ONG alertam para mortes sistemáticas de trabalhadores em Gaza por Israel

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Através de um conjunto de depoimentos por via virtual, seis ONG mantiveram hoje um encontro com diversos `media` internacionais também para revelar as crescentes dificuldades no terreno, numa situação que consideram inédita.

O ataque aéreo à equipa da WCK ocorreu na passada segunda-feira em Gaza, e registou maior impacto mediático pelo facto de seis das vítimas terem nacionalidade estrangeira.

"Suscitou revolta, mas sejamos claros, foi trágico mas não é uma anormalidade. A morte de trabalhadores humanitários em Gaza tem sido sistemática, até ao momento mais de 200 pessoas. O que aconteceu esta semana foi que se tratavam de trabalhadores humanitários internacionais e não de palestinianos", disse Scott Paul, da ONG Oxfam International.

"Existe um falhanço coletivo da nossa parte. Quando mais de 200 trabalhadores humanitários são mortos, não são apenas eles, família e amigos que sofrem, é toda uma comunidade envolvida nesta área empenhada no envio de ajuda para Gaza. Existem 26 colegas da Oxfam em Gaza, e todas as manhãs acordo na esperança de que estejam bem", adiantou.

O responsável desta ONG, que junta 19 organizações e congrega milhares de parceiros, assegura que são enviadas diariamente às autoridades israelitas todas as coordenadas, onde se encontram e para onde pretendem seguir.

"Mas no último ano concluímos que não existe qualquer garantia de segurança porque ninguém está seguro na Faixa de Gaza", diz, antes de recordar que diversas organizações humanitárias norte-americanas emitiram um apelo ao embargo ao envio de armas dos EUA para Israel.

"Porque é impossível ter em simultâneo uma política de armamento e uma política humanitária. É urgente um cessar-fogo duradouro para atender às necessidades da população", frisou.

Tanya Haj-Hassan, que fez parte da equipa que recentemente terminou o serviço de duas semanas no Hospital Al-Aqsa, em Gaza, partilhou por sua vez situações limite, e que considerava impensáveis.

"Disparos diretos de atiradores israelitas à cabeça das crianças, a idosos. Difícil racionalizar... Raptos e espancamentos de trabalhadores humanitários. Níveis de tortura que desafiam tudo o que escutei até agora, abusos físicos, psicológicos, sexuais, ameaças de morte e de violação das suas famílias...", indica.

E ainda, no terreno, toda a espécie de ferimentos, de traumas, que abrangem toda a família, de pessoas desmembradas, de mortes por exaustão, testemunhos avassaladores revelados por esta médica.

Mais adiante, em resposta à pergunta de um jornalista, precisará que hoje, na Faixa de Gaza, toda a população é um alvo, e não em particular as crianças.

"50% da população de Gaza são crianças, que são vulneráveis, o importante para proteger as crianças são a família, um abrigo, comida, água, educação, serviços básicos, e todos são um alvo nesta guerra. As crianças são um alvo desproporcional como consequência da sua vulnerabilidade. E que também mais sofrem com a fome. Se analisarmos os mortos e feridos nesta guerra, é uma guerra contra civis, porque geralmente as baixas são entre homens jovens, e não é esse o padrão a que assistimos nesta guerra".

As garantias de segurança no enclave cabem, na perspetiva de Bushra Kahalidi, também responsável da Oxfam, exclusivamente a Israel, como defendeu na sua intervenção.

"Israel também deve definir as prioridades. A forma de assegurar o funcionamento dos mecanismos de assistência (para reduzir o risco de `fogo amigo` e as consequências dos conflitos nas populações) não é da responsabilidade das ONG, não possuímos as ferramentas que assegurem o seu funcionamento", reconhece.

O "dever moral e o imperativo" de responder a uma "catástrofe humanitária sem precedentes" constitui um novo alerta de Scott Paul, e quando se sabe a ajuda existe, está disponível apesar de bloqueada, mas nunca será suficiente. Uma situação agravada pela suspensão temporária das atividades humanitária após o ataque a coluna da WCK.

"Sublinhe-se o dever que temos com o nosso pessoal em risco de vida... Todos os dias temos de necessidade de decidir uma operação, sem as necessárias condições de segurança. Em particular no norte de Gaza, quando nos referimos a situações em que a vida dos trabalhadores humanitários estão em risco. É antes necessária intervenção médica, recursos humanos, e uma assistência humanitária consistente, incluindo medicamentos. Tal requer um ambiente operacional longe de existir neste momento", adiantou.

Bushra Kahalidi esboçou ainda uma perspetiva para o futuro da Faixa de Gaza. Recordou a necessidade de desminagem, das bombas por explodir, da habitabilidade devido à extensão dos danos, com dezenas de milhares de instalações destruídas e os hospitais tornado em campos de batalha.

"Os danos são enormes. De momento, tentamos obter alimentos e água, abrigos, não discutimos dos esforços de reconstrução. Desejava que assim fosse mas estamos muito longe disso", afirmou.

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