OPINIÃO |As vitórias dos grandes e um Vitória em grande

4 dias atrás 34

Este espaço, do jornalista Carlos Daniel, pretende ser de abordagem e reflexão sobre o futebol no que o jogo tem de melhor. Quinzenalmente, uma equipa será objeto de análise, com notas concretas que acrescentam atualidade.

No Benfica confirma-se o óbvio: era mesmo muito fácil fazer melhor. O futebol
não é tão simples como tantas vezes se apregoa, mas há coisas que não
mudam: a missão fundamental de um treinador é escolher os melhores
jogadores e colocá-los nas posições mais cómodas. Roger Schmidt já nem isso
fazia há muito. O incrível foi ninguém em redor do alemão o ter percebido mais
cedo. A tarefa de Bruno Lage está longe de ser simples, que o atraso em
processo de treino/jogo é ainda maior que o que tem de pontos na tabela, mas
o primeiro olhar não engana. E alguns reforços também não

A pré-época do Benfica foi estranhamente atribulada, quase caótica, mas nem
tudo foram erros. Akturkoglu e Amdouni são duas ótimas aquisições de última
hora e acrescentam claramente a um plantel onde faltavam, precisamente, um
extremo para desequilibrar e um avançado móvel. Recuar Kokçu para
organizar – e parece-me o único do plantel com essas características (não,
nem Aursnes nem Renato o fazem por natureza) faz com que Lage vá ter dois
excelentes reforços turcos. Um já lá estava

O primeiro impacto de Samu Omorodion no Dragão não podia ser melhor. O
robusto espanhol tem o perfil que empolga bancadas e os primeiros sinais
confirmam as previsões de potencial impacto imediato: físico para os duelos,
ameaça permanente de ataque à profundidade e instinto de finalizador (embora
possa crescer claramente nesse aspeto). É o avançado que o FC Porto não
tinha. Pode não vir ser um Gyokeres - o futuro o dirá – mas já é mais que um
Marega

O Sporting está avassalador, projeto claramente otimizado de Amorim ao
quinto ano, mas vai ser testado – também na Europa – em relação às posições
menos garantidas no plantel: guarda-redes e médio-centro. Se Kovacevic ainda
não tinha entusiasmado, Israel ainda não se tinha afirmado. É uma nova
oportunidade para o uruguaio, a atingir a maturidade, provar que o lugar pode
ser dele. Os dois lugares a meio-campo são de Hjulmand e Morita, ninguém
duvida. Daniel Bragança, de perfil muito diferente, é hoje a única alternativa
óbvia, o que para uma época tão longa parece pouco. Claro que Pote pode
recuar, mas atento o rendimento de início de época, que sentido fará
desmontar o trio com Gyo e Trincão

Não há como não assinalar o excelente arranque do Vitória de Guimarães, já
difícil de atribuir a questões de calendário ou conjuntura, até porque começou a
competir bem cedo. O triunfo em Braga vale pelos pontos e pelo lado simbólico
de superar o rival, mas, mais que o resultado, fica a personalidade
demonstrada. O Vitória foi a um dos terrenos mais difíceis (e hostis) reivindicar
protagonismo e assumir domínio em muitos momentos. É verdade que poucas
equipas terão, para construir e gerir jogo, de homens com a qualidade Handel,
Tiago Silva, Nuno Santos, João Mendes e Kaio César (mais Samu e Telmo
Arcanjo no banco), mas menos ainda teriam um treinador capaz de os colocar
em campo em simultâneo. Esse é o maior e mais justo elogio que posso fazer
a Rui Borges: juntou coragem à competência. É a minha mistura preferida.

Ler artigo completo