Por Gonçalo Rebelo de Almeida, CEO, Vila Galé Hotéis
Depois dos dois anos mais desafiantes das nossas vidas com uma paragem quase total da actividade, onde muitos chegaram a anunciar que o Turismo nunca mais voltaria a ser o que era, em 2022 o sector recuperou o seu papel fundamental na economia nacional, superando as receitas registadas no período pré-pandémico.
O desejo e a vontade dos clientes de viajar fizeram com que maioria dos destinos turísticos mundiais recuperassem muito mais depressa do que o esperado e, no caso de Portugal, os pontos fortes demonstraram que o produto ainda mantém toda a sua atractividade e competitividade. As infra-estruturas, os recursos humanos, a gastronomia, o clima, o património e a cultura, as paisagens naturais e o profissionalismo do sector permitem afirmar que quando se tem um produto sólido, inovador e diferenciado, a capacidade de resiliência e probabilidade de sucesso aumentam substancialmente.
Não podemos desvalorizar todo o trabalho de comunicação criando conteúdos, eventos e mensagens atractivas, escolhendo públicos-alvo e a presença nos media e canais digitais, mas a solidez do produto é o que verdadeiramente tem garantido o sucesso da actividade turística.
É fundamental que as empresas e suas equipas operacionais e de Marketing, mantenham uma preocupação constante na inovação e diferenciação dos seus produtos core, evoluindo, criando, adaptando, mas mantendo sempre o foco nas necessidades e expectativas dos clientes.
Somos inundados de novas tendências e ferramentas, na sua grande maioria de base digital, como a inteligência artificial, blockchain, automação ou virtualização, e podemos facilmente cair no erro de concentrar os esforços a tentar acompanhar estas tendências e desvalorizar os investimentos no produto core. Se não tenho dúvidas que qualquer sector necessita de acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos de modo a obter ganhos de produtividade, de capacidade de análise, de comunicação, de interacção com os clientes, não podemos esquecer que em muitas indústrias a digitalização é um meio facilitador e, não, um fim em si mesmo. De nada adiantará procurar adoptar, apenas por questões de moda ou tendência, determinadas tecnologias quando o produto ou serviço essencial continua a apresentar falhas e oportunidades de melhoria.
No caso da generalidade dos produtos e serviços turísticos, as ferramentas digitais foram absolutamente transformadoras dos processos de comunicação, venda, organização e eficiência de processos, mas continua a ser a excelência dos meios físicos/ materiais e humanos que faz verdadeiramente a diferença na experiência final.
A escolha da localização, a simpatia das equipas, a qualidade da limpeza e dos equipamentos, os produtos alimentares e a sua confecção, a técnica das terapeutas de Spa, as boas práticas ambientais e sociais, continuam a ser os verdadeiros elementos essenciais de um hotel e sobre os quais temos que manter o principal esforço de melhoria contínua.
O ChatGPT é assustadoramente brilhante e transformador, mas não supera o prazer de umas boas férias!
Artigo publicado na revista Marketeer n.º 320 de Março de 2023