ONU alerta para o agravamento da escassez de água e do stress hídrico a nível mundial

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O rio Amazonas enfrenta uma "situação crítica de escassez de água" devido à seca histórica que afeta o Brasil. Setembro 2024 Michael Dantas - AFP

O novo relatório da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) sobre o estado dos recursos hídricos, publicado esta segunda-feira, 7 de outubro, alerta para as consequências das alterações climáticas no ciclo hidrológico a nível mundial. Em 2023, os rios registaram níveis de seca que não se viam há mais de trinta anos e os glaciares sofreram o pior degelo em cinquenta anos de observação.

"Os sinais de alerta multiplicam-se". A afirmação é da Celeste Saulo, secretária-Geral da organização da ONU para a Meteorolgia OMM, que manifestou hoje a sua preocupação numa conferência de imprensa. "Estamos a assistir a um agravamento das precipitações extremas, das inundações e das secas (...) Estamos perante situações cada vez mais difíceis, em que a água ou é demasiado abundante ou demasiado escassa", constatou. "No contexto das alterações climáticas, a água dá-nos uma amostra das mudanças que estão para vir", alertou. No entanto, "não estamos a tomar as medidas urgentes que são necessárias".

Os rios atingiram maior "nível de seca" dos últimos 33 anos

Nos últimos meses, vários países têm assistido a fenómenos hidrológicos extremos relacionados com inundações, por exemplo, a tempestade Boris na Europa Central, o tufão Yagi no Sudeste Asiático ou ainda o furacão Helene nos EUA. Sabe-se atualmente que quanto mais quente o planeta ficar, maior será o risco de chuvas mais intensas.

A Organização Mundial de Meteorologia alerta para as consequências do aumento das temperaturas: o agravamento das secas e da escassez de água. Cerca de 3,6 mil milhões de pessoas "não têm acesso suficiente à água durante pelo menos um mês por ano", explica a OMM. De acordo com a organização onusiana UN-Water, este número poderá aumentar para mais de cinco mil milhões em 2050.

De acordo com o relatório, os rios de todo o mundo atingiram em 2023 - o ano mais quente de que há registo - um nível de seca sem precedentes "o mais baixo dos últimos trinta e três anos", anunciando quebras preocupantes nos recursos hídricos disponíveis para as pessoas, a agricultura e os ecossistemas.

"O sul dos Estados Unidos, a América Central, a Argentina, o Uruguai, o Peru e o Brasil foram atingidos por uma seca generalizada, que provocou uma perda de três por cento do produto interno bruto na Argentina e os níveis de água mais baixos jamais registados no Amazonas e no lago Titicaca", aponta a organização. 


O famoso rio Amazonas, no norte do Brasil, enfrenta atualmente uma "situação crítica de escassez de água" devido à seca histórica que afeta o país, registando atualmente descidas de 80 a 90 por cento do seu caudal em alguns locais.

Os glaciares sofreram a maior perda de massa dos últimos 50 anos

Nas últimas cinco décadas, os glaciares sofreram a maior perda de massa jamais registada. De acordo com dados preliminares do relatório da Organização Mundial de Meteorologia, relativos ao período de setembro de 2022 a agosto de 2023, os glaciares perderam em dois anos consecutivos mais de 600 gigatoneladas de água, a maior perda alguma vez observada.

"O degelo e os glaciares ameaçam a segurança hídrica a longo prazo de muitos milhões de pessoas", avisou a secretária-Geral da OMM.  O degelo extremo verificou-se sobretudo na América do Norte e nos Alpes europeus, em particular nos alpes suíços onde os glaciares sofreram uma perda de cerca de dez por cento do seu volumen nos últimos dois anos.

O relatório da OMM da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) apresentado esta segunda-feira, na sede da organização em Genebra, visa "promover uma melhor monitorização, partilha de dados, colaboração transfronteiriça e medidas para avaliar a situação”, explicou Celeste Saulo. "Precisamos de agir com urgência", instou.
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