“Oriente-Ocidente: a origem dos jogos tradicionais”, o universo lúdico e intimista de Concha Orey

9 meses atrás 82

Inaugura hoje, pelas 18h30, no Museu do Oriente, em Lisboa, a exposição “Oriente-Ocidente: a origem dos jogos tradicionais”, da escultora Concha Orey, inspirada na troca de conhecimento lúdico entre povos.

A nova exposição temporária do Museu do Oriente, em Lisboa, transporta o visitante para um universo lúdico, habitado por personagens que a artista criou partindo do “tema central dos jogos e brincadeiras das nossas infâncias”. Mas antes de entrarmos nesse universo, que poderá conhecer a partir de hoje, 14 de dezembro, importa perguntar quando e por que razão o ser humano procura o jogo, uma vez que este é visto naturalmente como um meio de ação. A interrogação não é de hoje, nem de ontem, mas pede uma resposta.

O escritor António Pedro dissertou sobre isso. “Tudo na vida psicológica se orienta para a acção, e esta tende sempre à conservação do organismo e à satisfação das necessidades fundamentais. […] Assegurada a conservação do organismo, tende a sair de si próprio e faz por alargar, mediante a acção, o conhecimento e o amor, a sua vida psicológica. A forma elementar desta actividade desinteressada é o jogo”.

Digamos que os humanos se dirigem desinteressadamente, quase instintivamente, para a prática dos jogos, procurando aqueles onde sente prazer e que estão mais de acordo com as suas possibilidades. Muitas vezes, procura superar-se, fazendo do jogo um estímulo para o aperfeiçoamento. Isto sem esquecer o caráter lúdico e criativo que os jogos também permitem.

E se há manifestações culturais que ganham a forma de jogos, amiúde distintos nas diversas geografias, outros há que são comuns, independentemente da distância física que os separa. Em “Oriente-Ocidente: a origem dos jogos tradicionais”, a escultora Concha Orey tentou “encontrar um ponto comum entre o Ocidente e o Oriente” e o seu trabalho, essencialmente feito das “vivências e afetos, focando no dia a dia do ser humano, com mais incidência na criança e a sua relação de afeto com a família”.

Foi esse o ponto de partida para as pesquisas que fez, “olhando para o trabalho já começado, sobre os jogos das nossas infâncias”. E a conclusão a que chegou foi surpreendente. “Quase todos os jogos que nós e os nossos filhos brincaram, são de origem oriental”.

Concha Orey discorre sobre o facto de ter havido “uma parte essencial nas trocas comerciais durante os descobrimentos e anos seguintes”, muito para além das especiarias e outros produtos então comerciados, referindo-se à vertente social e “de troca de conhecimento lúdico entre povos”. No Oriente” já se brincava e se socializava de formas que desconhecíamos. Trouxemos as mesmas e as nossas cortes e tropas aproveitaram e eram os tempos de prazer, exercício e jogo”, refere.

Na exposição “Oriente-Ocidente: a origem dos jogos tradicionais”, com curadoria do Engº Matos e Silva, a escultora explora os jogos comuns, com origem e história oriental, bem como os jogos de estratégia. “Na Índia já se jogava chaturanga, que deu origem aos nossos jogos de tabuleiro. Os jogos de estratégia foram depois desenvolvidos na China e até hoje são jogados nas escolas”, esclarece Concha Orey.

“Perguntaram-me uma vez: ‘você teve uma infância muito feliz, não teve? O seu trabalho transmite uma infância extraordinária’. Fiquei surpreendida com a pergunta e olhei para trás agradecendo aos meus pais e família. Que bom poder dar um bocadinho desta infância a olhar ao mundo”, partilha a escultora. Pretexto, também, para pensar numa narrativa que possa servir de fio condutor a visitas de escolas, numa abordagem que tem tanto de lúdico como de pedagógico.

“Criei como que uma história para que as escolas pudessem usufruir de forma engraçada, e os miúdos percebessem também um bocadinho das suas brincadeiras e do que as envolve. Por outro lado, procurei que os adultos e idosos revivessem os seus tempos da infância. E tentei abranger todas as faixas etárias desta forma, tornar interessante e útil para o projeto educativo e dar material de trabalho para as escolas e educadores que queiram visitar”, explica a artista.

A exposição “Oriente-Ocidente: a origem dos jogos tradicionais” pode ser vista no Museu do Oriente, em Lisboa, até 25 de fevereiro.

Ler artigo completo