OPINIÃO | Diz-me quando entram...

1 mes atrás 38

“Joga Bonito” é uma coluna de opinião de um treinador-jornalista que acredita ser possível apresentar um futebol bem mais atractivo, apaixonante e entusiasmante do que aquele que se vê habitualmente em Portugal. E pasme-se, com o mesmo objectivo presente na cabeça de todos os treinadores, adeptos e restantes agentes desportivos nacionais: ganhar!

...e eu dir-te-ei que algo de errado não está certo. É a conclusão lógica a retirar do processo de substituição de um treinador no mais alto patamar do futebol nacional.

Todos sabemos que tempo é dinheiro, que o futebol gere e movimenta ainda mais dinheiro e que a melhor forma de não dar ênfase a um problema é apresentar imediatamente uma solução para o mesmo, no matter what

Tal como aqueles que defendem que a melhor maneira de esquecer um grande amor passa por arranjar um novo grande amor, também o futebol ao mais alto nível envereda por esse caminho. O que será sempre legítimo por parte de quem assim decide, claro está, mas ao mesmo tempo existem sempre pontas soltas e perguntas por responder.

Tozé Marreco chegou a Barcelos no final da época 2023-2024. Ajudou a assegurar a manutenção, manteve-se no comando técnico da equipa, iniciou a pré-época, mas a dois dias do início do campeonato decidiu sair do clube que lhe abriu as portas da Primeira Liga Portuguesa. Alegadamente insatisfeito com a forma como o plantel estava a ser reforçado, o jovem treinador português abandonou a equipa gilista, sem que, do lado do clube tenha havido qualquer tipo de intenção de o demover da sua decisão.

É certo que faltará saber como foi o defeso, que entraves e obstáculos surgiram ao longo do processo de construção do plantel, que guerras de poderes poderão ter estado na origem da saída do ex-timoneiro do Tondela, mas também é certo que passadas 24 horas já se sabia quem seria o seu sucessor.

Mais do que a escolha de Bruno Pinheiro, que fez um óptimo trabalho ao serviço do Estoril e tem uma ideia de jogo muito diferente da preconizada por Tozé Marreco (mais um clube a começar de acordo com um determinado rumo para depois seguir outro completamente distinto...eis a ideia de projecto futebolístico em Portugal...), é o timing de entrada que merece análise.

Menos de 24 horas depois da saída de um treinador, segue-se a contratação e a apresentação de outro. O que muitos classificarão como rapidez, preparação, antecipação e capacidade de solução, eu classifico como manobra de diversão (manobra que visa desviar a atenção de um determinado assunto). Sendo que o assunto verdadeiramente importante deveria ser o porquê de o clube não ter resolvido as eventuais divergências de opinião e visão estratégica com o seu treinador. O qual havia sido contratado poucos meses antes.

Se houve e havia divergências, porque razão não houve consenso? Por falta de diálogo? Por não se acreditar no suposto projecto futebolístico? Então e qual seria esse projecto (além de ganhar jogos e não descer de divisão)? Por não se acreditar no treinador que tinham escolhido para ser o rosto do projecto futebolístico? Então e porque razão o foram buscar antes do final da época passada? 

Há outras perguntas que deveriam ser feitas: há quanto tempo estavam a negociar com o novo treinador para o poderem apresentar em menos de 24 horas? Há quanto tempo estavam à espera que a “corda partisse” para o lado habitual? Durante esse período alguma vez procuraram sanar os eventuais conflitos? Alguma vez procuraram limar arestas e convergir nas ideias e na visão estratégica para o clube? 

O mesmo aplica-se no caso SC Braga/Daniel Sousa. Depois de uma contratação fechada nas vésperas de um Braga vs Arouca, que resultou numa derrota justa e limpa por 0-3 perante o seu futuro treinador, depois de uma pré-época em que nunca se vislumbraram problemas, um empate a zeros frente ao Servette e um empate a uma bola na jornada inaugural do campeonato ditaram o fim de uma relação que, de forma oficial, durou apenas quatro jogos oficiais.

Uma vez mais, em menos de 24 horas já se sabia quem seria o sucessor e o próximo treino já seria ministrado pelo novo timoneiro. Nada contra o regresso de Carlos Carvalhal, um dos treinadores mais interessantes do futebol português, mas o timing remete-nos para as mesmas questões. E a sua contratação, pela força do nome, pela ligação à cidade e ao clube, surge como nova manobra de diversão. 

Porque não mais irá interessar o porquê de um treinador escolhido de forma tão segura e veemente há três meses ser despedido ao fim de quatro jogos oficiais. Não mais irá ser escrutinada a decisão de despedir quem se contratou por suposta crença e convicção nas suas capacidades e nas suas qualidades. 

Em futebol, tal como na vida, as decisões têm de ser tomadas. E há decisões que carecem de tratamento urgente, há problemas que carecem de resolução urgente. Mas não sejamos ingénuos nem assobiemos para o lado. Os processos de substituição de Tozé Marreco e de Daniel Sousa não indiciam rapidez nem urgência, mas sim uma antecipação premeditada, clara e objectiva. O que diz muito mais de quem decidiu do que de quem saiu...

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