do clima e da alimentação. Foi o choque enorme e ainda por cima longe dos nossos pais. Viemos para um colégio e os nossos pais não estavam cá. Mas fomos adaptando devagarinho, criando amigos e pessoas muito queridas que nos ajudaram muito. Amo Portugal como amo Moçambique."

O boxe acabou por ser uma paixão tardia, uma vez que apenas 'descobriu' a modalidade aos 31 anos. Apesar disso, já teve oportunidade de treinar com estrelas globais da modalidade, como Dillian Whyte, e com treinadores como IQ Xavier Miller ou Harold Shadow, o ‘coach’ do lendário Lennox Lewis.

Mas antes de vestir as luvas, teve outras paixões: "Fui para os desportos de combate e comecei no boxe. Mas quando fui treinar levei duas ou três pancadas e percebi que aquilo não era para mim. Fui para o Jiu Jitsu, onde competi muto e ganhei muitas coisas, graças a Deus. Competi muito e levou-me muito longe. Viajei muito e é um desporto que amo de paixão. Entretanto, estava numa fase menos boa da minha vida e decidi parar o Jiu Jitsu e convidar os meus treinadores da altura, Rafael Pinto e José Pinto, para abrirem um estúdio comigo onde teríamos boxe também. Para sair da minha zona de conforto, decidi experimentar uma coisa nova que anos antes não tinha gostado. Regressei ao boxe, já depois de praticar judo. Fui treinando e, como sempre, tive uma entrega muito grande ao desporto, com todo o empenho.

Preparação para o combate é sempre intensa

Preparação para o combate é sempre intensa

Já (re)focado no boxe, nada como ser comparado a um nome eterno da modalidade: "Tive um crescimento muito grande devido ao estilo e pormenores que tinha, por serem semelhantes ao Mike Tyson. Isso deu-me mais ganas de evoluir e comecei a dedicar-me ao boxe a 100 por cento. Foi um grande salto e hoje em dia vejo-me dividido entre as paixões pelo Boxe e pelo Jiu Jitsu. No início não sabia levar na cara mas agora, com toda a rotina de treinos, estou numa fase de evolução positiva."

O foco está no WBA, mas há muito mais para conquistar: "Sim, o meu foco está na WBA, WBC e WBO. São os meus focos, mas o mais relevante é o WBA. Podemos ter boas notícias logo no arranque de 2024. Quanto a um título como este... é uma dimensão enorme. Acho que em Portugal as pessoas infelizmente não têm a noção da importância que estes cintos têm. Os portugueses não ligam muito ao boxe profissional, porque preferem Futebol e Fórmula 1. Este cinto é uma espécie de Champions ou Liga Europa. E um titulo da WBA já é algo muito importante e de relevo mundial. Vamos estar lá."

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