OPINIÃO | Obrigado

5 meses atrás 49

"A Preto e Branco” é uma coluna de opinião que procurará reflectir sobre o futebol português em todas as suas vertentes, de uma forma frontal e sem tibiezas nem equívocos, traduzindo o pensamento em liberdade do seu autor sobre todas as questões que se proponha abordar.

Agora que está de partida, é tempo de dizer obrigado a Álvaro Pacheco.

Chegou ao Vitória em outubro de 2023, ia o campeonato na oitava jornada e o clube no quarto treinador, incluindo-o a ele.

E ao chegar, encontra um plantel "ferido".

Ferido por uma eliminação inesperada face ao Celje na Liga das Conferências.

Ferido pela partida inesperada de Moreno, pela interinidade de João Aroso e pela nunca explicada, nem compreendida, contratação de Paulo Turra.

Ferido por uma pré-temporada em que tinham partido André Amaro, Ibrahima Bamba, Anderson Silva, Matous Trmal, Nicolas Janvier e Rúben Lameiras, entre outros menos utilizados.

Chegou e não se queixou.

Pelo contrário. Chegou, viu e venceu...em Famalicão por 3-1 e a forma exuberante como festejou com os seus jogadores mostrou logo que se tinha dado um virar de página no grupo e na motivação com que este estava nas competições.

A partir daí a história é conhecida.

Uniu o plantel, transmitiu-lhe doses industriais de motivação, ganhou o respeito e a admiração de jogadores e adeptos, e o Vitória arrancou (mais vale tarde que nunca) para uma época que não se supunha estar ao seu alcance por tudo que até então se tinha visto.

Os resultados falam por ele.

E considerando que ficar em quinto lugar não é nenhum sucesso, mas apenas o mínimo obrigatório para um clube como o Vitória, há que reconhecer que este quinto lugar, que até podia ter sido mais, mas já lá irei, traduz um grande trabalho da equipa técnica que, com um plantel apenas razoável e tendo dado várias jornadas de avanço à concorrência (a que vem atrás e a que ficou à frente), conseguiu numa permanente superação lutar por um impensável terceiro lugar até três jornadas do fim.

Bem como atingir as meias-finais da Taça de Portugal.

Notável.

Mas muito mais notável, ainda, se nos lembrarmos que com a equipa em plena carburação e numa trajetória de resultados positivos, inclusive vencendo o Sporting (foi a última equipa a fazê-lo neste campeonato, além do Benfica), se chegou à famigerada reabertura do mercado em janeiro.

E aí o que aconteceu?

Refresquemos a memória.

Por valores absolutamente ridículos, mas esse não é problema do treinador, a SAD vendeu André Silva, Safira, Dani Silva, e emprestou Nélson da Luz.

O melhor marcador da equipa que estava em grande momento de forma (e foi vendido em fevereiro, com o mercado nacional já fechado). Um avançado que era muitas vezes opção e fazia golos, um jovem e talentoso médio que era sempre opção como titular ou das primeiras opções a sair do banco e um extremo criativo e que provocava desequilíbrios.

Quatro jogadores muito importantes no plantel. Três avançados e um médio "todo terreno".

Para os seus lugares, vieram Nélson Oliveira, um jogador de créditos firmados, mas que demorou a render, e um jovem e prometedor extremo chamado Kaio César que, aos 19 anos, ainda tem muito que aprender e evoluir.

Apenas e só!

Álvaro Pacheco não se queixou.

Continuou a trabalhar, a motivar os seus jogadores, a conseguir resultado... Embora severamente limitado nas opções, o que se foi notando nas exibições da equipa e na dificuldade em ultrapassar alguns adversários.

Ao ponto de que se pode pensar, e eu penso isso sem qualquer dúvida, que sem esse rombo no plantel, e face ao percurso que vinha fazendo o Vitória, teria todas as possibilidades de alcançar o tal impensável terceiro lugar.

Até se chegar à semana anterior ao jogo com o Boavista, em que tudo que parecia (parecia...) correr sobre rodas, descarrilou.

Foi o caso de indisciplina de Tiago Silva e o comunicado da SAD a desmentir o que era verdade, com a consequente desautorização do treinador, foram os episódios do jantar com o Cuiabá e com a SAD a mandar recados para os jornais a dizer que desconhecia, e o treinador a afirmar que tinha informado o presidente (o que este hoje na conferência de imprensa acabou por confirmar...), e foi o desenlace de hoje com o treinador a abandonar o clube rescindindo o contrato.

Ouvi com toda a atenção a conferência de imprensa do presidente do Vitória transmitindo a sua versão dos acontecimentos.

Só poderei ter uma opinião definitiva sobre este assunto quando ouvir a versão de Álvaro Pacheco.

E creio que ele tem esse dever, o de contar a sua verdade, porque os adeptos, que sempre o apoiaram e até idolatraram, têm direito a saber o que lhe vai na alma e por que razão quis sair do Vitória antes do final do contrato, quando sempre afirmara que para ele estar no clube era o cumprir de um sonho e parecia totalmente integrado e identificado com a nossa realidade.

Independentemente disso, e como vitoriano, agradeço-lhe o que fez no Vitória e pelo Vitória.

Não concordei sempre com as suas opções, fosse o "onze inicial, fosse uma ou outra estratégia de jogo, fossem as substituições que fez, que não fez ou o timing em que as fez.

Às vezes, esquecendo-me um pouco das tais limitações em termos de plantel provocadas pela razia de Janeiro.

Todos nós que gostamos de futebol temos as nossas opiniões e somos um bocadinho treinadores de bancada mas, para lá disso, há que reconhecer que, com este plantel e apesar desta SAD, fez um grande trabalho. E se não foi mais além em termos classificativos (e talvez na Taça de Portugal, isso é da exclusiva responsabilidade de quem lhe amputou o grupo numa altura crucial da época e depois não soube evitar os problemas vários que levaram à sua saída e que, ao dia de hoje, não serão ainda conhecidos na sua totalidade porque falta a versão do treinador.

Mas seja como for, e venha a haver ou não versão dele, nada invalida que se possa considerar que, graças ao treinador e respetiva equipa técnica, e aos jogadores, o Vitória tenha feito uma época bem melhor do que a esperada, depois da forma como começou e se processou até à sua chegada.

E, por isso, muito obrigado Álvaro Pacheco!

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