OPINIÃO | A ressurreição

1 mes atrás 39

"O sítio dos Gverreiros” é uma coluna de opinião de assuntos relativos ao SC Braga, na perspetiva de um olhar de adepto braguista, com o sentido crítico necessário, em busca de uma verdade externa ao sistema.

As mudanças fazem parte da vida, em qualquer situação e diz o povo, por vezes com razão, que “quem muda, Deus ajuda”. Quando escrevi o último artigo, há uma semana, estava longe de imaginar que tanta coisa iria mudar de forma tão repentina em Braga, como veio realmente a acontecer.

Os sinais dados desde a pré-época pelos bracarenses não eram nada animadores e o início das competições oficiais não alterou essa visão desconfiante das coisas, vinda de fora do grupo. A situação adensou-se quando o SC Braga recebeu o Servette e empatou sem golos, realizando uma primeira parte a roçar o miserável, o que levou a Legião do Minho a uma apreensão geral, que deu mote ao último artigo que escrevi neste espaço. Seguiu-se novo empate caseiro, frente ao Estrela da Amadora na estreia brácara na liga portuguesa. Os sinais negativos pareciam aumentar a cada dia que passava e em Braga morava uma equipa que em vez de ser uma orquestra mais parecia uma banda de música sem maestro, onde cada jogador sabia tocar um instrumento, mas não existia qualquer articulação com os restantes colegas de equipa, o que não augurava nada de bom.

Ora, o contexto acima resumido, aliado a eventuais divergências entre a estrutura diretiva e a equipa técnica, levou à demissão do anterior treinador e toda a equipa técnica, imediatamente a seguir à receção à equipa amadorense, que surpreendeu toda a gente e levou a posições divergentes entre os adeptos, ficando de um lado os que consideravam que a mudar tinha de ser o mais cedo possível e, do outro lado, aqueles que consideravam como precipitada e extemporânea tal decisão. O risco de mudança era muito grande, por acontecer a meio de uma eliminatória europeia que definia, quase pela certa, estar ou não a competir na Europa, onde o SC Braga costuma ter uma montra para valorização dos seus ativos. O jogo na Suíça tinha de corrigir o que de mal tinha sido feito em Braga e garantir a continuidade na prova, uma vez que uma eliminação deixava pela frente o Chelsea no caminho de queda para a Liga Conferência, que abria parcas perspetivas de sucesso nesse eventual percurso.

António Salvador não se fez rogado e rapidamente tratou da substituição de Daniel Sousa por Carlos Carvalhal, que assim regressava a Braga pela terceira vez enquanto técnico. O próprio treinador, cujo sentimento braguista não lhe dava grande margem para recusar a proposta, referiu que se deitara cedo e que acordara com uma mensagem presidencial que o encaminhava para o regresso a um banco que tão bem conhece, tomando a decisão em escassos dois ou três minutos, segundo as declarações do próprio. Rei morto, rei posto e começava, assim, um novo reinado de Carlos Carvalhal, que se deseja repleto de felicidade e de sucessos, sem medo de assumir a vontade de ganhar seja onde for. Em Braga as condições oferecidas são de nível muito elevado, mas as ambições e as exigências também acompanham esse patamar alto, como é natural.

O sucesso na eliminatória europeia, frente a uns suíços que revelaram mais buracos no seu queijo do que se previa depois da primeira mão, foi um alívio geral para os adeptos, para a equipa, para Carlos Carvalhal e, sobretudo, para António Salvador que teve uma decisão muito corajosa ao promover a alteração no comando técnico neste difícil contexto. O triunfo, desejado por todos, ficou assente em dois golos espetaculares pela envolvência do coletivo, concretizados por El Ouazzani e Roberto Fernández, mostrando que o futebol faz mais sentido quando é aplicado com base no conjunto e não apenas a nível individual, apesar de depois se destacarem, de modo natural, algumas individualidades. Estava consumada a ressurreição da equipa brácara, após alguns dias em que parecia defunta. A nota negativa deste encontro em terras helvéticas vai inteira para a lesão de João Moutinho, cujo desempenho e postura em campo mereciam que ele nunca se lesionasse.

A entrada de Carlos Carvalhal promoveu os regressos de Eduardo e Orlando à equipa técnica. Foi bom ver de volta estes dois rostos, cujo sentimento pelo clube é bem evidente.

Uma nota final para o braguismo que se observou nas bancadas, com importância acrescida no desempenho do arsenalista, uma vez que os jogadores não ficam indiferentes aos sinais positivos que as bancadas transmitiram. Faço votos para que o apoio e a união em torno da equipa se tornem regulares, nesta fase em que o novo técnico deve privilegiar os resultados em detrimento da evolução acelerada dos processos.

Boa sorte, míster. É preciso fazer evoluir esta equipa e isso vai custar muitas horas de sono a menos.

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