"Olho por olho, dente por dente". Kremlin deixa ameaça caso fundos russos sejam desviados para Kiev

8 meses atrás 130

Dmitry Peskov, principal porta-voz de Putin, já acenou com uma resposta de Moscovo na mesma dimensão em relação a bens ocidentais em jurisdição russa.

“Sérias consequências” foi a expressão utilizada por Dmitry Peskov. Consequências que poderão consistir na adoção por Moscovo de medidas na mesma linha do que está a ser aventado no Ocidente, mas que poderão também passar pelo rompimento de relações diplomáticas.

A ideia que vem sendo falada nos bastidores da guerra da Ucrânia ganhou contornos na reunião que juntou em Washington as lideranças mundiais do universo financeiro em abril deste ano. “É necessário trabalhar em mecanismos concretos para usar ativos russos congelados para compensar os danos causados pela Rússia” na Ucrânia, declarava Zelensky, que argumentava “será um ato de pacificação à escala global, com potenciais agressores a olhar para essa decisão e lembrar-se que o mundo pode ser forte”.

A ideia esteve de molho todos estes meses. Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, já havia dito em 2022 que este tipo de apreensão “não era uma coisa legalmente permitida nos Estados Unidos” sem um ato do Congresso.

O presidente Joe Biden concordou com Yellen na altura, mas agora poderá estar mais disposto a abrir a porta à criação de um fundo de reconstrução para a Ucrânia constituído com as carteiras russas no estrangeiro.

O montante é atirado para o patamar dos 300 mil milhões de dólares, uma contribuição que seria um início promissor para a ajuda de muitos milhões que se estimam necessários para reerguer a Ucrânia destruída pelos ataques russo desde fevereiro de 2022.

A contrapartida para a ativação deste mecanismo de ajuda a Kiev seria contudo pesado, de acordo com Peskov: se a Administração Biden e os líderes europeus estão a planear um confisco de ativos do banco central russo a ordem dos 300 mil milhões, deverão “perceber que a Rússia não permitirá que os envolvidos voltem a ter sossego”.

Apesar dos avisos do Kremlin, diz o jornal The New York Times, a Administração Biden já iniciou contactos com os membros do G7 para desenhar uma fórmula que permita a apreensão desses fundos e perceber se, além da reconstrução do país, poderiam ser também usados para alimentar a arma de guerra ucraniana.

Trata-se aqui da procura de uma compensação para o falhanço americano depois de a Administração ter enfrentado a resistência republicana para libertar centenas de milhares de milhões de dólares que deveriam alimentar o esforço de guerra de Kiev numa altura crítica em que no horizonte se atravessa o Inverno ucraniano depois do fiasco total da famigerada contraofensiva ucraniana.

“A apreensão ilegítima dos nossos bens continua na agenda tanto na Europa como na América", disse o porta-voz de Putin, referindo-se aos planos para uma potencial apreensão até fevereiro, quando se completam dois anos da invasão da Rússia.

“Esta questão é inaceitável para nós e potencialmente de um perigoso extremo para o sistema financeiro global (…) Tanto europeus quanto americanos estão perfeitamente cientes das consequências legais que terão esses planos [de apreender ativos russos no exterior]", sublinhou Peskov, para deixar a ameaça: “Se alguém confiscar alguma coisa nossa, veremos o que podemos confiscar em troca. E se algo for encontrado, fá-lo-emos imediatamente. Portanto, são passos que não podem deixar de ter consequências graves”.

Na sexta-feira o presidente Biden assinou uma decisão executiva que coloca na lista negra bancos e outras instituições financeiras que apoiam as indústrias de armamento russas. Trata-se de um esforço para privar a sua máquina de guerra de componentes-chave, como sejam os semicondutores.

Ler artigo completo